
Analisando nossas perdas!
Um passo precipitado nessa dança pode parecer simples, embora muitas vezes não venha tão facilmente: somos chamados a sofrer nossas perdas. Parece paradoxal, mas cura e dança começam com uma visão honesta daquilo que nos causa dor. Enfrentamos perdas secretas que nos paralisaram e nos mantiveram
prisioneiros de rejeição, vergonha ou culpa. Não alimentamos a ilusão de que podemos ludibriar nosso caminho por entre dificuldades.
Ao tentar esconder dos olhos de Deus e de nossa própria consciência partes de nossa história, tornamo-nos juízes de nosso passado. Limitamos a misericórdia de Deus aos nossos medos humanos. Os esforços que fazemos para nos desconectar de nossos sofrimentos terminam por desconectar nosso sofrimento
do sofrimento de Deus por nós.
Quando Jesus disse: “… pois não vim chamar justos, e sim pecadores” (Mateus 9:13), estava afirmando que só aqueles que são capazes de enfrentar sua situação de dor estarão aptos para a cura e para a entrada em uma nova maneira de viver.
Algumas vezes temos que nos perguntar quais são nossas perdas. Ao fazer assim, vamos lembrar quão real é a experiência de perda. Talvez você saiba o que é perder um dos pais. Quanto me lembro da dor sentida após a enfermidade que levou minha mãe à morte! Podemos presenciar a morte de uma criança ou de um amigo. E também perdemos pessoas, às vezes dolorosamente,por causa de desentendimentos, conflitos ou raiva. Posso ficar esperando a visita de um amigo que não vem.
Podemos ver esperanças estremecerem por causa de uma enfermidade que nos acomete, ou sonhos se desvanecerem quando alguém em quem confiamos nos trai. Um membro da família pode deixar o lar com muita raiva, e ficamos nos perguntando em que falhamos. Muitas vezes, nosso sentido de perda
é maior ainda. Leio o jornal de hoje e encontro notícias ainda piores do que as de ontem. Nossa alma geme de tristeza diante da pobreza ou da destruição da beleza natural de nosso mundo. E perdemos o sentido da vida, não só porque nosso coração fica cansado, mas também porque alguém ridiculariza nossa maneira de pensar e orar. Nossas convicções, então, parecem de repente
fora de moda, desnecessárias. Até a nossa fé parece vacilar. Essas
são decepções potencialmente presentes em qualquer vida. Ocupações constantes, por exemplo, tornam-se um modo de fuga daquilo que, em outras circunstâncias, seria confrontador. O mundo em que vivemos jaz no poder do maligno, e o maligno prefere distrair-nos e preencher cada tempo livre com muitas tarefas, encontros, negócios, produção de objetos. Ele não permiteque haja espaço para uma dor genuína, para um choro. Nossa excessiva ocupação transforma-se em maldição, mesmo quando
achamos que ela fornece alívio para a dor que levamos dentro de nós. Nossa vida ultracarregada só serve para nos
impedir de enfrentar a inevitável dificuldade que todos, em algum momento, teremos. Enfrentar nossas perdas também significa desafiar a tentação de pensar que o mundo tem a obrigação de suprir nossas
necessidades. Até nossos hábitos do dia-a-dia levam-nos a disfarçar nossos sentimentos, e a comunicar-nos polidamente,mas sem sinceridade, evitando, assim, um confronto honesto e
curador. Amizades tornam-se superficiais e temporárias.
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