sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A saga dos Irmãos Morávios



Os irmãos morávios e a igreja valdense são os únicos grupos protestantes atuais cujas raízes mais remotas são anteriores à Reforma do século 16. Os valdenses tiveram suas origens em um movimento reformista iniciado por volta de 1175 por Valdès, um comerciante de Lião, no sul da França. Expulsos da Igreja Católica em 1184, seus simpatizantes enfrentaram heroicamente séculos de perseguição, abraçando eventualmente a Reforma Protestante. Refugiaram-se principalmente nos vales alpinos do norte da Itália, na região conhecida como Piemonte, a sudoeste de Turim. Os irmãos morávios, por sua vez, têm uma história ainda mais complexa, mas não menos inspiradora, cujos primórdios remontam à Inglaterra do final do século 14.

De João Wyclif a João Hus
John Wyclif (c.1325-1384) nasceu em Yorkshire, estudou na Universidade de Oxford e abraçou o sacerdócio. Na década de 1360, adquiriu grande reputação em Oxford e outros centros intelectuais como brilhante professor e escritor de filosofia. Posteriormente, tornou-se conselheiro teológico do rei e prestou serviços à coroa inglesa. Defendeu a teoria de que o poder civil tinha o direito de se apoderar das propriedades do clero corrupto. Suas opiniões foram condenadas pelo papa em 1377, mas ele teve o apoio de pessoas influentes e do povo. Após o Grande Cisma (1378), com a existência simultânea de dois papas rivais, suas idéias tornaram-se mais radicais e ele acabou por rejeitar toda a estrutura tradicional da igreja medieval. Em uma série de tratados teológicos, afirmou a autoridade suprema das Escrituras, definiu a igreja verdadeira como o conjunto dos eleitos, e questionou o papado e a transubstanciação. Além disso, incentivou a primeira tradução da Bíblia completa para a língua inglesa (1384).

Eventualmente, Wyclif perdeu o apoio da nobreza e de muitos simpatizantes, mas viveu em paz os seus últimos anos, vindo a falecer em sua paróquia, Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384. Seus seguidores, conhecidos como lolardos, foram duramente reprimidos nas décadas seguintes. Ensinavam que a missão principal de um sacerdote era pregar as Escrituras e que a Bíblia dever ser acessível a todos nas várias línguas vulgares. Essas idéias contribuiriam para a ampla aceitação da Reforma Protestante pelos ingleses no século 16.

No século 14, a Boêmia (Tchecoslováquia) fazia parte do Sacro Império Germânico. Politicamente, o país estava dividido por conflitos entre os tchecos e a comunidade imigrante alemã, mais poderosa. Em 1382, a Boêmia, até então pouco ligada à Inglaterra, aproximou-se deste país por meio do casamento de uma princesa tcheca com o rei Ricardo II. Jovens tchecos passaram a estudar em Oxford e conheceram as doutrinas de Wyclif, que logo levaram para a sua terra, especialmente para a Universidade de Praga (fundada em 1348). Entre os professores que abraçaram muitas idéias de Wyclif estava o ardoroso Jan Hus (c. 1373-1415).

Hus nasceu na vila de Husinec, estudou na Universidade de Praga e foi ordenado sacerdote em 1400. Pouco antes da ordenação teve uma experiência de conversão pelo estudo da Bíblia e se tornou um zeloso defensor de reformas eclesiásticas. Além de lecionar na universidade, em 1402 foi nomeado pregador da Capela de Belém, o centro do movimento reformista tcheco, alcançando enorme popularidade por suas pregações. Como João Wyclif, ele ensinava que a igreja verdadeira consiste somente dos eleitos, dos quais o cabeça é Cristo, e não o papa. Embora defendesse a autoridade tradicional do clero, Hus afirmava que somente Deus pode perdoar pecados. Acreditava que nem o papa nem os cardeais podiam estabelecer como autêntica uma doutrina que fosse contrária à Escritura, e que nenhum cristão devia obedecer às suas ordens quando estas se revelassem abertamente erradas. Dizia que a igreja devia ter uma vida de simplicidade e pobreza, à semelhança de Cristo. A única lei da igreja era a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, daí a grande importância da pregação. Condenou a corrupção do clero, a adoração de imagens, os falsos milagres, as peregrinações supersticiosas e a venda das indulgências, mas manteve a transubstanciação.

A partir de 1410, as autoridades eclesiásticas e seculares começaram a tomar medidas drásticas contra os wyclifitas. Apesar de ser altamente estimado pelo povo, Hus foi excomungado e seguiu para o exílio no sul da Boêmia, onde escreveu sua principal obra, De Ecclesia (Sobre a Igreja). Munido de um salvo-conduto fornecido pelo imperador alemão Sigismundo, compareceu ao célebre Concílio de Constança (1414-1418), no sul da Alemanha, a fim de justificar as suas posições. Em 4 de maio de 1415, o concílio condenou formalmente João Wyclif como herege e ordenou que o seu corpo fosse retirado da terra consagrada (essa ordem só seria cumprida em 1428). Hus, considerado por todos um wyclifita, recusou-se firmemente a abjurar as suas idéias. No dia 6 de julho de 1415 foi sentenciado e queimado na fogueira, enfrentando a morte com grande coragem e dignidade.

A Unitas Fratrum e os Irmãos Morávios
A notícia da morte de Hus produziu grande revolta na Boêmia, que seria agravada pela condenação do seu amigo e colega Jerônimo de Praga, também levado à fogueira pelo Concílio de Constança, em 30 de maio de 1416. Outra fonte de protestos foi a proibição, pelo mesmo concílio, da ministração do cálice da Ceia aos leigos, prática que se tornara o símbolo do movimento hussita. Surgiram duas facções no movimento: um partido moderado e aristocrático, sediado em Praga, conhecido como utraquistas (referência à comunhão sub utraque, isto é, “em ambas” as espécies) ou calixtinos (do latim calix = cálice), e um partido radical, popular, os taboritas (de Tábor, a sua fortaleza). Os primeiros rejeitaram somente as práticas que consideravam proibidas pela “lei de Deus”, a Bíblia, ao passo que os taboritas repudiavam todas as práticas não sancionadas expressamente pelas Escrituras.

Após um período de conflitos, as duas facções se uniram em 1420, adotando uma agenda religiosa comum, “Os Quatro Artigos de Praga”, que exigiam a livre pregação da Palavra de Deus, o cálice para os leigos, a pobreza apostólica e uma vida de austeridade para clérigos e leigos. Durante alguns anos, eles se envolveram em várias guerras vitoriosas contra os seus adversários. Uma tentativa de acordo com a igreja católica produziu novas lutas internas, sendo os taboritas derrotados pelos utraquistas em 1434, na batalha de Lipany. Fracassado o acordo com o catolicismo, os utraquistas tornaram-se um grupo religioso autônomo, cuja plena paridade com os católicos foi declarada pelo Parlamento da Boêmia em 1485. Alguns anos antes, em 1457, havia surgido a Unitas Fratrum (Unidade dos Irmãos Boêmios), reunindo elementos taboritas, utraquistas e valdenses. Essa igreja absorveu o que havia de mais vital no movimento hussita e tornou-se a precursora dos irmãos morávios.

Com o advento da Reforma, os “irmãos unidos” abraçaram o protestantismo. Nessa época, eles contavam com cerca de 400 igrejas locais e 150 a 200 mil membros na Boêmia e na vizinha Morávia. Expulsos de sua pátria durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), espalharam-se por diversas regiões da Europa e perderam muitos adeptos. Um ano especialmente amargo foi 1621, quando quinze irmãos foram decapitados no “dia de sangue”, muitos crentes foram mandados para as minas ou masmorras, igrejas foram fechadas, escolas destruídas, Bíblias, hinários e catecismos foram queimados. Os poucos remanescentes continuaram a realizar as suas funções religiosas em segredo e a orar pelo renascimento da sua igreja. Um importante líder desse período aflitivo foi o notável educador Jan Amos Comenius (1592-1672), eleito bispo dos irmãos morávios em 1632.

O conde Zinzendorf e Herrnhut
Em 1722, sobreviventes dos irmãos unidos que falavam alemão, residentes no norte da Morávia, começaram a buscar refúgio na vizinha Saxônia, sob a liderança de um carpinteiro, Christian David. O jovem conde Nikolaus Ludwig von Zinzendorf (1700-1760) permitiu que eles fundassem uma vila em sua propriedade de Berthelsdorf, cerca de 110 quilômetros a leste de Dresden. Zinzendorf era fruto do pietismo, um influente movimento que havia surgido recentemente no luteranismo alemão. Esse movimento teve como líderes iniciais Phillip Jacob Spener (1635-1705) e August Hermann Francke (1663-1727), sendo seu principal centro de atividade a cidade de Halle, também na Saxônia, a terra de Martinho Lutero. Os pietistas davam grande ênfase à devoção, à experiência e aos sentimentos, em contraste com a ortodoxia, credos e rituais. Também valorizavam a conversão pessoal, o sacerdócio universal dos crentes, o estudo das Escrituras, os pequenos grupos para comunhão e auxílio mútuo, e um cristianismo prático voltado para educação, missões e beneficência.

Nascido em uma família aristocrática, Zinzendorf recebeu uma educação pietista em Halle dos 10 aos 17 anos. Desde a infância revelou uma intensa devoção pessoal a Cristo e mesmo depois de ingressar no serviço público, em 1721, continuou a ter como interesse predominante o cultivo da “religião do coração”. Foi então que entrou em contato com os morávios. A vila que estes fundaram em sua propriedade recebeu o nome de Herrnhut (“a vigília do Senhor”). A comunidade cresceu e logo se uniram a ela muitos pietistas alemães e outros entusiastas religiosos. Inicialmente Zinzendorf lhes deu pouca atenção, mas em 1727 começou a assumir a liderança espiritual do grupo. Superadas algumas divisões iniciais, no dia 13 de agosto de 1727 foi realizado um marcante culto de comunhão que veio a ser considerado o renascimento da antiga Unitas Fratrum, a Igreja Morávia renovada. A partir de então, Herrnhut tornou-se uma disciplinada e fervorosa comunidade cristã, um corpo de soldados de Cristo ansioso em promover a sua causa no país e no exterior.

Embora Zinzendorf desejasse que os morávios permanecessem como membros da igreja estatal da Saxônia (luterana), gradualmente eles formaram uma igreja separada. Em 1745 a Igreja Morávia já estava plenamente organizada com seus bispos, presbíteros e diáconos, embora seu governo fosse, e ainda seja, mais presbiteriano que episcopal. A essa altura o moravianismo estava criando uma liturgia de grande beleza e uma rica tradição hinológica. A Igreja Morávia restaurada permaneceu pequena, mas sua influência se fez sentir em toda a Europa. Seus primeiros bispos foram David Nitschmann (1735) e o próprio Zinzendorf (1737), que, após uma vida de intensa atividade missionária e pastoral na Europa e na América do Norte, faleceu em Herrnhut em 1760. Certa vez havia declarado, referindo-se a Cristo: “Eu tenho uma paixão; é ele e ele somente”.

Até aos confins da terra
Com o seu zelo por Cristo, os morávios escreveram uma das páginas mais nobres das missões cristãs em todos os tempos. Nenhum grupo protestante teve maior consciência do dever missionário e nenhum demonstrou tamanha consagração a esse serviço em proporção ao número de seus membros. Numa viagem a Copenhague para assistir à coroação do rei dinamarquês Cristiano VI, Zinzendorf conheceu alguns nativos das Índias Ocidentais e da Groenlândia. Regressou a Herrnhut cheio de fervor missionário e, em conseqüência disso, Leonhard Dober e David Nitschmann iniciaram uma missão aos escravos africanos em St. Thomas, nas Ilhas Virgens, em 1732, e Christian David e outros seguiram para a Groenlândia no ano seguinte.

Em 1734, um grupo liderado por August Gottlieb Spangenberg (1704-1792) começou a trabalhar na Geórgia. No Natal de 1741, o próprio Zinzendorf visitou a América e deu o nome de Bethlehem (Belém) à colônia que os morávios da Geórgia estavam criando na Pensilvânia. Essa cidade se tornaria a sede americana do movimento. O mais famoso missionário morávio aos índios norte-americanos foi David Zeisberger (1721-1808), que trabalhou entre os creeks da Geórgia a partir de 1740 e entre os iroqueses desde 1743 até a sua morte.

Herrnhut tornou-se um centro de atividade missionária, iniciando missões no Suriname, Costa do Ouro, África do Sul, Argélia, Guiana, Jamaica, Antigua e outros locais. Em 1748, foi iniciada uma missão aos judeus em Amsterdã. Até 1760, o ano da morte de Zinzendorf, os morávios haviam enviado 226 missionários a dez países e cerca de 3 mil conversos haviam sido batizados. Outros locais alcançados posteriormente foram Egito, Labrador, Espanha, Ceilão, Romênia e Constantinopla. Em 1832, havia 42 estações missionárias morávias ao redor do mundo. Os nomes dos primeiros campos missionários mostram uma característica do trabalho morávio: eram em geral locais difíceis e inóspitos, exigindo uma paciência e dedicação toda especial, traço que até hoje caracteriza o trabalho missionário desse grupo.

Conclusão
Com seu heroísmo, apego às Escrituras e consagração a Deus, os irmãos morávios, embora pouco numerosos, exerceram uma forte influência espiritual sobre outros grupos e movimentos protestantes, especialmente na Inglaterra. A convivência com alguns morávios causou profundo impacto em João Wesley e contribuiu para a sua conversão e o surgimento do metodismo. William Carey, o pioneiro das missões batistas, os admirava grandemente e apelou para o seu exemplo de obediência. Eles também inspiraram a criação de duas das primeiras agências protestantes de missões — a Sociedade Missionária de Londres (1795) e a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804). Assim completou-se um ciclo extraordinário: a obra do pré-reformador inglês João Wyclif contribuiu para o surgimento dos morávios e, séculos depois, estes foram uma bênção para a Inglaterra e, por meio dela, para muitos outros povos.

Por Alderi Souza de Matos, doutor em história da igreja pela Universidade de Boston.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Uma vida de dedicação à causa dos pobres




A vida de dom Helder Câmara, que hoje completaria 100 anos, é pontuada pela luta incansável contra a miséria, que não foi bem vista durante a revolução militar, valendo-lhe a alcunha de ´Bispo Vermelho´. Sem abandonar esses princípios, originários da Teologia da Libertação, respeitou a hierarquia da Igreja Católica, mesmo vendo seu trabalho de 22 anos na Arquidiocese de Olinda e Recife desmoronar. O empenho em aproximar a Igreja do povo resultou no fim das missas em latim e também na criação da CNBB

O 11º filho do casal João Eduardo Torres Câmara, guarda-livros da Casa Boris Frères, e Adelaide Rodrigues Pessoa Câmara, professora. Nasceu no Centro de Fortaleza, em casa localizada onde hoje está o Mercado Central. A família contou que a mãe desejava o nome José, mas o pai abriu um atlas aleatoriamente e achou bonito o nome de uma cidadela ao norte da Holanda, Helder, cujo significado — limpo ou pensamento claro — bem o resume.

Helder Pessoa Câmara cedo demonstrou interesse pela vida religiosa. Tanto que, aos quatro/ cinco anos, brincava de celebrar missas. O sonho de tornar-se sacerdote resistiu aos discursos do pai maçom; ao tifo, que faz a irmã, Nair, por promessa, passar anos sem dançar; e também à epidemia de crupe, que levou seis dos 13 filhos do casal Câmara.

Aos 14 anos, ingressou no Seminário Diocesano de Fortaleza e, em 1931, aos 22 anos, com autorização especial da Santa Sé, por não ter a idade mínima exigida, ordenou-se.

Dedicado inicialmente ao Movimento da Juventude Operária Católica, fundou, em 1931, a Legião Cearense do Trabalho. Buscando meio termo entre socialismo e capitalismo, simpatizou com o Integralismo, movimento com bases no fascismo italiano.

A simpatia ao movimento, no entanto, não durou muito. Nos anos 1930 — quando o Brasil se industrializava e a população migrava do campo para a cidade — cresciam outras religiões. O ambiente, favorável ao pensamento católico democrático, influenciou a mudança de pensamento do então padre Helder. Em 1936, foi transferido para o Rio de Janeiro e viu, na Ação Católica, forma de organização que poderia contribuir para a renovação das práticas da Igreja, com a preocupação, também, de criar uma ordem social mais justa.

Os anos de 1950 são dedicado à mobilização dos bispos do Brasil e das Américas, esforço bem sucedido que resulta na criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1952; e no Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), em 1955. Sagrado bispo, no Rio de Janeiro, em 1952, assume, durante 12 anos, a secretaria geral da CNBB. Em 1964, torna-se arcebispo de Olinda e Recife.

De 1962 a 1965, no Concílio Vaticano II, dom Helder faz um trabalho silencioso e eficiente, com o desejo de por em pauta a questão da miséria e incentivar uma reforma interna na Igreja Católica. Para começar, defendeu a substituição do latim em celebrações, catequeses, orações e cantos pela língua viva em cada país, incentivando a participação dos fiéis.

No início da revolução militar, é bispo de todos, acima de direita e esquerda. O clima entre a Arquidiocese e militares é de camaradagem. Dom Helder prega para militares, com a pretensão de “converter” a revolução. Aos poucos, porém, seu discurso passa a ser visto como “vermelho”.

Após o Ato Institucional Nº 5, cai em desgraça. Em artigos anônimos, é chamado de comunista, difamador do Brasil, falso profeta, político demagogo; em pichações, de mentiroso, infiel, antipratriota; em denúncias oficiais, é acusado de promover guerrilhas, financiar entidades comunistas, ser amigo de Fidel Castro.

Entre 1970 e 1975, houve muita perseguição, prisão e tortura entre as pessoas mais próximas ao pastor. A residência oficial do bispo foi metralhada; além disso, telefonemas anônimos, ameaças de morte, insultos e palavrões nos muros do Palácio Episcopal. Indicado ao Nobel da Paz em 1970, 1971, 1972 e 1973, enfrentou campanha difamatória da revolução militar que provavelmente impediu a titulação.

A partir de 1985, viu seu trabalho de 22 anos à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife desmoronar, a partir da posse do seu sucessor, dom José Cardoso Sobrinho, que fechou o Instituto de Teologia do Recife (Iter) e o Seminário Regional Nordeste II (Serene II), mas silenciou em respeito à hierarquia da Igreja Católica.

CINEMA E LITERATURA
O santo rebelde

A pesquisadora e cineasta mineira Érika Bauer, radicada em Brasília, responsável pelo documentário “Dom Hélder Câmara: o Santo Rebelde”, contou que dois fatores principais a influenciaram a querer contar a história do religioso: o primeiro foi perceber o carisma que dom Helder apresentava diante das câmeras e o segundo foi perceber que a maioria das pessoas que já ouvira falar dele desconhecia sua trajetória.

Ela partiu, então, para uma longa pesquisa de imagens que abrangeu, além do Brasil, França, Alemanha, Itália e Holanda. Érika captou logo a essência de dom Helder, homem que enxergou na mídia, antes de todos, o caminho para difundir os ideais da “Teologia da Libertação”, que alia os ensinamentos do Novo Testamento a questões sociais, com viés marxista.

Sua história de vida, densa e complexa, com ações inúmeras vezes desaprovadas pelo Vaticano, levaram Érika a optar por um documentário de linguagem tradicional, sem experimentalismos.

Dispensando depoimentos de personalidades, preferiu centrar-se, nas mais de 60 horas de imagens e nas gravações que captou com aqueles que conviveram estreitamente com o arcebispo.

O filme contém relatos do arcebispo sobre sua escolha, ainda na infância, pelo caminho clerical; a ordenação; a rápida passagem pelo Integralismo, atraído pelo caráter nacionalista do movimento; a transferência para o Rio, onde se tornou nacionalmente conhecido e começou a colocar em prática, de maneira mais efetiva, seus idéias de justiça e paz social. Durante este período, o religioso conheceu o futuro papa Paulo VI, abrindo caminho para sua mobilização que resultou na implantação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Segue mostrando que, numa tentativa frustrada de abrandar seu discurso e esvaziar suas ações na então politizada ex-capital federal, uma manobra militar levou-o ao Recife, onde dom Hélder não só continuou sua missão evangelizadora, marcada pela “Teologia da Libertação”, como atingiu projeção internacional.

No auge da perseguição política do governo militar, a Suécia o indicou quatro vezes consecutivas ao “Prêmio Nobel da Paz”, entre 1971 e 1974, que, afinal, nunca recebeu.

Documentos indicam uma ação secreta do governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), embora nem o documentário de Erika, nem a biografia “Dom Hélder Câmara: entre o Poder e a Profecia”, dos professores Nelson Piletti e Walter Praxedes, publicada em 1997, e “bússola” do documentário, tenham conseguido comprovar esta interferência de maneira categórica.

Maristela Crispim
Repórter

LINHA DO TEMPO

1909
Nasce, no dia 7 de fevereiro, no Centro de Fortaleza, Helder Pessoa Câmara, 11º filho dos 13 do casal João Eduardo Torres Câmara e Adelaide Rodrigues Pessoa Câmara

1931
Ordena-se padre, aos 22 anos, com autorização especial da Santa Sé, por não ter a idade mínima exigida. No dia seguinte, celebra sua primeira missa, na Igreja da Sé

1931
Dedicado inicialmente ao Movimento da Juventude Operária Católica, funda, com amigos, a Legião Cearense do Trabalho, já simpatizante do Integralismo

1936
É transferido para o Rio de Janeiro, onde ingressa na Ação Católica com o intuito de contribuir para a renovação das práticas da Igreja e passa a ser conhecido nacionalmente

1952
É eleito bispo no Rio de Janeiro e ajuda a constituir a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual é secretário-geral por 12 anos consecutivos

1964
Torna-se arcebispo de Olinda e Recife, posição que ocupa durante 21 anos, período em que sofre perseguição da revolução militar e projeta-se internacionalmente

1970 a 1973
Indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz, indícios levam a crer que companha de difamação movida por setores conservadores influenciou o resultado

1985
Dom José Cardoso Sobrinho assume o arcebispado de Olinda e Recife, fechando o Instituto de Teologia do Recife (Iter) e o Seminário Regional Nordeste II (Serene II)

1989
Uma grande festa reúne dom Helder Câmara, dom Aloísio Lorscheider e a então secretária de Cultura do Ceará, Violeta Arraes, em Canindé, para comemorar seus 80 anos

1999
Após completar 90 anos, dom Helder morre, dia 27 de agosto, na Casa Paroquial da Igreja das Fronteiras, em Recife, onde passou anos ouvindo música clássica e rezando

2006
Em 10 de setembro, Dia Mundial da Paz, o Diário do Nordeste publica uma edição especial da série ´Os Pacifistas´, destacando, como personagem, dom Helder

GLOBALIZAÇÃO E TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO





Como viver e pensar a Teologia da Libertação numa era de globalização? Muitos e muitas afirmam que a Teologia da Libertação ficou no passado, já não é mais necessária e que não atrai mais devido ao fim dos blocos socialistas e das teorias marxistas. Outros e outras tentam ainda caminhar na construção de uma nova sociedade tendo como eixo a teologia da libertação mesmo sabendo que a Igreja a deixou no esquecimento.



Sabe-se que a caracterização da teologia da libertação possui sua singularidade em seu método construído a partir da realidade história e social, ou seja, a partir dos excluídos (as) da sociedade (VER), iluminada pela fé cristã (JULGAR) e que visa a prática transformadora da sociedade velha rumo a uma nova sociedade (AGIR). Portanto, teologia da libertação e sociedade compreende-se a partir da dialeticidade que as une onde se constrói uma nova política participativa, uma nova economia inclusiva e solidária, uma nova cultura pluralista e uma nova religião ecumênica e macro-ecumênica.



A pergunta é: Ainda é possível viver a teologia da libertação? As respostas são muitas, mas considerando as realidades históricas que se apresentam pode-se dizer que sim, principalmente, se construir e se pensar numa nova teologia da libertação sem o monopólio da Igreja Católica. Uma nova teologia da libertação que não se esqueça dos princípios e métodos, mas que adote a sociedade enquanto espaço de construção de uma práxis que conscientiza, conscientizando-se a partir das realidades humanas que se encontram na exclusão, na opressão, na desumanização e na exploração. Assim, diria que vivemos já uma nova fase da teologia da libertação que se apresenta não mais nas Igrejas, mas, sobretudo, nas ONGs, nos movimentos populares e sociais, nos grupos de direitos humanos, em algumas universidades, nas associações e cooperativas etc. São nestes espaços que se encontra a nova teologia da libertação sendo vivida nesta era de globalização.



Segundo Leonardo Boff, ainda não terminou o processo de construção da humanidade. O Homem possui uma tendência para se expandir e, por isso, consegue se adaptar em todos os ecossistemas pela qual a Terra já passou. Entre estes podemos considerar a fase atual de globalização na qual vive a humanidade inteira. Este atual projeto de globalização surgiu desde os primórdios da humanidade e se fortaleceu no séc. XVI com a cultura européia que rompe as fronteiras do velho mundo. Pode-se denominar esta fase de “ocidentalização do mundo” ou Idade do Ferro da atual globalização. A chamada ocidentalização do mundo conseguiu gerar duas conseqüências desastrosas na história da humanidade, a saber: o etnocídio dos povos indígenas e a escravização dos povos africanos. E vale lembrar que tudo era feito, política e economicamente, em nome do Deus cristão da Igreja Católica (América Latina) e das Igrejas Protestantes (Estados Unidos e Canadá). Evidentemente, os pedidos de perdão foram feitos por parte das Igrejas, mas nada conseguirá apagar da história este projeto pré-globalizado que se implantou nas consciências de muitas nações.



Podemos dizer então que “a cultura ocidental conseguiu impor a todos os povos sua forma de acercar-se da natureza mediante a tecnociência, sua maneira de organizar a sociedade (a democracia representativa), sua visão de pessoa humana (cidadão com direitos inalienáveis) e a maneira de entender e cultuar Deus (cristianismo como religião hegemônica no mundo)” (Boff, Leonardo. Processos de globalização e desafios à Teologia da Libertação. In.: Boff, L. e Arruda, M. Globalização: Desafios socioeconômicos, éticos e educativos, p. 26).



A globalização possui três vertentes fundamentais que são: a economia, a política e a espiritual ou religiosa. Na economia ou nas economias mundiais, existe uma relação de interdependência entre globalização e mercado. São três fatores que dão dinâmica à globalização econômica e de mercado, a saber: 1) o surgimento dos megaconglomerados e corporações estratégicas atuando em redes globais; 2) a chamada continentalização das economias dentro do processo de globalização como, por exemplo: o Mercado Comum Europeu, o NAFTA e o Mercosul; 3) a lógica de mercado baseado na livre concorrência o que fortalece o surgimento das elites orgânicas transnacionais que gerenciam econômica e politicamente o planeta.



Na política, com o projeto de ocidentalização da humanidade se construiu a idéia hegemônica de Estados-Nações e de Democracia como valor universal. A democracia funciona quando existe o respeito aos Direitos Humanos. Mas, mesmo assim, assistimos nestes últimos tempos a imposição da democracia a países do Oriente a partir do desrespeito aos direitos humanos como no Afeganistão e Iraque.



No entanto, três dados se complementam no processo da globalização política da humanidade, a saber: o crescente avanço da mídia e dos meios de comunicação que interliga todos em tudo; o perigo nuclear ou perigo à biosfera com a retomada das experiências nucleares realizadas pelos Estados Unidos e Irã; e o alerta ecológico, um alerta a toda humanidade que pode ser extinta devido ao acelerado processo de desmatamento e destruição da camada de ozônio. Neste sentido, afirma Leonardo Boff:



(...) o tipo de desenvolvimento técnico-industrial adotado implica uma sistemática agressão à natureza, um esgotamento de recursos não-renováveis e uma grande degradação da qualidade de vida para todos os seres vivos. O efeito estufa, o envenenamento do solo e do ar e o buraco de ozônio podem produzir malefícios irreparáveis para a biosfera. A morte revela formas insuspeitadas de ecocídio (morte de ecossistemas), de biocídio (morte de espécies vivas) e geocídio (morte da Terra-Gaia) (idem, p. 28).



Na espiritualidade, a globalização acontece a partir do surgimento de novas formas de consciência planetária que se interagem com novas formas de se fazer a experiência com o sagrado. Nestas novas formas, o Ser Humano e a Terra estão interligados, relacionados numa complementariedade entre o húmus e o homo o que permite formar o novo Homem. Resta saber se seria agora o momento de uma irrupção da noogênese e da noosfera, entendida aqui, como gênese e a esfera do Espírito? Seria este o momento do surgimento de uma nova espiritualidade para o ser humano?



Para as pessoas religiosas o profundo é habitado por Deus, e dialogar com a interioridade profunda é pôr-se na escuta da Palavra divina. Mais e mais se percebe em todo o mundo uma grande sede de espiritualidade, de encontro com o elo perdido que permite uma experiência de re-ligação de todas as coisas e de todas as experiências, conferindo sentido para a vida, a verdade de toda religião (idem, p. 30).



Um dos desafios para a teologia da libertação é interpretar os sinais dos tempos provocados pelo fenômeno da globalização, estes fenômenos que se apresentam em nossas realidades subjetivas. No entanto, sem perder de vista os fundamentos históricos e metodológicos que a sustentam, entre elas, é o de questionar a situação dos pobres e oprimidos neste processo de globalização econômica, política e religiosa que se fortalece neste cenário de um mercado capitalista extremamente anti-social e que, politicamente, tem como desafio a construção de sociedades humanas mais multi-culturais e multi-religiosas.



O desafio da teologia da libertação é o de sustentar uma vida social diferente pautando-se no projeto de vida oferecido pelas tradições religiosas e não mais por uma única Tradição religiosa, a cristã. Sustentar a vida social na participação de todos (as) nas decisões locais e globais, na busca pela igualdade na diversidade, no respeito às diferenças e na comunhão entre as subjetividades humanas. Mas, alguns poderão questionar com toda a razão: Então a Teologia da Libertação baseada nas CEBs, nos movimentos populares, na Igreja dos pobres acabou? Não e Sim. Não, porque deixou de ser monopólio de uma única tradição religiosa e passou a ser pensada e vivida em outras esferas da sociedade e em outras tradições religiosas outrora excluídas. Sim, porque a própria Igreja que apoiou tanto a formação de CEBs, dos movimentos populares e a luta em defesa da dignidade dos pobres retorna a cada dia ao seu projeto subjetivo de globalização, a saber: a cristandade.



Resta, portanto, à teologia da libertação tentar incentivar “o resgate do caráter sagrado da Terra, resgate das tradições espirituais das culturas oprimidas e dos pobres que, geralmente, têm veneração e respeito pela Terra como a grande Mãe. Esta atitude poderá limitar a ganância moderna e permitirá uma nova experiência de Deus no universo que supere os famosos dualismos do cristianismo ocidental, entre Deus e o mundo, a alma e o corpo, o feminino e o masculino” (idem, p. 32). Este é o grande desafio da teologia da libertação nestes tempos de globalização. Por ocasião do cotidiano de nossas vidas, hoje me perguntaram: Você está preparado espiritualmente para assumir o sacerdócio? Na hora, pensei no dualismo da questão. Por que não me perguntaram se estou preparado corporalmente? Porque o corpo ainda é visto como coisa do mundo, carcaça que aprisiona nossa alma. É neste sentido que a Teologia da Libertação deve ajudar a superar tais dualismos que continuam aprisionando o ser humano. O que respondi? Que não! E o semblante da pessoa ficou cheio de perplexidade.



Por Claudemiro Godoy do Nascimento,
Agente de Pastoral. Mestre em Educação pela Unicamp.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A guerra dos fundamentalismos






Hoje se fala muito de fundamentalismo. Fundamentalismo do mercado e do projeto neo-liberal, fundamentalismo cristão, fundamentalismo islâmico, principal responsável pelos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, fundamentalismo das posturas políticas e bélicas do ex-Presidente Bush. Tentemos esclarecer o leitor o que seja fundamentalismo e o risco que representa para a pacífica convivência humana e para o futuro da humanidade.

1.Como surgiu o fundamentalismo

O nicho do fundamentalismo se encontra no protestantismo norte-americano, surgido nos meados do século XIX e formalizado, posteriormente, numa numa pequena coleção de livros que vinha sob esse título:"Fundamentals. A Testimony of the Truth(1909-1915). Trata-se de uma tendência de fiéis com seus pregadores e teólogos que tomavam as palavras da Bíblia ao pé da letra (o fundamento de tudo para a fé protestante é a Bíblia). Se Deus consignou sua revelação no Livro Sagrado, então tudo, cada palavra e cada sentença, devem ser verdadeiras e imutáveis. Em nome do literalismo, esses fiéis opunham-se às interpretações da assim chamada teologia liberal. Esta usava e usa os métodos histórico-críticos e hermenêuticos para interpretar textos escritos há 2-3 mil anos. Supõe-se que a história e as palavras não ficaram congeladas. Precisam ser interpretadas para resgatar-lhes o sentido original. Esse procedimento para os fundamentalistas é ofensivo a Deus. Por razões semelhantes se opõem aos conhecimentos contemporâneos da história, das ciências, da geografia e especialmente da biologia que possam questionar a verdade bíblica.

Para o fundamentalista a criação se realizou mesmo em sete dias. O cristianismo detem o monopólio da verdade revelada. Jesus é o único caminho para a salvação. Fora dele há somente perdição. Daí o caráter militante e missionário de todo fundamentalista. Face aos demais caminhos espirituais ele é intolerante, pois significam simplesmente errância. Na moral é especialmente rigoroso, particularmente no que concerne à sexualidade e à família. É contra os homosexuais, o movimento feminista e os movimentos libertários em geral. Na economia é conservador e na política sempe exalta a ordem e a segurança a qualquer custo.

O fundamentalismo protestante ganhou relevância social a partir dos anos 50 com as "Electronic Church". Pregadores nacionalmente famosos usam o rádio e a televisão em cadeia para suas pregações e campanhas conservadoras. Sob Ronald Reagan significaram um fator político determinante. Combatem abertamente o Conselho Mundial de Igrejas em Genebra (que reune mais de duas centenas de denominações cristãs) e todo tipo de ecumenismo, tidos como coisa do diabo.

O catolicismo possui também seu tipo de fundamentalismo. Ele vem sob o nome de Restauração e Integrismo. Procura-se restaurar a antiga ordem, fundada no casamento (incestuoso) do poder político com o poder clerical. Visa-se uma integração de todos os elementos da sociedade e da história sob a hegemonia do espiritual representado,interpretado e proposto pela Igreja Católica (seu corpo hierárquico encabeçado pelo Papa). O inimigo a combater é a Modernidade, com suas liberdades e seu processo secularização. Expressões do Integrismo é modernamente o Card. Josef Ratzinger, Presidente da antiga Inquisição, que sustenta ainda a tese de que a Igreja Católica é a única Igreja de Cristo, também a única religião verdadeira, fora da qual não todos correm risco de perdição. Ou o Arcebispo Marcel Lefebvre que fundou sua Igreja paralela, considerada a fiel detentora da Tradição e da fé verdadeiras. Características fundamentalistas se encontram também em setores importantes do pentecostismo, também católico e nas Igrejas evangelicais populares.

2.Que é o fundamentalismo?

Não é uma doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É a atitude daquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista. Sendo assim, imediatamente surge um problema de graves consequências: quem se sente portador de uma verdade absoluta não pode tolerar outra verdade e seu destino é a intolerância. E a intolerância gera o desprezo do outro e o desprezo, a agressividade e a agressividade, a guerra contra o erro a ser combatido e exterminado. Irrompem guerras religiosas, violentíssimas, com incontáveis vítimas.

Não há nenhuma religião mais guerreira que a tradição dos filhos de Abraão: judeus, cristãos e muçulmanos. Cada qual vive da convicção tribalista de ser povo escolhido e portador exclusivo da revelação do Deus único e verdadeiro. Essa fé deve ser difundida em todo o mundo, normalmente, com articulação com o poder colonialista e imperial como historicamente ocorreu na América Latina, Africa e Asia.

O fundamentalismo, como atitude e tendência, se encontra em setores de todas as religiões e caminhos espirituais. Hoje em dia, o fundamentalismo judeu se centra na construção do Estado de Israel segundo o tamanho que lhe atribui a Bíblia hebraica. O fundamentalismo islâmico quer fazer do Alcorão a única forma de vida, de moral, de política e de organização do Estado entre os islâmicos e em todo o mundo. Todos os que se opõem a essa visão de mundo são obstáculos à instauração "da cidade de Deus" e consequentemente são infiéis e merecem ser perseguidos e eventualmente eliminados.

3.O fundamentalismo neo-liberal e o tecnico-científico.

O fundamentalismo não possui apenas um rosto religioso. Todos os sistemas seja culturais, científicos, políticos, econômicos e artísticos que se apresentam como portadores exclusivos de verdade e de solução única para os problemas devem ser considerados fundamentalistas. Vivemos atualmente sob o império feroz de vários fundamentalismos.

O primeiro e mais visível de todos é o fundamentalismo da ideologia política do neo-liberalismo, do modo de produção capitalista e de sua melhor expressão, o mercado mundialmente integrado. Ele se apresenta como a solução única para todos os países e para todos as carências da humanidade (todos precisam de um necessário choque de capitalismo,diz-se fundamentalisticamente). A lógica interna deste sistema, entretanto, é ser acumulador de bens e serviços, por isso, criador de grandes desigualdades (injustiças), explorador ou dispensador da força de trabalho e predador da natureza. Ele é apenas competitivo e nada cooperativo. Politicamente é democrático, economicamente é ditatorial. Por isso a economia capitalista destrói continuamente a democracia participativa. Onde se implanta, a cultura capitalista cria uma cosmovisão materialista, individualista e sem qualquer freio ético. Há teóricos que apresentam essa etapa como o fim da história. Para ela não haveria alternativa. Urge inserir-se nela. Caso contrário perde-se o ritmo da história. A condenação é a marginalidade ou a exclusão. Eis o pensamento único e a ditadura da globalização especialmente econômico-financeira (considero esta etapa como a idade de ferro da globalização), hegemonizada pelas potências ocidentais.

Outro tipo de fundamentalismo comparece no paradigma científico moderno. Ele está assentado sobre a violência contra a natureza. Bem dizia Francis Bacon, pai da moderna metodologia científica: há de se torturar a natureza como o faz o inquisidor com seu inquirido, até que ela entregue todos os seus segredos. Impõe-se esse método, fundado no corte e na compartimentação da realidade una e diversa, como a única forma aceitável de acesso ao real. Desmoralizam-se outras formas de conhecimento que vão além ou ficam aquém dos caminhos da razão instrumental-analítica. Ocorre que o projeto da tecno-ciência gestou o princípio da auto-destruição da vida. A máquina de morte já construída pode pôr fim à biosfera e impossibilitar o projeto planetário humano. Na guerra bacteriológica, basta meio quilo de toxina do botulismo para matar um bilhão de pessoas.

4. O fundamentalismo político de Bush e de Bin Laden

Nos dias atuais assistimos, estarrecidos, a dois tipos de fundamentalismo político. Um representado pelo presidente dos USA George W. Bush.e outro por Osama Bin Laden. O Presidente norte-americano urde seus discursos no melhor código fundamentalista: A luta é do bem (América) contra o mal (terrorismo islâmico). Ou se é contra o terrorismo e pela América ou se é a favor do terrorismo e contra a América. Não há matizes nem alternativas. O ataque terrorista não foi contra os USA mas sim contra a humanidade, na suposição que eles são a própria humanidade. O projeto inicial de guerra se chamava Justiça Infinita, termo que usurpa a dimensão do Divino. Depois com menor arrogância, mas na linguagem da utopia, chamou-se de Liberdade Duradoura. Termina suas intervenções com "God saves America". Há dezenas de anos que a política exterior dos USA maltrata as nações árabes fazendo pacto com governantes despóticos (alguns emirados árabes nem constituição possuem) em razão da garantia do suprimento de petróleo. A partir de 1991 por ocasião da guerra contra o Iraque já morreram naquele pais cerca de um milhão de crianças por causa do embargo que atinge os suprimentos medicinais e 5% da população foi morta em sistemáticos bombardeios. A atuação no conflito entre Israel e os palestinos é a posiçãos dos USA visivelmente unilateral, em favor dos ataques devastadores que a máquina de guerra israelense move contra a população palestina que usa pedras(intifada). A Arábia Saudita é ocupada por uma poderosa base militar norte-americana, território sagrado do islamismo onde se situam as duas cidades santas Meca e Medina. Tal fato é para a fé islâmica tão vergonhoso quanto um católico tolerar a Máfia no governo do Vaticano. Tais fatos acumulam amargura, ressentimento, revolta e vontade de vindita. É o fermento do terrorismo muçulmano cujos efeitos nefastos todos assistimos e condenamos.

Não menos fundamentalista é a retórica dos Talibans e de Osama Bin Laden Este também coloca a guerra entre o bem (islamismo) e o mal(a América). Em seu famoso discurso após o atentado, divide o mundo entre dois campos: o campo dos fiéis e o campo dos infiéis. "O chefe dos infiéis internacionais, o símbolo mundial moderno do paganismo, é a América e seus aliados".O atentado terrorista significa que "a América foi atacada por Deus em um dos seus órgãos vitais…Graça e gratidão a Deus". A cultura ocidental como um todo é vista como materialista, atéia, secularista, anti-ética e belicista. Daí a recusa em dialogar com ela e a vontade de estrangulá-la em nome do próprio Allah.

Em nome de que Deus ambos falam? Não é seguramente em nome do Deus da vida, de Allah, o Grande e Misericordioso, nem em nome do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, da ternura dos humildes e da opção pelos oprimidos. Falam em nome de ídolos que produzem mortes e vivem de sangue.

É próprio do fundamentalismo responder terror com terror, pois se trata de conferir vitória à única verdade e ao bem e destruir a falsa "verdade" e o mal. Foi o que ambos, Bush e Bin Laden fizeram. Enquanto predominarem tais fundamentalimos seremos condenados à intolerância, à violência e à guerra e, no termo, à ameaça de dizimação da biosfera.

5.Como conviver com o fundamentalismo?

Não se há de sorrir nem de chorar. Mas de procurar entender. Todos os fundamentalismos, não obstante o vário matiz, possuem as mesmas constantes. Trata-se sempre de um sistema fechado, feito de claro e de escuro, inimigo de toda diferenciação e cego face à lógica do arco-iris, onde a pluralidade convive com a unidade. Cada verdade se encontra idissoluvelmente concatenada à outra. Questionada uma, desaba todo o edifício. Daí a intolerância e a lógica linear. Daí sua força de atração para espíritos sedentos de orientações claras e de contornos precisos. Para o fundamenalista militante a morte é doce, pois transporta o mártir diretamente ao seio materno de "Deus" enquanto a vida é vivida como oportunidade de cumprir a missão divina de converter ou exterminar os infiéis. O grupo é o lar da identidade, o porto da plena segurança e a confirmação de estar do lado certo.

Como enfrentar os fundamentalistas? Estes são praticamente inacessíveis à argumentação racional. Nem por isso deve-se renunciar ao diálogo, à tolerância e o uso da razão para mostrar as contradições internas, subjacentes ao discurso e à prática fundamenalista. Por detrás do fundamentalismo político vigora uma experiência dolorosa de humilhação e de prolongado sofrimento. E procura-se infligir a mesma coisa ao outro, o que é manifestamente contraditório. Trazer o fundamentalista à realidade concreta, cheia de contradições, claro-escuros e nuances pode introduzir nele a dúvida e a insegurança. Estas possuem uma função terapêutica. Podem abrir uma brecha para a luz no muro das convicções cerradas e excludentes. Dialogar até a exaustão, negociar até o limite intransponível da razoabilidade, pode levar o fundamentalista a reconhecer o outro, seu direito de existir e a contribuição que poderá dar para uma convergência mínima na diversidade.

Estamos numa encruzilhada da história humana. Ou criar-se-ão relações multipolares de poder, equitativas e inclusivas com pesados investimentos na qualidade total da vida para que todos possam comer, morar com mínima dignidade e apropirar-se de cultura com a qual se possam comunicar com seus semelhantes, preservando a integridade e beleza da natureza ou iremos ao encontro do pior, quem sabe, ao mesmo destino dos dinossauros. Armas para isso existem e sobra demência. Faz-se urgente mais sabedoria que poder e mais espiritualidade que acúmulo de bens materias. Então os povos poderão se abraçar como irmãos na mesma Casa Comum, a Terra, e irradiaremos como filhos da alegria e não como condenados ao vale de lágrimas.

Por Leonardo Boff

O Espírito chega antes do missionário





Por Leonardo Boff

Um dos efeitos do processo de mundialização - que vai muito além de sua expressão econômico-financeira – é o encontro com todo tipo de tradições espirituais e religiosas. Instaurou-se um verdadeiro mercado de bens simbólicos no qual os vários caminhos, doutrinas, cerimoniais, ritos e esoterismos são oferecidos para atender à demanda de um número crescente de pessoas, geralmente, fatigadas pelo excesso de materialimso, racionalismo, consumismo e superficialismo de nossa cultura convencional.

Por detrás deste fenômeno há uma busca humana a ser entendida e também a ser atendida. O espiritual e o místico, à revelia das predições dos mestres da suspeita como Marx, Freud e Nietzsche, estão voltando com renovado vigor. Eles revelam uma dimensão esquecida do ser humano, vista pelos modernos, mais como expressão de patologia do que de sanidade. Hoje, entre os estudiosos das ciências da religião, ela está resgatando sua cidadania. Tem seu assento na razão sensível e cordial que não substitui mas completa a razão científico-calculatória. Nela se elaboram os grandes sonhos e surgem as estrelas-guias que dão rumo à nossa vida. A religião desvela o ser humano como projeto infinito e lhe brinda o objeto adequado que o faz descansar: o Infinito.

Os cristãos têm especial dificuldade no diálogo com as religiões. Sustentam a crença de que são portadores de uma revelação única e de um Salvador universal, Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado. Em alguns, esta crença ganha foros de fundamentalismo, dizendo, sem atalhos, que fora do Cristianismo não há salvação, repetindo uma versão de cariz medieval. Outros, a partir da própria Bíblia e de uma reflexão teológica mais profunda, sustentam que todos os seres humanos, também o cosmos, estão permanentemente sob o arco-iris da graça de Deus. Para os primeiros onze capítulos do Gênesis, nos quais não se fala ainda em Israel, como “povo eleito”, todos os povos da Terra, são povos de Deus. Isso permanece válido até os tempos atuais.

Ademais, dizem as Escrituras que o Espírito enche a face da Terra, perpassa a história, anima as pessoas a praticarem o bem, a viverem na verdade e a realizarem a justiça e o amor. O Espírito chega antes do missionário. Este, antes de anunciar sua mensagem, precisa reconhecer as obras que este Espírito fez no mundo e prolongá-las.

O Cristo não pode ser reduzido ao espaço palestinense. Ao assumir o homem Jesus de Nazaré, o Filho se inseriu no processo da evolução, tocou a realidade humana e ganhou uma dimensão cósmica. Coube ao teólogo franciscano Duns Scotus na idade média e a Teilhard de Chardin nos tempos modernos apontar que o Filho está presente na matéria e nas energias originarias e que foi densificando sua presença na medida em que se realizava a complexidade e crescia a consciência até irromper na forma de Jesus de Nazaré. Esta individuação não diminiu seu caráter divino e cósmico, de forma que pode irromper, sob outros nomes e sob outras figuras que revelam em suas vidas e obras a cercania do mistério de Deus. Para evitar certa “cristianização”do tema, podemos falar, como o fazem grandes tradições, da Sabedoria/Sofia. Ela está presente na criação, na vida dos povos e especialmente nas lições dos mestres e sábios. Ou se usa também a categoria Logos ou Verbo que revela o momento de inteligibilidade e ordenação do universo. Ele não fica uma Energia impessoal mas revela suma subjetividade e suprema consciência.

Estas visões ancoram nossa vida num sentido bom que nos permite suportar os avatares desta cansada existência.

Carta de São Francisco aos governantes dos povos





Quase no final de sua vida, Francisco de Assis escreveu uma carta aberta aos governantes dos povos. Mais de mil franciscanos, vindos do mundo inteiro, reunidos em Brasília em meados de outubro, tentaram reescrevê-la. Dei minha colaboração, proibida pelo bispo local, nestes temos:

“A todos os chefes de Estado e aos portadores de poder neste mundo, eu Frei Francisco de Assis, vosso pequenino e humilde servo, lhes desejo Paz e Bem.

Escrevo-vos esta mensagem com o coração na mão e com os olhos voltados ao alto em forma de súplica.

Ouço, vindo de todos os lados, dois clamores que sobem até ao céu. Um, é o brado da Mãe Terra terrivelmente devastada. E o outro, é a queixa lancinante dos milhões e milhões de nossos irmãos e irmãs, famintos, doentes e excluídos, os seres mais ameaçados da criação.

É um clamor da injustiça ecológica e da injustiça social que implora urgentemente ser escutado.


Meus irmãos e irmãs constituídos em poder: em nome daquele que se anunciou como o “soberano amante da vida”(Sabedoria 11,26) vos suplico: façamos uma aliança global em prol da Terra e da vida.

Temos pouco tempo e falta-nos sabedoria. A roda do aquecimento global do Planeta está girando e não podemos mais pará-la. Mas podemos diminuir-lhe a velocidade e impedir seus efeitos catastróficos.

Não queremos que a nossa Mãe Terra, para salvar outras vidas ameaçadas por nós, se veja obrigada a nos excluir de seu próprio corpo e da comunidade dos viventes.

Por tempo demasiado nos comportamos como um Satã, explorando e devastando os ecossistemas, quando nossa vocação é sermos o Anjo Bom, o Cuidador e o Guardião de tudo o que existe e vive.

Por isso, meus senhores e minhas senhoras, aconselho-vos firmemente que penseis não somente no desenvolvimento sustentável de vossas regiões. Mas que penseis no planeta Terra como um todo, a única Casa Comum que possuímos para morar, para que ela continue a ter vitalidade e integridade e preserve as condições para a nossa existência e para a de toda a comunidade terrenal.

A tecno-ciência que ajudou a destruir, pode nos ajudar a resgatar. E será salvadora se a razão vier acompanhada de sensibilidade, de coração, de compaixão e de reverência.


Advirto-vos, humildemente, meus irmãos e irmãs, que se não fizerdes esta aliança sagrada de cuidado e de irmandade universal deveis prestar contas diante do tribunal da humanidade e enfrentar o Juízo do Senhor da história.

Queremos que nosso tempo seja lembrado como um tempo de responsabilidade coletiva e de cuidado amoroso para com a Mãe Terra e para com toda a vida.

Por fim, irmãos e irmãs, modeladores e modeladoras de nosso futuro comum: recordeis que a Terra não nos pertence. Nós pertencemos a ela pois nos gestou e gerou como filhos e filhas queridos. Custo aceitar que depois de tantos milhões e milhões de anos sobre esse planeta esplendoroso, tenhamos que ser expulsos dele.

Pela iluminação que me vem do Alto, pressinto que não estamos diante de uma tragédia cujo fim é desastroso. Estamos dentro de uma crise que nos acrisolará, nos purificará e nos fará melhores. A vida é chamada à vida. Nascidos do pó das estrelas, o Senhor do universo nos criou para brilharmos e cantarmos a beleza, a majestade e a grandeza da Criação que é o espaço do Espírito e o templo da Santíssima Trindade, do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Se observardes tudo isso que Deus me inspirou para vos comunicar em breves palavras, garanto-vos que a Terra voltará novamente a ser o Jardim do Éden e nós os seus dedicados jardineiros e cuidadores”. Assinado F. de Assis.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

TESTEMUNHAS VIVAS DO AMOR DE DEUS




Todas as relações humanas, sejam elas entre pais e filhos, maridos e esposas, apaixonados e amigos, sejam elas entre membros duma comunidade, são para serem sinais do amor de Deus pela humanidade com um todo e por cada pessoa em particular. Este é um ponto de vista pouco comum, mas é o ponto de vista de Jesus. Jesus diz: «Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. É nisso que todos reconhecerão que sois meus discípulos» (Jo 13, 34-35). E como é que Jesus nos ama? Ele diz: «Como o Pai Me amou, assim vos amei Eu» (Jo 15, 9). O amor de Jesus por nós é a plena expressão do amor de Deus por nós, porque Jesus e o Pai são um. «O que Eu vos digo», diz Jesus, «não o digo de Mim mesmo, mas o Pai que está em Mim é que faz as obras. Acreditai que estou no Pai e o Pai em Mim» (Jo 14, 10-11).

Estas palavras, à primeira vista, podem parecer sobremaneira irreais e mistificadoras, mas têm implicações directas e radicais quanto à maneira de vivermos o nosso relacionamento diário.

Jesus revela-nos que somos chamados por Deus a ser testemunhas vivas do amor de Deus. E tornamo-nos essas testemunhas seguindo a Jesus e amando-nos mutuamente com Ele nos ama. O que tem isto a ver com o casamento, a amizade e a comunidade? É que a fonte do amor que sustenta estas relações não são os parceiros em si mesmos mas Deus que junta os parceiros.

Amar-se reciprocamente não é agarrar-se uns aos outros de modo a encontrar segurança num mundo hostil, mas viver em conjunto de tal maneira que todos nos reconheçam como povo que torna o amor de Deus visível no mundo. Não só provém de Deus toda a paternidade e maternidade, mas também toda a amizade, a camaradagem e o matrimónio, bem como a verdadeira intimidade e comunidade.

Quando vivemos como se as relações humanas fossem uma criação dos homens e, portanto, sujeitas às voltas e às mudanças dos regulamentos e costumes humanos, não podemos esperar nada senão uma imensa fragmentação e alienação que, de resto, caracterizam a nossa sociedade. Mas, quando proclamamos e reclamamos constantemente Deus como a fonte de todo o amor, então descobriremos o amor como um dom de Deus ao seu povo.

Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

A BÍBLIA SERVE A JESUS, NÃO JESUS À BÍBLIA!

Por Caio Fábio

É estranho como Jesus e os apóstolos não usaram a Bíblia como argumento de fé, exceto para os que cultuavam o Livro, no caso, os judeus; e olhe lá...
O máximo que Jesus disse foi “são as Escrituras que testificam de mim...”; e mais: “...mostrou o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras...” — mas não gastou tempo algum supostamente fazendo apologia de nada.
Afinal, a Bíblia jamais seria a apologia de Jesus; posto que Jesus fosse o Verbo vivo e falando o que a Bíblia nem poderia sonhar em falar, revelar e dizer...
Cristãos que vivem para defender a Bíblia ainda não conheceram Jesus mesmo!
Por isso não se vê Paulo, Pedro, João, Lucas e ninguém tentando provar Jesus em razão da Bíblia ser fidedigna!
Não! Fidedigno era o testemunho que eles davam...
Da Bíblia o que se pode dizer é que ela fé fiel como Palavra apenas porque afirma que Jesus é Deus e eu sou dos pecadores o principal!
O mais é um diletantismo ao qual Jesus jamais teria tempo e animo para se dar...
Depois que o Evangelho entrou em mim a Bíblia passou a ser apenas um Testemunho, mas não o Testemunho!
Sim, pois em mim o Testemunho é o do Espírito!
Afinal, é tudo tão simples!...
Sim, o que se diz é que o testemunho de Jesus é todo o espírito da profecia; ou seja: da revelação na Bíblia.
O mais não passa de mera ilustração...
É nessa fé/certeza que me sinto a cada dia mais inabalável Nele; e Nele apenas...