segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Palavra do Pároco
Amados irmãos e irmãs,
Dezembro inicia se como o mês da família anglicana. Os valores celebrados nestes dias são o de um Deus que vem habitar no seio da família humana, que se identifica com esta família a tal ponto de restaurá la em sua plenitude de imagem e semelhança de Deus.
As festas que se aproximam, iluminadas e iluminadoras devem apontar para o centro, JESUS CRISTO, qualquer outra coisa é mera ilusão. É entreter se com os presentes e não perceber que o Aniversariante é o motivo principal de nossa celebração.
De um modo muito particular nossa Paróquia de Todos os Santos prepara se para celebrar o Natal junto aos mais carentes e excluídos, junto das crianças portadoras ou não de deficiências. Por isso, quero agradecer o esforço de cada um de vocês por fazerem a alegria das 70 crianças que integram o Projeto Anglicana Kids.
Que Deus vos Abençoe e Boas Festas!
Santos (SP), 1º Dezembro de 2011
Reverendo Leandro Antunes Campos +
PÁROCO
domingo, 11 de dezembro de 2011
São Nicolau de Mira
São Nicolau de Mira, dito Taumaturgo, também conhecido como São Nicolau de Bari, é o santo padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega. É o patrono dos guardas noturnos na Armênia e dos coroinhas na cidade de Bari, na Itália, onde estariam sepultados seus restos.
É aceite que São Nicolau, bispo de Mira, seja proveniente de Patara, na Ásia Menor (Turquia), onde teria nascido na segunda metade do século III, e falecido no dia 6 de dezembro de 342.
Sob o império de Diocleciano, Nicolau foi encarcerado por recusar-se a negar sua fé em Jesus Cristo. Após a subida ao poder de Constantino, Nicolau volta a enfrentar oposição, desta vez da própria Igreja. Diante de um debate com outros líderes eclesiásticos, Nicolau levanta-se e esbofeteia um de seus antagonistas. Isso o impede de permanecer como um líder da Igreja. Nicolau, porém, não se dá por vencido e permanece atuante, prestando auxílio a crianças e outros necessitados.
A ele foram atribuídos vários milagres, sendo daí proveniente sua popularidade em toda a Europa e sua designação como protetor dos marinheiros e comerciantes, santo casamenteiro e, principalmente, amigo das crianças. De São Nicolau, bispo de Mira (Lícia) no século IV, temos um grande número de relatos e histórias, mas é difícil distinguir as autênticas das abundantes lendas que germinaram sobre este santo muito popular, cuja imagem foi tardiamente relacionada e transformada no ícone do Natal, Pai Natal (Papai Noel no Brasil) um velhinho corado de barba branca, trazendo nas costas um saco cheio de presentes.
É tido como acolhedor com os pobres e principalmente com as crianças carentes, o primeiro santo da igreja a se preocupar com a educação e a moral tanto das crianças como de suas mães.
sábado, 3 de dezembro de 2011
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
O Filho Pródigo
O Filho Pródigo
O filho de um dos fundadores de uma organização terrorista. Um ambiente indissolúvel de guerra. Um povo ansioso pelo combate. Uma prisão. Depois uma escolha, depois outra, e outra. O mulçumano convicto que passa por duas conversões totalmente inesperadas é Mosab Hassan Yousef, o protagonista da história real narrada por ele mesmo no livro “O Filho do Hamas”, uma obra literária de tirar o fôlego.
Depois de ser o dedicado filho mais velho do xeique Hassan Yousef, Mosab, um jovem palestino que anseia seguir a carreira dedicada e religiosa do pai, decide se envolver na guerra em que todo o seu povo já está envolvido: militando contra Israel, que domina os territórios palestinos. Seu pai é um dos fundadores do Hamas, um movimento islâmico de resistência fundado em 1986, a partir de um encontro secreto com o objetivo de “mobilizar o povo palestino a fazê-lo entender a necessidade de independência sob a bandeira de Alá e do islamismo” (pg. 35). Como qualquer outro palestino, Mosab desejava ser um herói, ter armas, ser temido e defender a bandeira do seu povo. Por isso começou atirando pedras em colonos israelenses e depois de adquirir uma arma, foi parar na prisão. E recebeu uma proposta que mudou sua vida.
Em “O Filho do Hamas”, o leitor se depara com uma possibilidade duplamente milagrosa. Um palestino que aceita ser espião do Shin Bet – serviço secreto interno israelense. E que, depois de descobrir as boas intenções de Israel e a insanidade das facções terroristas, descobre a Bíblia e as palavras “amai vossos inimigos”. O resultado é sublime e assustador. Nas páginas escritas por Mosab, ficamos cara a cara com uma história de genuína conversão, com alguém que descobriu a verdade sobre seu povo, sua religião e, principalmente, sobre si mesmo.
É uma grande experiência mergulhar na vida deste palestino e acompanhar sua afeição pelo pai, a habilidade de, silenciosamente, salvar milhares de vida, a coragem de ter duas vidas perigosas ao mesmo tempo e, principalmente, sua grande sinceridade. Sinceridade é a palavra chave para esta obra e para seu autor. No livro, Mosab não tem meias palavras, é extremamente leal ao que pensa e aos fatos que viu como espião durante anos.
Com um enredo cheio de espionagem policial e situações “entre a vida e a morte”, o livro que não nos faz sentir falta de um romance, traz uma mensagem cheia de esperança: o conflito de povos milenares tem solução, assim como os nossos conflitos pessoais tem solução. E é uma pessoa: Jesus Cristo de Nazaré. O homem que andou pelo Oriente Médio por pouco mais de 30 anos, seus ensinos, suas palavras, sua vida é, irremediavelmente, nossa única solução.
Do livro:
O FILHO DO HAMAS
Mosab Hassan Yousef com Ron Brackin
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
1 Dezembro: Dia Mundial de Luta Contra AIDS
Proclamamos as Boas Novas do Evangelho: que Deus enviou Jesus Cristo para amar e receber em seu Reino a todas as pessoas que vivem e convivem com HIV/AIDS. O Filho de Deus, como pessoa que foi, padeceu suas próprias dores, e tomou para si as dores do mundo, viveu a experiência de ser discriminado e, por isso, pode acolher, incondicionalmente, seus irmãos e irmãs.
Batizamos, ensinamos e nutrimos pastoralmente os fiéis, independentemente de sua sorologia, seja ela positiva ou negativa, pois viver e conviver com HIV/AIDS não é um castigo de Deus e também não é um motivo para afastá-los da comunhão na Igreja. Incluímos todas as pessoas nos serviços religiosos da comunidade, garantindo-lhes, de forma plena, o livre acesso aos Santos Sacramentos.
Servimos com amor as pessoas necessitadas, procurando escutar suas histórias, levando-lhes consolo, em suas dores, sofrimentos e adversidades do cotidiano, mostrando sempre que existe esperança, mesmo em tempos de HIV/AIDS. A vida de quem vive com HIV/AIDS não está centralizada no vírus e/ou na doença, mas na pessoa, morada do Espírito Santo. Ela deve ser tratada com dignidade, respeito e justiça, com seus direitos assegurados.
Lutamos pela transformação das estruturas sociais injustas, responsáveis pela pandemia de HIV/AIDS no mundo. Denunciamos que a AIDS não é um problema moral ou religioso, mas um problema de saúde pública a ser tratado por toda Sociedade e pelo Governo. Discursos religiosos preconceituosos e discriminatórios em relação às pessoas que vivem e convivem com HIV/AIDS, possibilitam uma maior disseminação da doença por criarem ambientes frágeis e vulneráveis para sua propagação.
Zelamos pela integridade da vida em todas as suas manifestações, independentemente de credo, gênero, orientação sexual, raça/etnia, e classe social, porque apoiamos o uso do preservativo em todas as relações sexuais, o acesso gratuito aos medicamentos para o tratamento da doença e juntamos nossos esforços pela busca de uma vacina eficaz e acessível contra esse vírus. Acreditamos serem pecados contra Deus os discursos e as práticas religiosas que rejeitam a prevenção, e prometem a cura da AIDS através do abandono do tratamento medicamentoso.
Assim afirmamos nossa esperança e compromisso, inspirados na Santíssima Trindade, de que é possível Construirmos um Mundo sem AIDS.
AMÉM!
“Um Credo para um Mundo sem AIDS” foi inspirado nas Cinco Marcas da Missão do Conselho Consultivo Anglicano. (Elaborado para uso na Liturgia do dia 1 de dezembro de 2009)
Autores: Reverendo Arthur Cavalcante da Paróquia Anglicana da Santíssima Trindade na Cidade de São Paulo e Srª Ilcélia A. Soares, leiga da Diocese Anglicana do Recife e ativista em HIV/AIDS
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Celebremos o nascimento de Cristo!
Mensagem de Advento por D.Roger Bird, Bispo da DASP.
Advento 2011
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domingo, 27 de novembro de 2011
Liberdade sob a obediência a Deus
Trecho do livro "Ética"(Editora Sinodal, 2005) de Dietrich Bonhoeffer.
"...Jesus está diante de Deus na qualidade de pessoa obediente e livre. Como obediente, ele cumpre a vontade do Pai em cega obediência à lei que lhe foi imposta. Como livre, ele confirma esta vontade de conhecimento próprio, de olhos abertos e de coração alegre, recriando-a, por assim dizer, a partir de si mesmo. Obediência sem liberdade é escravidão, liberdade sem obediência é arbitrariedade. A obediência disciplina a liberdade, a liberdade enobrece a obediência. A obediência vincula a criatura ao Criador, a liberdade coloca a criatura em sua semelhança a Deus diante do Criador. A obediência mostra ao ser humano que ele tem que ouvir o que é bom e o que Deus exige dele (Mq 6.8), a liberdade permite que o próprio ser humano crie o bem. A obediência sabe o que é bom e o faz, a liberdade arrisca agir e confia a Deus o julgamento sobre bem e mal. A obediência cumpre cegamente, a liberdade tem olhos abertos. A obediência age sem perguntar, liberdade pergunta pelo sentido. A obediência tem mãos amarradas, a liberdade é criativa. Na obediência o ser humano cumpre o Decálogo de Deus, na liberdade ele cria novos decálogos (Lutero)."
Onde Estás?
Por John Charles Ryle (10 de maio de 1816 - 10 de junho de 1900) primeiro Bispo de Liverpool da Igreja da Inglaterra.
A pergunta que está diante de teus olhos, foi a primeira que Deus fez ao homem depois da queda. É a pergunta que Ele fez a Adão no dia em que comeu do fruto proibido e se converteu em um pecador.
Adão e sua esposa trataram em vão de se esconder entre as árvores do jardim do Édem. Foi em vão que tentaram escapar dos olhos de Deus. Ouviram a voz do Senhor andando na viração do dia: “E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim”.
Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: “Onde estás?” (Gn3:8-9) Quão terrível deve ter sido para Adão este momento!
Amigo, já passaram muitos anos desde que esta pergunta foi feita pela primeira vez. Há milhões de filhos de Adão que tem estado sobre a terra, cada um com uma alma que ou foi salva ou se perdeu. Mas não há qualquer pergunta, que já tenha sido feita, mais solene do que esta: Onde estás? Onde estás diante dos olhos de Deus? Vem agora, e com atenção, para que eu te diga umas poucas coisas te darão luz sobre esta questão.
Não sei se és um homem de igreja ou um séptico, se és sábio ou tolo; rico ou pobre, velho ou jovem, pois nada disso interessa. Pois tu tens uma alma imortal que necessita ser salva. Já que tens de apresentar-te diante do trono do juízo de Deus, e que necessitas estar preparado para isto. Pois sem Jesus e sua cruz certamente serás condenado. Somente a Bíblia contém tais assuntos solenes sobre os habitantes da terra e desejo que todo homem, mulher ou criança os conheça. Creio em cada uma das palavras da Bíblia, e por isso pergunto a cada leitor: Onde tu está diante de Deus?
1. Em primeiro lugar, conforme declaram as Escrituras, há muitas pessoas pelas quais, ao pensar nelas, eu temo. Leitor, és tu uma delas?
Tais pessoas, se é que as palavras da Bíblia tem algum valor, são aquelas que não foram convertidas, não nasceram de novo. Tais pessoas não estão justificadas, Não estão santificadas. Não possuem o Espírito. Não possuem fé, nem graça. Seus pecados não são perdoados. Seus corações não foram transformados. Necessitam de piedade, justiça e santidade.
Algumas destas pessoas, não pensam em suas almas mais do que a de um animal que morre. Não há nada que mostre que pensam em suas vidas mais do que um cavalo ou uma mula, que não possuem entendimento. Seu tesouro está todo, evidentemente, neste mundo. Suas boas novas se acham deste lado do túmulo. Sua atenção está voltada para as coisas que perecem. Comida, bebida, vestes, dinheiro, casas e propriedades, negócios, prazer e política, casar-se, alegrar-se e festejar, estas são as coisas que ocupam o seu coração. Vivem como se a Bíblia não existisse. Caminham como se a ressurreição e o juízo eterno não fossem reais. E quanto a graça, a conversão, a justificação e a santidade, estas são coisas que não o preocupam, se não é que as depreciam e desprezam. Tais pessoas irão morrer. Serão julgadas. E, contudo, se acham mais endurecidos que o próprio diabo, pois parecem não crer nem temer. Oh!, em que estado se encontra sua alma que é imortal! Quão freqüente é este caso!
Algumas pessoas falam que são religiosas, mas depois de tudo sua religião não é mais do que uma forma externa. Professam ser cristãos. Vão a um lugar de culto aos domingos. Porém, isto é tudo. Onde se encontra a religião do Novo Testamento em suas vidas? Em parte alguma! O pecado não é considerado por eles como o seu pior inimigo, nem o Senhor Jesus como seu melhor amigo. A vontade de Deus não é a regra para sua vida , tampouco a salvação é algo indispensável a sua existência. Um espírito de sono domina o seu coração e se acham satisfeitos e contentes.
Deus lhes fala constantemente, por meio de suas misericórdias, suas aflições e aos domingos por meio dos sermões, mas não escutam o chamado de Jesus à porta de seus corações e, por isso, não o abrem para Ele. Se lhes fala da morte e da eternidade, não lhes interessa. Se lhes adverte contra o amor ao mundo, constantemente se lançam a ele sem pesar. Ouvem falar que Cristo veio ao mundo para morrer pelos pecadores, mas isto não os comove. Parece que só há lugar em seus corações para prazeres e coisas vãs, mas não para Deus. Que condição se encontram tais pessoas! Porém, isto é muito comum!
Leitor, solenemente eu quero perguntar a tua consciência, diante de Deus, se tu és uma destas pessoas? Há milhares delas em nosso país, dito, cristão. És uma delas? Se o és, tenho medo e temo por ti, fico alarmado grandemente.
O que eu temo? Temo que se continuares nesta condição, desprezando a Cristo, continuareis em pecado até que o endurecimento te deixe indiferente ao perdão. Temo que sejas levado a um sono fatal do qual não mais serás despertado. Temo que este coração endurecido só poderá ser quebrado ao som da trombeta de Deus e o teu sono despertado pela voz do arcanjo. Temo que este teu apego ao mundo só poderá ser rompido pela morte. Temo que vivas sem Cristo, morras sem perdão, ressuscites sem esperança, para receber um juízo sem misericórdia, que te lançarás na condenação.
Leitor, tenho de te advertir para que fujas da ira que virá, assim como Deus advertiu a Ló. Te rogo que recordes de que tudo o que a Bíblia diz é verdadeiro e há de se cumprir; que o fim deste teu caminho presente, é miséria e aflição; que sem santidade ninguém poderá ver a Deus; que os homens maus irão para o inferno; e que todas as pessoas que se desviam de Deus terão de prestar contas de seus atos; e que pecadores, sem Cristo, não poderão resistir a Sua vista, porque Ele é santo e é fogo consumidor. Desejo que consideres seriamente nestas coisas.
Conheço bem os pensamentos que satanás tem posto em teu coração quando lês estas palavras. As desculpas que irás dar. Tu dirás: "A religião é boa, mas o homem tem que viver". Respondo: "Sim, é verdade, mas também é certo que haverás de morrer". Podes dizer-me: "O homem tem que trabalhar para ganhar o seu pão; não tenho tempo para mais nada; Não se pode morrer de fome". Sim, não quero que ninguém morra de fome, mas também não desejo que morras condenado. Ou ainda dirás: "O homem tem que se ocupar com seus negócios, primeiro". Eu te digo: "Sim, mas o negócio mais importante para o homem é a sua alma e as coisas referentes a sua eternidade".
Leitor, te rogo com amor, aparta-te de teus pecados, arrepende-te e converte-te. Te rogo que mudes o curso de tua vida, que alteres teu caminho, reconsideres quanto a religião, que corrijas o descuido de tua alma, e que passes a ser um novo homem. Te ofereço, por Jesus Cristo, o perdão de teus pecados passados – gratuitamente – um perdão para o presente e para todo o sempre. Te digo em nome do Mestre, que se te voltares para o Senhor Jesus Cristo, este perdão será teu. Oh! Não recuses esta exortação! Não ouviste que Cristo morreu por ti, que derramou seu sangue por ti e que sofreu na cruz por ti? Como podes ficar indiferente? Não ameis a este mundo, que perece, mais do que amas a vida eterna. Decide-te. Deixa o caminho largo que conduz a perdição. Levanta-te e escapa para salvar a tua alma enquanto tens tempo. Arrepende-te, crê e serás salvo.
Leitor, temo pelo teu estado presente. O desejo do meu coração e a minha oração é que Deus te ensine a temer por ti mesmo.
A pergunta que está diante de teus olhos, foi a primeira que Deus fez ao homem depois da queda. É a pergunta que Ele fez a Adão no dia em que comeu do fruto proibido e se converteu em um pecador.
Adão e sua esposa trataram em vão de se esconder entre as árvores do jardim do Édem. Foi em vão que tentaram escapar dos olhos de Deus. Ouviram a voz do Senhor andando na viração do dia: "E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?"(Gn3:8-9) Quão terrível deve ter sido para Adão este momento!
Leitor, onde tu está diante de Deus?
2. Em segundo lugar, há muitas pessoas sobre quem a Bíblia me ensina que eu deveria ter dúvidas. Leitor, és tu uma delas?
A) Há muitos a quem devo chamar "quase cristãos", porque não conheço outra expressão na Bíblia que descreva exatamente o seu estado. Existe neles muitas coisas corretas, boas e dignas de louvor a vista de Deus. Suas vidas são moralmente corretas. Se encontram livres de pecados grosseiros e evidentes. Possuem hábitos decentes e apropriados. São diligentes no uso dos meios de graça. Parecem amar a pregação do evangelho. Não se ofendem ao ouvir falar de Jesus, mesmo que se pregue a verdade a seu respeito. Não recusam as companhias religiosas. Estão de acordo quando lhes falam de sua alma e com tudo o que lhes dizem. E tudo isto é bom.
Contudo não há movimento em seu coração, pelo menos que possa descobrir sem o uso de um microscópio. Temos a impressão de que está parado. Semana após semana, os anos se passam e sempre estão no mesmo lugar. Aprovam os sermões, mas não lhes serve para melhorar. Sempre regulares e constantes, fazendo uso dos meios de graça, a mesma conversação sobre religião, porém, nada mais que isto. Não há progresso em seu cristianismo. Não há vida, nem coração nem autenticidade neles. Suas almas estão estagnadas. Estão longe de estar bem.
Leitor, és tu um destes? Há milhares deles em nossas igrejas. É este o estado de tua alma a vista de Deus? Responde com franqueza. Caso sejas um destes, tua condição não é satisfatória. Como o apóstolo disse aos gálatas, digo eu também: "Receio de vós outros".
Como poderia ser diferente? Existem dois campos oposto neste mundo, o de Cristo e o do diabo; e não se vê nitidamente a qual deles pertences. Não posso dizer que és descuidado quanto a religião, mas não posso te considerar decidido por Cristo. Te apartas dos ímpios, no entanto, não posso te ver entre os filhos de Deus. Tens alguma luz, mas é o conhecimento que salva? Possuis algum sentimento, mas é graça? Não és um "descrente" mas pertences a Deus? É possível que sejas "povo de Deus", no entanto, vives tão perto da fronteira que é difícil discernir a que nação pertences. Pode ser que não estejas espiritualmente morto mas és como uma árvore no inverno. E assim vives sem dar evidências satisfatórias. Não posso deixar de duvidar de teu estado e se há dúvida é porque há razão para isto.
Não posso ver o recôndito do teu coração. Quem sabe haja algum pecado predileto que não queres renunciar. Esta é uma enfermidade que impede o teu crescimento e o de muitos cristãos. Quem sabe temes aos homens, temes a teus companheiros. Isto é uma prisão para muitas almas. Ou talvez sejas descuidado quanto a oração em secreto ou com a comunhão com Deus; esta é uma razão porque muitas pessoas são fracas e enfermas de espírito. Mas qualquer que seja a razão, te advirto que em todos os teus afetos deves ter cuidado com o que fazes. Teu estado não é satisfatório nem seguro. Como os gibeonitas vais com o povo de Israel, e como eles não possuis herança, consolação ou recompensa. Oh! Desperta e atenta para o perigo que corres! Esforça-te por entrar.
Leitor, tens de renunciar o andar coxeando entre duas opiniões se queres desfrutar de uma real evidência de salvação. Tem que haver uma mudança em ti. Tens que dar um passo adiante. Não se pode estar parado no verdadeiro cristianismo. Se a obra de Deus não vai adiante no coração do homem, é a obra do diabo que prospera nele; e se o homem se encontra sempre no mesmo ponto, quanto a religião, é mais provável que não haja verdadeira religião. Não basta vestir a armadura externa, temos de lutar as batalhas de Cristo. Não basta deixar de fazer o que é mal; é necessário que se aprenda a fazer o bem. Não basta não causar dano; é necessário trabalhar para fazer o bem. Óh! Cuida para não seres achado como um servo inútil, e como tal sejas tratado. Lembra-te que quem não está com Cristo é contra Ele.
Leitor, te rogo que não descanses até que tenhas descoberto se há graça em teu coração ou não. Os desejos, os bons sentimento, as convicções, tudo isto tem a sua importância, porém, não podem te salvar. É bom ver os brotos em uma árvore, porém, é muito melhor ver os seus frutos. Os simples ouvintes da palavra ao lado do caminho não deitam raízes. Os que crescem em terreno pedregoso escutam com alegria, mas a Palavra não penetra. Os que se acham entre os espinhos dão logo fruto, mas a palavra é afogada por este mundo. Nenhum deles é salvo. Temes diante da Palavra? O mesmo fez Felix, mas não foi salvo. Tu gostas de ouvir bons sermões e de fazer boas obras? O mesmo se passava com Herodes , porém não foi salvo. Lembra-te da mulher de Ló, Balaão e Judas Iscariotes. Todos eles tinham pontos bons. Porém não foram salvos.
Leitor, uma vez mais chamo a tua atenção sobre o que fazes. Se não procuras dar um passo adiante, como posso deixar de duvidar do estado de tua alma?
B) Há, porém, outros sobre quem tenho dúvidas e que estão em pior situação que os "quase cristãos". São os que uma vez professaram sua fé mas que voltaram a trás. Os quais voltaram ao mundo. Parece que voltaram para trás do ponto que haviam estado antes de conhecerem a religião.
Leitor, é este o estado de tua alma? Se é assim, sabe com certeza que tua situação é terrivelmente insatisfatória. Não importa muito qual foi a tua experiência anterior. Serve muito pouco que já fostes contado entre os verdadeiro cristãos. Tudo não passou de um erro ou de uma ilusão. É a tua condição presente que deves considerar e esta é terrivelmente duvidosa.
Creio que houve um tempo em que os verdadeiros cristãos se regozijavam em ti. Parecia que amavas o Senhor Jesus sinceramente e estavas disposto a deixar o caminho largo e seguir o Evangelho. A Palavra de Deus te parecia preciosa; a voz do pastor, agradável; a congregação do povo de Deus, o melhor lugar. Nunca faltavas as reuniões. Sempre tinhas a Bíblia nas tuas mãos. Não havia dia que não oravas. Teu zelo era fervente. Andaste bem por um tempo. Porém, Óh! Leitor, onde te encontras agora? Voltaste para o mundo. Tu te detiveste e olhaste para trás. Estás novamente a praticar as obras do velho homem. Tens abandonado o teu primeiro amor. Tua bondade era como nuvem matutina e como orvalho tem se desvanecido. Tuas convicções estão secando, trocam as cores pelas folhas secas do outono, que logo caem e desaparecem. A pregação em que outrora te deleitavas, agora te enfadam e cansam. Os livros que lias com avidez, já não te causam prazer. O progresso do Evangelho de Cristo já não te interessa. Já não buscas a companhia dos filhos de Deus. Te sentes tímido diante dos santos, impaciente se te admoestam, inseguro em teu humor, descuidado em teus pecados e sem apreensão a te misturar com o mundo. Em outro tempo não eras assim. É possível que conserves alguma forma religiosa, mas a piedade vital está se esfriando rapidamente. Agora és fraco e morno, logo estarás frio e morto, mais do antes. Estás ofendendo o Espírito que logo te deixará. Tentas o diabo, que logo te dominará; teu coração está disposto para ele. Óh! Leitor, reforça os laços que, ainda, te mantém unido a Deus antes que se enfraqueçam e rompam. Como é possível que eu deixe de duvidar de tua alma?
Não posso te deixar sem antes tentar fazer algo por ti. Sofro por te ver tão infeliz. É inútil que o negues: é o teu estado desde que voltaste a trás. És infeliz em tua casa e fora dela, só ou acompanhado, quando estás deitado e quando te levantas. Podes ter riquezas, honras, amor, amigos; mas o espinho segue encravado. Há fome de consolação em ti, desejas paz interior. Está enfermo e teu coração, descontente com todos e especialmente contigo mesmo. És um pássaro fora do seu ninho: nunca se encontra bem em parte alguma. Conservas demasiada religião para não gozar do mundo e muito pouca para te alegrar em Deus. Temes morrer e temes viver.
Leitor, a pesar de teres voltado a trás, há esperança para ti. Não há enfermidade de alma que o Evangelho não possa curar. É um remédio que pode ferir o teu orgulho, mas é um remédio seguro. Este remédio é uma fonte aberta para lavar todos os pecados, a misericórdia gratuita de Deus em Cristo Jesus. Vem e te lava nesta fonte sem demora e Jesus Cristo te fará são.
Toma tua Bíblia e vê como Davi viveu em pecado durante um tempo e, contudo, quando se arrependeu e se voltou para Deus, encontrou misericórdia para si. Olha para Pedro e vê como ele negou o mestre três vezes e com juramento, contudo, quando se arrependeu e chorou amargamente e se humilhou, encontrou misericórdia para si. Ouve as consoladoras palavras de nosso Senhor e Salvador: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei", "Ora, tu te prostituíste com muitos amantes; mas, ainda assim, torna para mim, diz o SENHOR.", "ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã." E "Voltai, ó filhos rebeldes, eu curarei as vossas rebeliões. Eis-nos aqui, vimos ter contigo; porque tu és o SENHOR, nosso Deus." (Mateus 11:28; Jeremias 3:1; Isaías 1:18; Jeremias 3:22.)
Leitor, roga a Deus para que estas palavras não te cheguem em vão. Porém , lembra-te, até que voltes de tua apostasia tenho de ter dúvidas sobre tua alma
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Espiritualidade Anglicana presente em Franca SP
sábado, 5 de novembro de 2011
O que é um oblato beneditino?
A palavra oblato vem do latim oblatus, "oferecido". Na Regra do Patriarca São Bento = RB, tal adjetivo designa as crianças que eram oferecidos por seus progenitores para o serviço de Deus (na Escola do Serviço do Senhor = Mosteiro Cf. RB 59), e acabavam por tornarem-se, ou não, monges ou monjas.
No decorrer do tempo o adjetivo "oblato/a" passou a designar então os fiéis que, movidos pelo ardente desejo de viver de modo mais pleno o seguimento de Cristo, portanto, em uma mais autêntica vida cristã, se juntavam a determinado Mosteiro, de um modo estável, buscando viver a Regra dos Monges.
Se esses moram conjuntamente com os monges ou monjas, são designados oblatos(as) regulares = Obl. Reg. OSB, ao invés daqueles que continuam a se manter no mundo, buscando a fidelidade no bom cumprimento do seu estado de vida denominados oblatos seculares = Obl. Sec. OSB, com uma vida inspirada na Santa Regra.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Mensagem Pastoral
terça-feira, 25 de outubro de 2011
O que é um Bispo?
Por Leandro Antunes Campos*
Bispos como são conhecidos na IEAB emergiram nos tempos do Novo Testamento. Eles eram chamados pelo título de “episkopos”, uma palavra grega que significa “supervisor”. A Comunhão Anglicana hoje ensina que nós podemos traçar uma linha direta desde os primeiros supervisores da igreja até os bispos atuais. Os supervisores originais na igreja foram escolhidos pelos Apóstolos escolhidos por Jesus, os quais foram chamados para seguí-lo, e a quem Ele ensinou sua mensagem, e a quem Ele preparou para liderança.
Como nós sabemos, os primeiros seguidores de Jesus vinham do judaísmo. Mas a mensagem do evangelho mais e mais rapidamente começava a tocar a vida deles, especialmente através do ministério de São Paulo, o apóstolo dos gentios, pessoas de diferentes contextos e a grande expansão geográfica atraíam novas pessoas a fé cristã. Este crescimento não só adicionava problemas teológicos e organizacionais complexos, mas também compartilhava as responsabilidades na comunidade cristã e criava a necessidade por mais lideranças. Pessoas de profundo valor e posição de liderança eram escolhidas para assistir aos Apóstolos e seus sucessores com a passagem da fé para as novas gerações. Por volta do século 2, entretanto, menos mulheres foram sendo ordenadas para posições de lideranças na igreja. Esta exclusão permaneceu na Igreja até o final do século 20, mas as mulheres são novamente bem vindas a todas as ordens clericais, incluindo o ofício de Bispo (Episcopisa).
A Igreja ensinou que desde o princípio aqueles apóstolos e aqueles líderes que vieram depois deles são os chefes dos pastores da comunidade cristã, os chefes dos mestres, e os guardiães da unidade da igreja. Nós temos bispos na IEAB hoje porque nós acreditamos que eles são importantes para o governo e administração dos negócios da igreja de acordo com as normas e tradições inauguradas pelo próprio Cristo.
Hoje o ofício de bispo carrega um amplo leque de responsabilidades, incluindo a defesa da integridade da fé, confirmar e receber novos membros na igreja, ordenar e prover cuidado pastoral para presbíteros e diáconos em exercício, prover as lideranças na comunidade, administrar os negócios da diocese, e participar nas discussões da Comunhão Anglicana, nacional e mundialmente.
Tradução livre. Diocese de Virgínia.
*Presbítero da Diocese Anglicana de São Paulo.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
ENTENDENDO A FÉ
D. Laurence Freeman, OSB.
Tradução de Roldano Giuntoli
Em lugar de dedos que apontam para a lua, a doutrina ou o dogma viram-se para trás apontando para si mesmos. Tudo aquilo que questiona a crença, é então percebido como ameaçador, e aquilo que ameaça pode exalar um tipo de estranheza ou ameaça que incita o medo.
“Eu sou aquilo que eu acredito” é um princípio tão perigoso quanto “existo porque eu penso”. Então, aquilo que quero, ou tento, acreditar constitui minha identidade, meu eu, e assim, porque acredito nessas doutrinas, eu sou um cristão. Outras pessoas que não acreditam nessas declarações específicas são “não-crentes”. A crença na verdade, pode ser forte e verdadeira. Podemos ser leais a nossas convicções, e morrer defendendo o sistema do qual elas fazem parte. Todavia, esse tipo de convicção, aquela pela qual poderíamos morrer, deveria surgir a partir da experiência da fé, e não do medo de uma identidade ameaçada e insegura. Por que morrer, ou atacar outras pessoas, apenas com respeito a fórmulas verbais? Enquanto pensamos na fé como sendo constituída por convicção, falta-nos a dimensão completa da mente de Cristo.
Esta é a mente “católica” que, intrinsecamente, busca incluir e integrar, em lugar de excluir e condenar, sempre que se encontra com diferentes expressões de crenças que trazem à tona a incerteza natural em nosso próprio sistema. Percebemos que existem crenças em diferentes caminhos, e que outras pessoas sustentam as suas, tão sinceramente quanto sustentamos as nossas. Sem a fé, isso nos fará sentir dolorosamente ameaçados. Quando reagimos a partir de nossa própria insegurança, nós cristãos frequentemente descrevemos os devotos seguidores de outras religiões como não-crentes, apenas porque eles possuem diferentes crenças.
As diferenças, assim como os opostos, em última análise, resolvem-se apenas em Deus, que é infinitamente simples, o suficiente para contê-las todas. Apenas em Deus podemos encontrar os outros, e é no nível da fé, e não no da crença, que esse encontro ocorre.
As diferenças, assim como os opostos, em última análise, resolvem-se apenas em Deus, que é infinitamente simples, o suficiente para contê-las todas. Apenas em Deus podemos encontrar os outros, e é no nível da fé, e não no da crença, que esse encontro ocorre.
Fonte: site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã http://www.wccm.com.br/index.htm
Tradução de Roldano Giuntoli
Em lugar de dedos que apontam para a lua, a doutrina ou o dogma viram-se para trás apontando para si mesmos. Tudo aquilo que questiona a crença, é então percebido como ameaçador, e aquilo que ameaça pode exalar um tipo de estranheza ou ameaça que incita o medo.
“Eu sou aquilo que eu acredito” é um princípio tão perigoso quanto “existo porque eu penso”. Então, aquilo que quero, ou tento, acreditar constitui minha identidade, meu eu, e assim, porque acredito nessas doutrinas, eu sou um cristão. Outras pessoas que não acreditam nessas declarações específicas são “não-crentes”. A crença na verdade, pode ser forte e verdadeira. Podemos ser leais a nossas convicções, e morrer defendendo o sistema do qual elas fazem parte. Todavia, esse tipo de convicção, aquela pela qual poderíamos morrer, deveria surgir a partir da experiência da fé, e não do medo de uma identidade ameaçada e insegura. Por que morrer, ou atacar outras pessoas, apenas com respeito a fórmulas verbais? Enquanto pensamos na fé como sendo constituída por convicção, falta-nos a dimensão completa da mente de Cristo.
Esta é a mente “católica” que, intrinsecamente, busca incluir e integrar, em lugar de excluir e condenar, sempre que se encontra com diferentes expressões de crenças que trazem à tona a incerteza natural em nosso próprio sistema. Percebemos que existem crenças em diferentes caminhos, e que outras pessoas sustentam as suas, tão sinceramente quanto sustentamos as nossas. Sem a fé, isso nos fará sentir dolorosamente ameaçados. Quando reagimos a partir de nossa própria insegurança, nós cristãos frequentemente descrevemos os devotos seguidores de outras religiões como não-crentes, apenas porque eles possuem diferentes crenças.
As diferenças, assim como os opostos, em última análise, resolvem-se apenas em Deus, que é infinitamente simples, o suficiente para contê-las todas. Apenas em Deus podemos encontrar os outros, e é no nível da fé, e não no da crença, que esse encontro ocorre.
As diferenças, assim como os opostos, em última análise, resolvem-se apenas em Deus, que é infinitamente simples, o suficiente para contê-las todas. Apenas em Deus podemos encontrar os outros, e é no nível da fé, e não no da crença, que esse encontro ocorre.
Fonte: site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã http://www.wccm.com.br/index.htm
A Congregação dos OBLATOS ANGLICANOS DE SÃO BENTO (OASB)
Quem somos
Um grupo de cristãos, no povo de Deus, dentro da tradição anglicana, integrado por leigos e ministros ordenados, que por meio de sua oblação pessoal e voluntária comprometem-se a seguir nas devidas proporções a Regra de São Bento e os próprios Estatutos, sob a guia de nosso Prior e em comunhão fraterna com os demais membros do grupo, procurando tornar realidade em nossas vidas o lema básico dos beneditinos no mundo inteiro : ORAÇÃO E TRABALHO.
Esses dois pilares são interdependentes e simultâneos, conformando a vida pessoal e comunitária dos membros da Congregação.
Objetivos da Congregação
+ ORAÇÃO, com o sentido de Adoração, Louvor e Gratidão ao Senhor, e que se expressam na vivência de uma piedade Cristocéntrica e Trinitária, no amor e cultivo das Santas Escrituras e em todas as formas da Liturgia.
+ TRABALHO, com o sentido de cultivo da asceses e disciplina pessoais, para que junto com os demais membros da congregação, possamos servir e colaborar com todos os membros da Igreja na tarefa de transformação do mundo conforme os planos de Deus. Na visão beneditina, o trabalho é considerado extensão da obra de Deus e uma possibilidade de realização do ser humano no cumprimento de seu chamamento por Deus. Por isso, o oblato testemunha sua vocação e missão tornando cada lugar de atuação uma ''Igreja doméstica''.
Oração e Trabalho, os dois pilares da vida beneditina, tem como finalidade fazer, nas palavras de São Bento, que '' em tudo seja Deus glorificado''(RB 57,9)
Onde estamos
O núcleo da Congregação está na Diocese Meridional da IEAB (onde nasceu), e em 22 de junho de 1998 sua presença e trabalho foi autorizado na Diocese Sul-Ocidental, mas há membros também em outras dioceses da IEAB, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pelotas.
http://dm.ieab.org.br/ministerios/04_ordens_beneditinos.html
quinta-feira, 2 de junho de 2011
A Piedade Anglicana
Dom Luiz O. P. Prado, sub-prior da Congregação de Oblatos Anglicanos de São Bento -OASB e membro da Câmara dos Bispos da IEAB.
"Portanto, santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus. Guardai os meus mandamentos, e cumpri-os: Eu sou o Senhor que vos santifico". Levítico 20:7-8
A piedade Anglicana é uma das marcas que herdamos da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. É um carisma derivado da Encarnação de Deus em nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, sendo Católica, a piedade Anglicana é uma espiritualidade encarnada. Vivemos como povo do Sacramento dos santos mistérios do Corpo e Sangue do Senhor. Igreja Eucarística, ela nutre e desenvolve em seus filhos um viver atento - de escuta, obediência e resposta. Reconstituímos em nós o ideal anglicano do "viver e morrer santamente", em meio ao que há de mais crucial neste mundo humano, individualista, injusto e violento.
A Igreja não resulta de "atividades". Sua motivação primeira não a de ser "humanitária". Ela é anunciadora e a guardadora da revelação de Deus. Mãe e Mestra, vive e trabalha com os santos mistérios de Deus. Não somos "imago Dei" porque temos carne e sangue! Antes, recebemos em nós a "faísca" divina, o poder do uso da razão, a capacidade de escolha e o dom do amor. Todos, de uma ou de outra forma, refletimos algo de Deus. Por Ele fomos criados para uma vida de comunhão, com Ele mesmo e uns com os outros.
Pelos olhos da fé, olhamos para o Senhor e antevemos o que o ser humano pode ser - o que Deus espera sempre de nós. Ao mesmo tempo contemplando o Cristo, discernirmos os traços do rosto do Pai. É aí que a Fé Cristã fica sozinha. Central é, para nós, a certeza de que Deus se fez homem. Em Cristo vemos o que Deus oferece à humanidade - e o que a humanidade pode esperar de Deus.
Sem uma firme convicção na santa Encarnação de Deus, e na consequente vida sacramental da Igreja, não pode haver verdadeira paz, justiça, saúde, integridade da Criação, esperança e boa vontade entre os seres humanos. Não temos, como cristãos, andado o caminho todo. Não temos pronunciado "Creio" com total convicção. O ato da fé é dom de Deus, pelo qual precisamos rezar e pedir. O "ethos" litúrgico anglicano, nutrido e discipulado pelo Livro de Oração Comum, é nossa fonte mais eficaz para uma fé adulta, santa e contemporânea.
"Nada há que santifique tanto o coração, que nos guarde em amor, oração e alegria habitual em Deus; nada que seja capaz de aniquilar as raízes do mal em nossa natureza, que renove e aperfeiçoe tanto as nossas virtudes, que nos encha de tanto amor, bondade e caridade para com todas as criaturas - como esta fé de que Deus está sempre presente em nós, com Sua luz e seu Santo Espírito". William Law, teólogo ascético anglicano (1686-1761)
segunda-feira, 21 de março de 2011
Exposição de João 3:16
Comentário escrito por
John Charles Ryle
1º Bispo da Diocese da Igreja da Inglaterra em Liverpool.
“Então, lhe perguntou Nicodemos: Como pode suceder isto? Acudiu Jesus: Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto; contudo, não aceitais o nosso testemunho. Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem que está no céu. E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.” JOÂO 3:9-21
Temos nesses versículos a segunda parte da conversa entre o nosso Senhor Jesus Cristo e Nicodemos. Uma lição sobre a regeneração é seguida de perto por uma lição sobre a justificação! Toda a passagem deve sempre ser lida com afetuosa reverência. Ela contém as palavras que trouxeram vida eterna a miríades de almas.
Estes versículos nos mostram, em primeiro lugar, que pode haver grosseira ignorância espiritual na mente de um grande e erudito homem. Vemos um "mestre de Israel" não familiarizado com os primeiros elementos da religião salvadora. Ao ouvir sobre o novo nascimento, Nicodemos logo exclama: "Como pode ser isso?" Se tal era a escuridão de um mestre judeu, qual deveria ser o estado do povo judeu? Certamente era o devido tempo para a vinda de Cristo! Os pastores de Israel haviam cessado de alimentar o povo com conhecimento. O cego estava a guiar outro cego, e ambos estavam caindo no barranco. (Mateus 15:14.)
Ignorância como a de Nicodemos é infelizmente muito comum na Igreja de Cristo. Nunca devemos nos surpreender se encontrarmos isso onde poderíamos razoavelmente esperar o conhecimento. Instrução, classe e alto ofício eclesiástico não são provas de que um ministro é ensinado pelo Espírito. Os sucessores de Nicodemos, em cada época, são muito mais numerosos do que os sucessores de Pedro. Em nenhum ponto a ignorância religiosa é tão comum como na obra do Espírito Santo. Aquela velha pedra de tropeço, na qual Nicodemos tropeçou, é tanto uma ofensa a milhares de pessoas nos dias de hoje como era nos dias de Cristo. "O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus." (1 Cor 2:14) Feliz é aquele que tem sido ensinado a provar todas as coisas pela Escritura, e não chamar nenhum homem de mestre sobre a terra. (1 Ts 5:21;.Mat 23:9)
Estes versículos nos mostram, em segundo lugar, a fonte original da qual brota a salvação do homem. Essa fonte é o amor de Deus, o Pai. Nosso Senhor disse a Nicodemos: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."
Este versículo maravilhoso foi corretamente chamado por Lutero de “A Bíblia em miniatura”. Nenhuma parte dele, talvez, seja tão profundamente importante quanto às primeiras palavras: “Deus amou o mundo de tal maneira”. O amor do qual se fala aqui não é aquele amor especial com o qual o Pai considera seus eleitos, mas aquela poderosa piedade e compaixão que Ele tem em relação à totalidade da raça humana. Seu objetivo não é apenas o pequeno rebanho que Ele tem dado a Cristo desde toda a eternidade, mas o “mundo” todo dos pecadores sem qualquer exceção. Há um profundo sentido no qual Deus ama o mundo. Ele considera todos aqueles aos quais criou com piedade e compaixão. Ele não pode amar seus pecados - mas ama suas almas. “Suas ternas misericórdias são sobre todas as Suas obras.” (Salmo 145:9.) Cristo é o dom gratuito de Deus para o mundo todo.
Devemos tomar cuidado para que nossas visões do amor de Deus sejam bíblicas e bem definidas. Sobre esse assunto abundam erros por ambos os lados. Por um lado temos de ter cuidado de opiniões vagas e exageradas. Devemos manter firmemente que Deus odeia a impiedade, e que o fim de todos os que persistem na impiedade será a destruição. Não é verdade que o amor de Deus “é menor do que o inferno.” Não é verdade que Deus amou o mundo de tal maneira que toda a humanidade será salva no fim, mas que Ele amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho para ser o Salvador de todos que crêem. Seu amor é oferecido a todos os homens livremente, completamente, honestamente e sem reservas, mas é somente através do canal único de redenção de Cristo. Aquele que rejeita Cristo, corta a si mesmo fora do amor de Deus, e perecerá eternamente.
Por outro lado, devemos tomar cuidado com opiniões estreitas e contraídas. Não devemos hesitar em dizer a qualquer pecador que Deus o ama. Não é verdade que Deus não se importa com ninguém, a não ser seus eleitos, ou que Cristo não é oferecido a ninguém, a não ser aqueles que são ordenados à vida eterna. Há “bondade e amor” em Deus com relação a toda a humanidade. Foi em consequência desse amor que Cristo veio ao mundo, e morreu na cruz. Não sejamos sábios acima do que está escrito, ou mais sistemáticos em nossas declarações do que a própria Escritura. Deus não tem prazer na morte do ímpio. Deus não quer que ninguém pereça. Deus quer que todos os homens sejam salvos. Deus ama o mundo. (João 6:32; Tito 3: 4; 1 João 10; 2 Pedro 3:9. 1 Timóteo 4; Ezequiel 33:11)
Estes versículos nos mostram, em terceiro lugar, o peculiar plano pelo qual o amor de Deus proveu salvação para os pecadores. Esse plano é a morte expiatória de Cristo na cruz. Nosso Senhor disse a Nicodemos: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
Por ser “levantado”, nosso Senhor quis dizer nada menos que Sua própria morte na cruz. Porque a morte, Ele queria que nos soubéssemos, foi designada por Deus para ser "a vida do mundo." (João 6:51) Foi ordenada desde toda a eternidade para ser a propiciação e satisfação pelo pecado do homem. Foi o pagamento, por um Substituto e Representante Todo-Poderoso, da enorme dívida do homem a Deus. Quando Cristo morreu na cruz, nossos muitos pecados foram colocados sobre Ele. Ele foi feito “pecado” por nós. Ele foi feito "maldição" por nós. (2 Cor 5:21, Gal 3:13). Por sua morte Ele adquiriu o perdão e a completa redenção para os pecadores. A serpente de bronze, levantada no acampamento de Israel, trouxe saúde e cura ao alcance de todos aqueles que foram mordidos pelas serpentes. Cristo crucificado, da mesma forma, trouxe a vida eterna ao alcance da humanidade perdida. Cristo foi levantado na cruz, e o homem olhando para Ele pela fé, pode ser salvo.
A verdade diante de nós é a própria pedra fundamental da religião cristã. A morte de Cristo é a vida do cristão. A cruz de Cristo é o título do cristão para o céu. O Cristo “levantado” e colocado para vergonha no Calvário é a escada pela qual os cristãos "entram no santuário", e finalmente chegam na glória. É verdade que somos pecadores - mas Cristo sofreu por nós. É verdade que nós merecemos a morte - mas Cristo morreu por nós. É verdade que somos devedores culpados - mas Cristo pagou a nossa dívida com Seu próprio sangue. Este é o verdadeiro Evangelho! Essa é a boa notícia! Sobre isso nos apoiamos enquanto vivermos. Para isso nos agarraremos quando morrermos. Cristo foi "levantado" na cruz, e abriu as portas do Céu para todos os crentes.
Estes versículos nos mostram, em quarto lugar, a maneira pela qual os benefícios da morte de Cristo são feitos nossos: simplesmente por colocar fé e confiança em Cristo. A fé é a mesma coisa que crer. Três vezes o Senhor repete esta gloriosa verdade a Nicodemos. Duas vezes ele proclama que "todo aquele que crê não pereça." E a outra quando diz: "Aquele que crê no Filho de Deus não é condenado”.
Fé no Senhor Jesus é a própria chave da salvação. Aquele que a tem, tem vida, e aquele que não a tem, não tem vida. Nada além dessa fé é necessário para a nossa completa justificação; mas nada, exceto essa fé, nos dará um interesse em Cristo. Nós podemos jejuar e lamentar pelo pecado, e fazer muitas coisas que são corretas, realizar ordenanças religiosas, dar todos os nossos bens para sustento dos pobres, e ainda assim permanecer não perdoados, e perder nossas almas. Mas se nós apenas viermos a Cristo como pecadores culpados, e crermos Nele, nossos pecados serão de uma vez perdoados, e nossas iniqüidades serão inteiramente colocadas de lado. Sem fé não há salvação, mas pela fé em Jesus, o mais vil pecador pode ser salvo.
Se nós tivermos uma consciência pacífica na nossa religião, veremos que nossas visões de fé salvifica são distintas e claras. Tomemos cuidado com a suposição de que a fé justificadora é algo mais do que simples confiança de um pecador em um Salvador, o agarrar de um homem que se afoga na mão que o socorre. Tomemos cuidado para não misturar qualquer coisa com a fé em matéria de justificação. Devemos sempre nos lembrar que a fé aqui está inteiramente sozinha. Um homem justificado, sem dúvida, sempre será um homem santo. A verdadeira fé será sempre acompanhada por um viver piedoso. Mas o que dá ao homem um interesse salvifico em Cristo não é a sua vida, mas sua fé. Se quisermos saber se a nossa fé é genuína, fazemos bem em nos perguntar como estamos vivendo. Mas se queremos saber se somos justificados por Cristo, há apenas uma pergunta a ser feita. Essa pergunta é: "Nós cremos?"
Estes versículos nos mostram, por último, a verdadeira causa da perda da alma do homem. Nosso Senhor disse a Nicodemos: "Esta é a condenação, que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más"
As palavras diante de nós formam uma adequada conclusão para as gloriosas novas que acabamos de considerar. Elas inocentam completamente Deus de injustiça na condenação dos pecadores. Elas demonstram, em termos simples e inconfundíveis, que, embora a salvação do homem seja inteiramente de Deus, a sua ruína, se ele se extravia, será inteiramente de si mesmo. Ele colherá os frutos da sua própria semeadura.
A doutrina aqui estabelecida deve ser cuidadosamente guardada na memória. Ela fornece uma resposta a uma objeção comum dos inimigos da verdade de Deus. Não há um decreto de reprovação excluindo qualquer um do Céu. "Deus não enviou o Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo pudesse ser salvo por Ele." Não há nenhuma indisposição da parte de Deus em receber qualquer pecador, por mais que sejam grandes seus pecados. Deus enviou a "luz" ao mundo, e se o homem não vem para a luz, a culpa é inteiramente do homem. Seu sangue estará sobre a sua cabeça, se ele levar a naufrágio sua alma. A culpa estará na sua porta, se ele perder o Céu. Sua miséria eterna será o resultado de sua própria escolha. Sua destruição será a obra de suas próprias mãos. Deus o amava, e estava disposto a salvá-lo, mas ele "amou mais as trevas", e, portanto, as trevas devem ser a sua porção eterna. Ele não quis vir a Cristo, e portanto não pode ter vida. (João v. 40).
As verdades que temos considerado são peculiarmente importantes e solenes. Nós vivemos como se crêssemos nelas? Salvação pela morte de Cristo está próxima de nós hoje. Nós a temos abraçado pela fé, e a tornado nossa? Nunca descansemos enquanto não conhecermos a Cristo como nosso próprio Salvador. Olhemos para Ele, sem demora, por perdão e paz, se nós nunca olhamos antes. Continuemos a crer Nele, se já temos crido. "Todo aquele que" é a sua expressão graciosa - "todo aquele que Nele crê, não perecerá, mas tem a vida eterna.
FONTE:
Bispo J.C.Ryle – Pregando a Cristo Crucificado
http://bisporyle.blogspot.com/
Tradução: Emerson Pinheiro
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Anglicanismo
O Anglicanismo no mundo
Breve histórico
O cristianismo chegou à Inglaterra no século III quando a região estava sob o processo de colonização romana. Os legionários, mercadores, soldados e administradores levaram à colônia suas leis, costumes e religião. Entre eles havia aqueles que tinham abraçado a fé cristã e oravam secretamente a Deus, enquanto seus companheiros prestavam culto ao imperador e aos deuses das religiões de mistério.
A primeira referência histórica sobre a existência de cristãos na Grã-Bretanha foi registrada por Tertuliano que, em 208, fala de regiões da ilha que haviam se convertido ao cristianismo. No ano 314, três bispos ingleses participaram do Concílio de Arles, no sul da França. Esse fato mostra que já havia nas ilhas britânicas uma igreja organizada e reconhecida pelas demais. No começo do século V, os romanos abandonaram a Grã-Bretanha, permitindo a invasão dos anglo-saxões, que destruíram igrejas e reduziram a prática da fé cristã durante quase 150 anos.
O Cristianismo inglês viveu um período de duras perseguições. Os cristãos foram obrigados a se refugiar nas regiões montanhosas da Escócia, Irlanda e País de Gales. Ali, desenvolveram a Igreja celta, tendo como principais líderes São Patrício e São Columba e como centro missionário a abadia da Ilha de Iona, na Escócia. Era um Cristianismo inculturado e bastante diferente do Cristianismo romano, sobretudo pela grande liderança feminina. Em 597, o papa Gregório enviou uma comitiva de 40 monges, chefiada por Agostinho, para converter os bretões, mas ele encontrou uma Igreja lá organizada.
A presença romana não foi bem aceita, provocando uma tensa situação. Mas aquela igreja aprendeu desde cedo a conviver com as diferenças. No século VII a Igreja de Roma conseguiu dominar a Igreja celta e submetê-la à liturgia latina e à autoridade papal. Tal domínio persistiu até a separação provocada pelo rei Henrique VIII no século XVI.
A atitude do rei, motivada por fatores políticos, econômicos e pessoais acabou favorecendo a igreja inglesa que deu apoio ao rei. Afinal, era também interesse dos cristãos e cristãs da Inglaterra resistir à antiga intromissão papal e afirmar sua identidade. A Catedral de Cantuária na Inglaterra,é a mais antiga diocese anglicana e símbolo de unidade entre as igrejas anglicanas ao redor do mundo.
O anglicanismo nunca renunciou à sua tradição católica. Por isso nossa identidade preserva o que julgamos mais belo e precioso nessa tradição, ao mesmo tempo em que incorporamos valores e ênfases positivas das igrejas evangélicas
Reforma religiosa – independência em relação a Roma e aproximação com o protestantismo clássico
Os primeiros sinais da reforma inglesa que vão eclodir na separação provocada por Henrique VIII, em 1534, começaram, na verdade, com Santo Anselmo de Cantuária (1034-1109). Essa luta iniciada no século XI confirmou, mais tarde, que a Inglaterra fez sua reforma religiosa debruçada sobre si mesma e não por influência direta dos reformadores continentais (Lutero, Zwínglio e Calvino).
Henrique VIII, portanto, não fundou uma nova igreja como muitos alegam. O rei simplesmente atendeu a anseios existentes em grande parte da população inglesa e separou a igreja que já existia na Inglaterra da tutela e controle romanos por razões políticas, econômicas, religiosas e também pessoais. Durante quase mil anos a Igreja da Inglaterra estivera sob o domínio direto de Roma. Henrique VIII rompeu essa antiga filiação eclesiástica com o apoio do Parlamento. Separada e independente, a Igreja da Inglaterra continuou sua milenar caminhada na história, alternando períodos de influência ora romanístas, ora protestantes.
Em 1559, começou o reinado de Elisabeth I. A era elizabetana foi um período de consolidação da identidade anglicana como Igreja ao mesmo tempo católica e com influências protestantes.Nessa época se iniciou a colonização da América do Norte. Naquelas terras a igreja anglicana se desenvolveu rapidamente. Quando os Estados Unidos da América do Norte declararam sua independência em 1776, a igreja anglicana daquele país adotou o mesmo princípio de “igrejas autônomas”) e tornou-se independente da tutela britânica passando a se chamar “Igreja Protestante Episcopal dos Estados Unidos da América”. Seu primeiro bispo foi sagrado em 1784. Assegurada a sucessão apostólica, a igreja americana se desenvolveu rapidamente, criando dioceses, paróquias e inúmeras instituições. Foi da Igreja Episcopal norte-americana que vieram os primeiros missionários para o Brasil no século XIX implantar uma Igreja entre brasileiros.
O anglicanismo se expandiu também para outras partes do mundo, estando presente em todos os continentes. As Igrejas de tradição anglicana formam a Comunhão Anglicana internacional, da qual a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil é membro pleno, participando das Conferências de Lambeth, do Encontro de Primazes e do Conselho Consultivo Anglicano.
Para maiores detalhes sobre a história do anglicanismo, clique no link “Textos sobre Anglicanismo”. Veja também o site da Comunhão Anglicana Internacional: http://www.aco.org/
Credos históricos da Igreja Cristã
Credo Apostólico
"Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu Filho Unigênito, nosso Senhor, o qual foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao mundo dos mortos, ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu e está sentado a direita de Deus Pai, Todo-Poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espirito Santo, na santa Igreja cristã, a comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e na vida eterna. Amém."
Credo Apostólico Ecumênico
Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,que foi concebido pelo poder do Espírito Santo. Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos. Ressuscitou ao terceiro dia. Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Universal, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressureição do corpo, na vida eterna. Amém.
Credo Niceno Constantinopolitano
Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis e invisíveis. Cremos em um só Senhor: Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não feito; consubstancial com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas; que, por nós e por nossa salvação, desceu dos céus, e se encarnou, por obra do Espírito Santo, da virgem Maria, e se fez homem. Foi tambem crucificado, sob o poder de Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu aos céus, e está sentado à direita do Pai. Virá outra vez com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu Reino não terá fim. Cremos no Espírito Santo, o Senhor que dá vida, e procede do Pai e do Filho; que, com o Pai e o Filho, é juntamente adorado e glorificado; Ele, que falou pelos profetas. E cremos na Igreja una, santa, universal e apostólica. Reconhecemos um só Batismo para remissão dos pecados. E esperamos a ressureição dos mortos e a vida do mundo que há de vir. Amém.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
S.João Crisóstomo
Nasceu na Antioquia e viveu de 344 a 405 (ou 407). Tinha inclinações para asceta, diretor de consciências e pregador de massa. Porém, não tinha senso político e era intransigente nos seus princípios. Ele figura entre os quatro grandes Padres do Oriente. Deixou uma grande obra escrita que se divide em três classes: homilias; tratados e cartas. As homilias se dividem em homilias sobre o Antigo Testamento, sobre o Novo Testamento e homilias dogmáticas e polêmicas. A citação, no caso, é das homilias do Novo Testamento, sobre o Evangelho de São João. Como pregador, muitas vezes tomava a defesa dos pobres que estavam padecendo necessidade: “nunca pactuou com o escândalo da riqueza e do luxo que se expõem aos olhos dos pobres”. Erguendo a voz contra a opressão dos ricos, o luxo e a cobiça, lembrando os limites da propriedade e a dignidade do homem. Reagindo, também, contra a escravidão e a sua alienação. Quando assumiu o episcopado de Constantinopla, S. João Crisóstomo, segundo Hamman, “Despojou a casa episcopal do luxo acumulado por seu predecessor, acabou com as recepções suntuosas, levando uma vida frugal”. Além disso, corrigiu abusos clericais e monacais, instituiu hospitais e asilos e empreendeu evangelização na zona agrícola.
sábado, 22 de janeiro de 2011
Espírito e arte
Espírito e arte
Jaci Maraschin
Quando se fala de espírito estamos em face de um termo altamente equívoco e, portanto, plurívoco. A mesma coisa acontece com o termo arte. Cada orientação filosófica, religiosa e artística entende esses termos de maneiras diferentes. Além disso, no interior de cada uma dessas condições os significados se fragmentam e “espírito e arte” passam a querer dizer qualquer coisa segundo preferências, interesses e posições. Entre os filósofos, teólogos e artistas do mundo antigo e os da pós-modernidade a gama de nuances é enorme. Os que se acostumaram com o pensamento antigo situam o espírito mais para o lado da essência e da abstração do que os pensadores atuais. Os que praticam métodos acadêmicos para a produção e, conseqüentemente, para a produção de obras de arte não consideram arte o que faz, por exemplo, Duchamp. No campo da música as repetições do minimalismo e as dissonâncias da “música nova”, por exemplo, parecem pertencer a outra categoria de criação estética se comparadas com a música harmoniosa e agradável de Bach e Mozart.
Os teólogos, entre outros metafísicos, já analisaram o significado do termo “espírito” à exaustão. Paul Tillich, por exemplo, fala até mesmo da igreja como “comunidade espiritual”. Alguns conferem-lhe certa substância e, outros, caráter divino. O deus da metafísica é um ser espiritual. Nas definições dogmáticas, essa incompreensível espiritualidade chega mesmo a se transformar na terceira pessoa da santíssima trindade com o nome de “Espírito Santo” muito embora pouco pessoal e nada concreta.
Aqui no Brasil, talvez por influência do espiritismo, de movimentos pentecostais e carismáticos e de certos tipos de protestantismo, “espírito” significa a parte assim chamada “nobre” do ser humano, capaz de agir sobre o corpo de maneira purificadora e salvadora.Nesse caso, o corpo representaria a parte baixa e vil da pessoa. Pressupõe a desencarnação até mesmo quando se afirma a encarnação. A dialética da encarnação, desencarnação e reencarnação povoa boa parte do imaginário religioso em nosso país. Nos meios teológicos o Espírito Santo pode ser identificado com o que a tradição bíblica chama de espírito de Deus, também relembrado nas aulas de nossos seminários teológicos pelo termo hebraico, ruah, ou pelo grego, pneuma. Assim o espírito é também sopro, vento, ar.
É na concepção de ar que desejo situar o conceito de espírito em relação não apenas com a religião mas principalmente com a arte. Ao proceder assim, estou dando um salto arriscado sobre o abismo que separa a metafísica e a estética do passado e a pós-modernidade. E o que estou querendo dizer também se relaciona com o conceito semelhante de “alma” tão em voga nos meios religiosos e artísticos. Boa parte da pregação evangelística concentra-se em esforços para salvar a “alma” dos pecadores. Da mesma forma, dize-se sem muita reflexão que este ou aquele artista interpreta a obra de arte a seus cuidados “com alma”. Eu costumo dizer que um bom pianista é o que toca seu teclado com as mãos e que melhor realiza o seu trabalho se possuir a necessária técnica para executar a obra que apresenta. Acho que, nesses casos, a palavra “alma” é utilizada de maneira equívoca. Talvez ajude o leitor relembrar que essa palavra, “alma”, vem do latim “anima”, raiz de nossos vocábulos, “ânimo, animação, animal, animalidade” e, conseqüentemente, com seus opostos, “desânimo, desanimação, e negação do animal e da animalidade”. Dizemos que os seres vivos são seres animados. A nossa animalidade expressa a energia vital sem a qual nos desanimamos e morremos. Quando Maria, no Magnificat, faz poesia ( isto é, anima-se a cantar a vida), declara que sua alma engrandece ao Senhor, e que seu espírito se alegra ... , está querendo dizer que seu corpo, agora cheio ( prenhe) de vida, animaliza-se e respira com o sêmen que agora começa a transformar o seu corpo no processo vital da maternidade. O Espírito é sopro, vento e ar. Que outra coisa poderiam ter sido as palavras do anjo Gabriel senão essa ventania? O ato da procriação é ato animal. Essa animalidade, sem a qual nada se cria, realiza-se por meio do vigor alimentado pelo ar. Espiritualidade significa respirar, isto é, estar vivo e viver na animação dessa vitalidade.
Lembremo-nos da lenda da criação de Adão. Sem o ar soprado por Deus ele jamais teria passado de mero pó da terra transformado em barro e moldado pelas mãos de Deus como se fosse uma escultura. Só se tornou vivo quando se encheu de ar. E só se tornou ser espiritual quando começou a respirar. Espiritualidade, então, quer dizer isto: capacidade de respirar – respiração. Na lista estabelecida por Hegel, na sua densa e extensa obra sobre o Espírito, não encontrei esse conceito. Para ele, o espírito é a mente humana em contraste com a natureza; pode ser até mesmo o elemento psicológico embutido em cada um de nós, incluindo aí a intuição, a consciência, a vontade, etc. Para alguns religiosos, espírito, como já disse seria a mesma coisa que alma. Mas todos se esquecem do ar, mesmo se o ar é tão evidente nos livros sagrados.
Em nossa época, foi Luce Irigaray, filósofa francesa, que a partir de Anaxímenes, retomou o tema do ar no pensamento contemporâneo capaz de superar até mesmo as considerações de Heidegger sobre o ser e o tempo e sobre as relações entre ser e nada. Ela chama a nossa atenção para certas qualidades do ar: está em toda parte ( não era assim que a gente aprendeu a definir Deus no catecismo e na escola dominical de nossas igrejas?, é invisível, envolve a terra, sacode as árvores, ao mesmo tempo em que se faz sentir em nossa pele. Por que será que as religiões antigas inventaram os anjos? Esses seres voadores sempre foram aéreos. Aéreos e rarefeitos. Aéreos e misteriosos como o ar. Tornaram-se, em diversas tradições, sinônimos de beleza. Foram mensageiros dessa beleza aérea. Não será aérea toda a beleza? Vocês já se deram conta de que nossas experiências com a beleza tem a ver com a respiração? Que quando ficamos ofegantes nossa respiração se modifica? Ou será que ficamos ofegantes porque a respiração se enche do novo ar emanado da beleza? Dessa beleza aérea? Em outras palavras, estou querendo dizer que a beleza é leve. Porque os anjos eram feitos de ar podiam atravessar paredes e subir e descer quando bem quisessem. Os santos antigos levitavam. Ficavam cheios de espírito, isto é, ficavam parecidos com o ar. Os anjos foram representados com asas. Botticelli até mesmo chegou a pintar anjos com asas de borboleta. As asas das borboletas são mais leves do que as dos pássaros. Não têm penas nem ossos. Essas representações da imaginação artísticas não significam exigências para a existência dos anjos. Eles nem mesmo precisariam de asas porque eram feitos de ar. Essas representações não são exigidas por eles, mas por nossa ignorância. As narrativas da descida do Espírito Santo para encontrar os apóstolos de Jesus mencionam, no dizer pictórico do livro sagrado, a experiência de um barulho “que parecia um vento soprando muito forte que encheu toda a casa onde estavam sentados” ( At 2.2). As línguas de fogo, que eles teriam visto, após, só se tornaram possíveis por causa desse vento que teria enchido a casa de ar. Não há fogo sem ar.
Embora Kant não se tenha demorado muito na consideração do conceito de espírito, afirmou que era um elemento “estimulante” da mente. Que mais pode estimular a mente do que o ar?
Leiamos o parágrafo 49 escrito por ele na Crítica da faculdade do juízo :
“Diz-se de certos produtos, dos quais se esperaria que devessem pelo menos em parte mostrar-se como arte bela, que eles são sem espírito, embora no que concerne ao gosto não se encontre neles nada censurável. Uma poesia pode ser verdadeiramente graciosa e elegante, mas é sem espírito. Uma história é precisa e ordenada, mas sem espírito. Um discurso festivo é profundo e requintado, mas sem espírito. Muita conversação que entretém, pode ser, contudo, sem espírito; até de uma mulher diz-se: ela é bonita, comunicável e correta, mas sem espírito. Que é, pois, que se entende aqui por espírito?” E responde: “Espírito, em sentido estético, significa o princípio vivificante no ânimo”. Kant, porém , não consegue fazer retroceder seu pensamento ao poder que vivifica, que é o ar.
Walter Benjamin dizia , sem entender muito bem o que estava dizendo, que a característica da verdadeira obra de arte era a aura. Que queria dizer com isso? Referia-se à sua singularidade irrepetível e irreprodutível. O grande engano de Benjamin situa-se precisamente nessa afirmação dogmática posto que não se trata de aura mas de ar. No seu conceito de obra de arte não cabem as grandes obras do cinema nem da gravura nem mesmo da escultura para não falarmos do teatro e da música sempre repetíveis e reproduzíveis. Diz-se de uma sinfonia bem tocada que se trata de uma obra de fôlego. Que quer dizer fôlego? O nosso bom Aurélio nos ajuda: 1. Respiração. 2. Ato de soprar (estou me lembrando dos músicos que tocam flauta, oboé, fagote e trompete). 3.. Capacidade de reter o ar nos pulmões (que tal Jessie Norman?). 4. Espaço de tempo para refazer as coisas perdidas. 5. Fig. Ânimo, coragem. Assim, qualquer obra de arte será sempre obra de fôlego e por causa disso nos leva a “folgar”. Em outras palavras, nos dá prazer. Acaba sendo um folguedo.
A respiração nos faz seres espirituais e animados ( isto é, cheios de alma). Somos seres que respiram e que, por isso, vivem. É na respiração e por meio dela que criamos. Assim, as obras de arte são obras do ar. Sem querer, também dizemos que elas criam certa atmosfera. Quem visita, por exemplo, em São Paulo, a Oca, no Parque do Ibirapuera, sente essa atmosfera que não está presente apenas nas obras de arte que são ali periodicamente mostradas, mas na própria arquitetura que as abriga. É do ar que vem o movimento. As partes de uma peça musical chamam-se de “movimentos” . E quando recitamos nossos poemas e dizemos nossas frases, mesmo as mais banais, só fazemos isso se abrirmos nossas bocas e se deixarmos passar por elas o ar que as alimenta.
A espiritualidade, assim concebida, relaciona-se de maneira privilegiada com as obras de arte porque nelas nada mais importa do que seu aparecimento. Entre elas e o ar não se interpõem os elementos asfixiantes que experimentamos na poluição do trânsito, no ruído das máquinas e na agitação da bolsa de valores. São como os anjos. Quanto menos pesadas mais cheias de espírito e mais condutoras da respiração. Quanto mais destituídas de sentido ( de lógica) mais espirituais. Menos carregadas de mensagens. Mais transparentes ao ar que as envolve e torna possíveis. Portanto, mais perto da vida.
É por isso, talvez, que depois da metafísica e da teologia que morreram ou que estão morrendo asfixiadas pela falta de ar sobra para a nossa alegria e fruição a arte. A metafísica e a teologia morreram ou estão morrendo porque foram encerradas em grandes caixas de metal cuidadosamente fechadas com ferrolhos e parafusos de dogmas racionais, de princípios e de fundamentos sólidos e irrefutáveis e de certezas feitas de chumbo. Foram, além disso, embaladas em sistemas feitos de tecidos infalíveis e eternos, e de postulados entrincheirados em silogismos e conceitos puros. A história da metafísica e da teologia conseguiu produzir dentro dessas caixas o vácuo da academia. São containers sem ar.
A arte é ainda o lugar que sobra em nosso mundo para a respiração. É a clareira de que fala Heidegger, possível de ser encontrada depois de se percorrer a floresta cheia das sombras do pensamento puramente racional.
O espírito e a arte relacionam-se com o rito porque nele, celebra-se gratuitamente, o estar-no-mundo. Nossos rituais estendem-se desde os religiosos até os sociais e comemorativos. São as liturgias quando libertadas dos livros de reza, os festejos populares quando desvencilhados das manipulações do comércio, e os atos de amor quando libertados das regras heterônomas impostas pelo moralismo e pelo puritanismo de igrejas e grupos sociais. A gratuidade dos ritos pode derrubar a tirania dos que querem submeter a vida humana a leis e a dogmas que contrariam a vida e o prazer de viver.
O rito é, pois, obra de arte.
Um aluno de filosofia me perguntou, à queima roupa, que era arte. Fiquei perturbado porque não queria cair na armadilha metafísica da estética e lhe dar uma definição. Escrevi-lhe, então, o seguinte:
arte é o que a gente faz quando não tem nada para fazer
e faz apenas porque sente vontade de fazer o que vai fazer
não importa o que se faz
se pego uma pedra e tenho vontade de tirar uma lasca dessa pedra
eu tiro essa lasca e isso é arte
mas se eu não pego essa pedra e não tiro essa lasca
então não fiz arte
a arte é pois inteiramente inútil
não serve para nada que seja necessário
muito embora esse fazer acabe sendo uma espécie de impulso
sem o qual eu não saberia viver
nesse caso a arte passa da inutilidade
para a realização do que em mim não tem nenhum sentido
é parecida com o brinquedo
a diferença é que o brinquedo não foi feito por mim
a arte é o que eu faço quando não tenho nada para fazer
nada que venha de fora por imposição ou dever
a arte não tem dever
não é ética
ir ao cinema, por exemplo, não é arte
é apenas fruição da arte que um outro que não eu fez
mas a fruição da arte é também inútil
a não ser se considerarmos útil a fruição
ela só serve para ser fruída
e termina aí
fazemos usos da arte
mas os usos da arte não são arte
são apenas seus usos
e o artista não tem controle sobre eles
O autor é editor da revista Correlatio e professor de hermenêutica e estética no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP.
Modelos de ministério pastoral
MODELOS DE MINISTÉRIO PASTORAL - John Sttot
Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus.
Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque, embora em nada me sinta culpado, nem por isso sou justificado; pois quem me julga é o Senhor. Portanto nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não só trará à luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o seu louvor. Ora, irmãos, estas coisas eu as apliquei figuradamente a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, de modo que nenhum de vós se ensoberbeça a favor de um contra outro. Pois, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós já chegastes a reinar! E oxalá reinásseis de fato, para que também nós reinássemos convosco!
Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, tanto a anjos como a homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós desprezíveis. Até a presente hora padecemos fome, e sede; estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e o suportamos; somos difamados, e exortamos; até o presente somos considerados como o refugo do mundo, e como a escória de tudo. Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar, como a filhos meus amados.
Porque ainda que tenhais dez mil aios em Cristo, não tendes contudo muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus. Rogo-vos, portanto, que sejais meus imitadores. Por isso mesmo vos enviei Timóteo, que é meu filho amado, e fiel no Senhor; o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo, como por toda parte eu ensino em cada igreja. Mas alguns andam inchados, como se eu não houvesse de ir ter convosco. Em breve, porém, irei ter convosco, se o Senhor quiser, e então conhecerei, não as palavras dos que andam inchados, mas o poder. Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder. Que quereis? Irei a vós com vara, ou com amor e espírito de mansidão? (i Corintios 4) Paulo nos dá um modelo de ministério cristão. Este é um tema sobre o qual atualmente há muita confusão. O que é o clérigo ou o pastor ordenado? A que se assemelha, ao sacerdote católico ou ao presbítero da tradição reformada? É pastor, evangelista, profeta, pregador? É psicoterapeuta, administrador, trabalhador social? Esta indefinição do perfil do ministro cristão não é nova. Ao longo da sua história, a igreja tem oscilado entre os extremos do clericalismo e o anticlericalismo, às vezes exaltando aos ministros e outras os considerando imprescindíveis. Mark Twain inclui uma cena expressiva em sua conhecida novela, As aventuras de Huckleberry Fynn. Huck relata a uma jovem que, na igreja quefreqüenta seu tio, na Inglaterra, havia pelo menos 17 clérigos, ainda que nem todos pregavam no mesmo dia. Johanna pergunta a ela o que fazem os restantes clérigos, e Huck responde: “Não muito. Vão de um lado para outro, passam o prato para as ofertas, mas não muito mais”. “Então para que estão lá?”, pergunta sua amiga. E Huck responde: “Bem, é para manter o estilo. Acaso você não entende nada de estilo?”
A liderança cristã
Quando lemos a carta de Paulo ao Corintios, vemos que desde o começo houve percepções erradas sobre o lugar do ministro ordenado. As facções em Corinto brigavam entre si para apoiar um líder em particular, e Paulo reage horrorizado por este culto aos líderes. Para corrigir o conceito dos corintios, o apóstolo desenvolve quatro modelos do que é o ministério de um pastor ordenado. Ainda que descreva seu próprio ministério apostólico, as figuras também se aplicam ao ministério cristão atual. Cada modelo ou metáfora ilustra uma verdade essencial sobre a liderança cristã.
Servos de Cristo
Antes de ser ministro da Palavra ou da igreja, os líderes são ministros ou servos de Cristo. Sem dúvida, existem passagens da Bíblia que enfatizam a honra do ministério cristão e motivam à igreja a ter estima e amor pelos que desempenham essa função. Mas aqui, Paulo usa uma expressão de muita humildade; o termo grego que se traduz como “servo” é uperetes. É interessante a origem desta palavra. Os barcos do mundo antigo tinham três níveis de remadores. Osuperet es eram os que estavam no nível mais baixo do barco, figura de humildade e trabalho forçado. Paulo descreve ao ministro como subordinado a Cristo, alguém que ocupa um nível de humildade. O ministro cristão deve começar com uma atitude de submissão e amor ao Senhor, com o encontro diário com Deus em oração e uma vida de obediência.
Como subordinados de Cristo, somos responsáveis perante ele por nosso ministério. O fato de termos que dar conta a Deus do nosso trabalho nos consola ao mesmo tempo que nos desafia. Nos consola porque podemos dizer, como Paulo, que o Senhor é quem nos julga. Perante Ele ficaram à vista as intenções do coração.
Não há porque fazer comparação, diz o apóstolo. Se há diferença entre pessoas, por acaso não é Deus responsável por elas? Os dons que temos os temos recebido de Deus. Nossa responsabilidade final é ante Deus. Logicamente, devemos escutar a critica humana, ainda que em algumas ocasiões pode ser dolorosa. A crítica nem sempre é justa nem amável. Sem dúvida Jesus Cristo é mais misericordioso que qualquer juiz humano. As cartas anônimas, por exemplo, costumam ser muito agressivas, porque o autor não se identifica. Com o passar dos anos, aprendi a não levar a sério as cartas anônimas.
Ao final do século passado, um famoso pregador subia ao púlpito, quando uma senhora lhe atirou um papel. Ele o pegou e leu a única palavra que dizia: “tonto”. Começou seu sermão dizendo: “Tenho recebido durante minha vida muitas cartas anônimas, mas é a primeira vez que recebo a assinatura sem o texto.” Se o autor não está disposto a identificar- se, não podemos tomar sua crítica como algo sério. Uma vez que nos traz ânimo saber que nosso juiz final é o Senhor, ser responsáveis perante Deus é também um enorme desafio. Grande parte do trabalho de um ministro ou pastor não se conhece nem se supervisiona. No entanto, sempre estamos na presença de Deus e algum dia vamos ter que prestar contas a Ele.
Mordomos da revelação
Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque, embora em nada me sinta culpado, nem por isso sou justificado; pois quem me julga é o Senhor. Portanto nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não só trará à luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o seu louvor.(I Corintios 4:1-5)
Os ministérios de Deus não ficaram ocultos, reservados somente para pessoas elegidas. Seus ministérios são segredos proclamados à humanidade para que possamos conhecer a Deus e viver em relacionamento com Ele. Deus se deu a conhecer, acima de tudo, em Jesus Cristo. As verdades sobre Jesus Cristo, Sua pessoa e Sua obra, só podem ser conhecidas através da revelação do Espírito. Os apóstolos foram os primeiros mordomos da mensagem, por quanto receberam a revelação para que conhecessem os mistérios de Deus. Depois deles, também os pastores são mordomos da revelação, porque Deus lhes confiou o ensinamento das Escrituras.
De acordo com o Novo Testamento, a primeira responsabilidade do ministro é ensinar ao povo de Deus; quer dizer, alimentar ao rebanho. Em I Timóteo 3:2-3, o apóstolo Paulo dá uma lista de requisitos para o ministro. Enumera qualidades morais muito importantes e, na mesma lista, inclui o que poderíamos chamar de uma “aptidão profissional”: o pastor deve ser apto para ensinar, para nutrir as ovelhas.
É interessante observar, no campo, que os pastores não alimentam as ovelhas, salvo se estejam doentes. Sua tarefa, na realidade, é as conduzir até os pastos, onde as ovelhas se alimentam a si mesmas. Assim deve fazer o pastor na igreja: guiar aos crentes à Palavra, para que se alimentem dela. Os pastores ensinam o que lhes foi dado, quer dizer, a mensagem bíblica. Exige-se dos ministros que sejam mordomos ou administradores fieis daquilo que lhes foi confiado. É fácil se transformar em um mordomo infiel da mensagem, e é triste que existam muitos deles na igreja contemporânea. Alguns descuidam do estudo da Palavra de Deus ou a lêem de maneira ocasional e superficial. Outros não conseguem vincular o texto bíblico ao mundo atual, e outros manipulam o texto para que diga o que eles querem que diga. Há pastores que selecionam das Escrituras só o que eles gostam dela. Todos estes são exemplos de infidelidade. As congregações vivem, crescem e florescem pela Palavra de Deus. Sem ela, adoecem e morrem. Por isso é tão importante que o ministro ordenado tenha hábitos disciplinados de estudo e que investigue tanto o mundo antigo como o atual, para que seu ensinamento seja completo nutritivo. Imaginemos uma planície cortada por um abismo profundo. Um lado da planície representa o mundo bíblico e o outro o mundo contemporâneo. Entre o mundo bíblico e o mundo atual, temos um profundo “cânion de 2.000 anos”, dois milênios de mudanças culturais. Apliquemos este diagrama à tarefa de pregação. Nós os evangélicos vivemos do lado da planície que representa o mundo bíblico. Somos homens e mulheres que cremos ma Bíblia, a amamos e a lemos. Não nos sentimos muito a vontade no lado que representa o mundo atual e até nos sentimos ameaçados por ele. Nem nos ocorreria pregar outra coisa que não fosse o texto bíblico. Mas pode acontecer que a mensagem nunca “aterrisse” do outro lado do abismo. É bíblico, mas esta enraizada na realidade contemporânea. Esta é uma debilidade característica dos pregadores evangélicos. Os liberais cometem o erro oposto. Se sentem cômodos na cultura moderna, mas perderam a essência da revelação bíblica. Sua mensagem é aceita pelo mundo, mas não é bíblica. Esta é uma das tragédias da igreja hoje: os evangélicos são bíblicos mas não contemporâneos, e os liberais são contemporâneos mas não bíblicos. Poucos são os pregadores e mestres que constroem pontes para unir os dois mundos: o bíblico e o contemporâneo. Mas este é o desafio que temos. A única maneira de sermos bons mordomos da revelação de Deus é relacionar a Palavra com o mundo, e para isso devemos estudar e compreender os dois lados deste “abismo”.
Pessoalmente, estou muito agradecido a Marin Lloyd Jones, quem me apresentou fazem mais de trinta anos um pequeno calendário de leituras bíblicas, que havia preparado um clérigo em 1842, para sua consagração na Escócia, com o propósito de que lesse a Bíblia todo ano: o Antigo Testamento uma vez, e o Novo duas. Ainda que se requeira ler quatro capítulos por dia, o método é de muito benefício. Não se começa lendo Gênesis, para seguir em forma contínua, senão que se começa simultaneamente nos quatro grandes inícios da Bíblia: Gênesis 1, Esdras1, Mateus 1 e Atos 1. Estes são quatro grandes nascimentos: Gênesis relata o nascimento do universo e Esdras o renascimento da nação, depois do cativeiro babilônico. Mateus 1 o nascimento de Cristo; e Atos 1 é o nascimento da igreja. Minha própria prática é ler três capítulos cada manhã; dois deles corridos, e o terceiro para meditar e estudar. Reservo o quarto para a tarde. Este enfoque ajuda a integrar a mensagem global das Escrituras. Minha recomendação é que procuremos, com este ou qualquer sistema, ler a Bíblia completa todo ano.
Por sua vez, precisamos relacionar a Bíblia com a realidade atual. Fazem uns trinta anos, comecei um grupo de leitura em Londres, ao que convidei a uns quinze jovens profissionais, homens e mulheres, que estavam comprometidos com a Palavra e desejavam as aplicar em seu âmbito cultural. Este grupo de leitura tem se mantido; nos reunimos somente de quatro a seis vezes por ano, em cada reunião decidimos que livro vamos ler antes do próximo encontro. Escolhemos livros populares, que estão produzindo impacto no pensamento moderno; às vezes escolhemos um filme. Quando nos reunimos, cada membro do grupo dispõe só de um minuto para definir qual o principal assunto que, pelo seu entendimento, o autor está enfocando. Dedicamos umas duas horas para refletir e discutir sobre esses temas, e durante a última meia hora, nos fazemos a seguinte pergunta: O que diz o evangelho às pessoas que pensam desta forma e vive nesta realidade? Estes encontros me têm ajudado muitíssimo a entrar no mundo moderno e estender uma ponte a partir da Bíblia até os problemas atuais. Reuniões deste tipo, com profissionais ou estudantes, membros de nossa igreja ou amigos em geral, são um espaço fecundo e desafiante para construir pontes entre a revelação de Deus e o mundo contemporâneo.
Escória do Mundo
Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós já chegastes a reinar! E oxalá reinásseis de fato, para que também nós reinássemos convosco! Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, tanto a anjos como a homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós desprezíveis. Até a presente hora padecemos fome, e sede; estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e o suportamos; somos difamados, e exortamos; até o presente somos considerados como o refugo do mundo, e como a escória de tudo. (I Corintios 4:8-13) Esta descrição nos causa impacto: Paulo declara que os que servem a Cristo como mordomos da revelação de Deus chegaram a ser como escória, e refugo do mundo. Nos versículos anteriores, o apóstolo escreve com certo sarcasmo: os corintios crêem que já reinam, e bom seria reinar com eles. O apóstolo, no entanto, sabe que o caminho à glória é o sofrimento. O foi para Jesus e o é para nós. Paulo usa duas ilustrações muito vívidas, ambas tomadas do mundo romano. Com elas, Paulo opõe seus próprios sofrimentos à comodidade dos corintios, e contrasta seu sentimento de ser ridicularizado, com a pretendida superioridade deles. Menciona, no primeiro caso, o espetáculo dos gladiadores que se apresentava no anfiteatro nas grandes cidades.
Diante de uma multidão, se jogavam à arena alguns criminosos para que enfrentassem aos leões e aos gladiadores. Paulo afirma que os ministros são como espetáculo para todo mundo, até para os anjos, em uma espécie de teatro cósmico no qual são jogados como se fossem criminosos. O apóstolo faz outra comparação, esta vez com os sacrifícios humanos. Paulo alude a uma cidade grega imaginária, assolada por uma calamidade; para apaziguar a ira dos deuses, se costumava jogar alguns miseráveis ao mar. Às pessoas sacrificadas eram chamadas depericatar mata; o apóstolo se compara a eles. Somos isto para o mundo: escória, refugo, algo que não merece estar em nenhum lugar. Quiçá tudo isto nos parece alheio e pouco aplicável a nossa vida. Se é assim, poderia indicar quanto temos nos apartado do Novo Testamento. Hoje é respeitável ser pastor, mesmo em uma sociedade não cristã. Alguns países dão algumas honras e concessões aos clérigos, como os eximir de impostos ou os chamar de “reverendo”. Não era assim no princípio, e não deveríamos aceitar a situação tão comodamente. É um grande risco chegar a ser um pregador popular. É muito difícil ser popular e ao mesmo tempo ser fiel. A cruz de Cristo continua sendo loucura para alguns e pedra de tropeço para outros. Quando pregamos a cruz desafiamos o orgulho humano, porque o evangelho chega como um dom gratuito e imerecido.
O ser humano preferiria fazer algo para ganhar sua própria salvação ou, pelo menos, contribuir com ela. Pregar, como declara a Bíblia, que ninguém pode contribuir em nada, traz humildade e desperta hostilidade. O evangelho também produz recusa porque afirma que Jesus Cristo é o único Salvador. Essa mensagem ofende o mundo pluralista. Em uma cultura que sustenta a validade de todas as religiões, declarar que só o evangelho é a verdade de Deus, o torna antiquado e ofensivo. Por último, o evangelho exige que nos submetamos ao senhorio de Cristo e vivamos em santidade debaixo das suas normas morais. A maioria dos seres humanos preferem viver da sua maneira, com suas próprias leis. Para eles, o evangelho é pedra de tropeço. Sendo assim, os que pregam e ensinam a Palavra devem estar dispostos a ser tidos por loucos pela causa de Cristo. Estou convencido que se fossemos realmente fiéis a Jesus Cristo sofreríamos mais. O certo é que temos eliminado do evangelho os aspectos pouco populares e, dessa forma, evitamos oposição e perseguição. Dietrich Bonhoefeer, o pastor luterano que foi executado em um campo de concentração, em abril de 1945, escreveu O custo do discipulado enquanto definhava na prisão. Ali definiu o discipulado como uma “aliança com o Cristo sofredor”. O sofrimento é a marca, o selo do autentico cristianismo; é o que confirma nossa identidade como discípulo de Jesus Cristo.
Matinho Lutero, por sua vez, concebia o sofrimento como um dos sinais da igreja verdadeira, à qual descreve como “a comunhão daqueles que são perseguidos e martirizados pela causa do evangelho”. Se nossa vida se desenvolve com total comodidade, se ninguém se opõe a nosso testemunho, deveríamos perguntar se realmente somos fiéis discípulos de Jesus Cristo e servos de sua igreja ou estamos, mais bem, adaptados e cômodos no mundo.
Pais da família que é a igreja
Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar, como a filhos meus amados. Porque ainda que tenhais dez mil aios em Cristo, não tendes contudo muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus. Rogo-vos, portanto, que sejais meus imitadores. Por isso mesmo vos enviei Timóteo, que é meu filho amado, e fiel no Senhor; o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo, como por toda parte eu ensino em cada igreja. Mas alguns andam inchados, como se eu não houvesse de ir ter convosco. Em breve, porém, irei ter convosco, se o Senhor quiser, e então conhecerei, não as palavras dos que andam inchados, mas o poder. Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder. Que quereis? Irei a vós com vara, ou com amor e espírito de mansidão? (i Corintios 4:14-21)
A quarta metáfora ou modelo que Paulo apresenta, descreve aos pastores como pais da família da igreja. No parágrafo final, o apóstolo se refere aos corintios como “seus amados filhos”. Quiçá tenham dez mil mestres ou tutores que os disciplinem, mas não têm muitos pais que os amem. Ele foi seu “pai” no evangelho. Paulo inclusive insta aos corintios a o imitar. Em Mateus 23, Jesus disse que não deviam chamar ninguém de “pai” senão Deus. Está Paulo contradizendo os ensinamentos de Jesus? Quando o Senhor fez esta recomendação, o contexto se refere à autoridade ou a propriedade de uma pessoa a outra. Não devemos permitir que nenhum ser humano nos considere sua possessão. Só Deus é nossa autoridade absoluta. Ele é nosso Pai. Mas em sua carta, Paulo estava se referindo ao carinho, ao amor de um pai. Nesse sentido se considera a si mesmo como um pai dos crentes corintios. Quando escreve aos tessalonicenses, não somente se compara com um pai senão que lhes diz que se sente como uma mãe para aqueles a quem ajudou a nascer em Cristo.
Esta é uma bela imagem do apóstolo Paulo, um homem ao qual costumamos imaginar severo e ainda tosco. No entanto, quando fala de seu ministério pastoral, usa uma figura de tanta suavidade, afeto até sacrifício por seus filhos na fé. Sem dúvida, é legitima a disciplina na igreja, e sempre que se exerça em forma comunitária. Contudo, o apóstolo mostra que a característica principal dos pastores cristãos não é a severidade, senão mais bem a gentileza. Nos diferentes lugares nos quais tive o privilegio de estar, chego à mesma conclusão: na igreja necessitamos menos autoritarismo, menos liderança personalista, e mais afeto e bondade para com a congregação. Cremos realmente no sacerdócio de todos os crentes? As vezes o governo da igreja se parece mais ao “papado de todos os pastores”, e essa não é a doutrina evangélica. Nós que servimos a uma congregação podemos, como escrevia o ministro escocês sua própria experiência, “nos apaixonar pela congregação”. Este pastor comparava sua relação com o “florescer do coração que ocorre em qualquer outra paixão” e esta vivencia o motivava para fazer tudo para o bem daqueles a quem servia. Essa deveria ser a marca do pastor autêntico.
A humildade no serviço
Estas quatro imagens com as quais o apóstolo descreve seu ministério apostólico são aplicáveis aos ministros na igreja hoje, se bem que estes não são apóstolos. O denominador comum a estas quatro metáforas é uma atitude característica mesmo de Jesus Cristo: a humildade. O apóstolo expressa que, como líderes, necessitamos ser humildes ante o Senhor, de quem somos subordinados; humildes ante a Palavra de Deus, da qual somos mordomos; humildes ante o mundo, cuja oposição temos que enfrentar; e finalmente, humildes ante a congregação, ante os crentes aos quais amamos e servimos. Procuremos que nosso ministério se caracterize, acima de todas as coisas, pela gentileza e a humildade de Jesus Cristo. Ele é que nos chamou ao ministério e estabeleceu as normas para exerce-lo. Como líderes, estamos realmente subordinados a Cristo? Somos mordomos fiéis da sua revelação? Estamos dispostos a sofrer por Ele? Somos como um pai e uma mãe para Sua igreja? Damos graças a Deus pelo privilégio que temos: não só somos membros da Sua igreja, senão que fomos chamados a ser pastores e ministros nela. Peçamos-lhe perdão pela maneira com que não temos seguido as normas bíblicas para exercer o ministério. Procuremos ser mais fiéis no estudo e na exposição de Sua Palavra, mais dispostos a sofrer por causa do evangelho, e mais amáveis e gentis para com a congregação. Então seremos uma igreja verdadeiramente viva. O Espírito Santo se mostrará plenamente no louvor e na adoração, no amor entre os irmãos, na fidelidade à Palavra e na evangelização ao mundo necessitado.
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Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus.
Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque, embora em nada me sinta culpado, nem por isso sou justificado; pois quem me julga é o Senhor. Portanto nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não só trará à luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o seu louvor. Ora, irmãos, estas coisas eu as apliquei figuradamente a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, de modo que nenhum de vós se ensoberbeça a favor de um contra outro. Pois, quem te diferença? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido? Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós já chegastes a reinar! E oxalá reinásseis de fato, para que também nós reinássemos convosco!
Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, tanto a anjos como a homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós desprezíveis. Até a presente hora padecemos fome, e sede; estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos; somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e o suportamos; somos difamados, e exortamos; até o presente somos considerados como o refugo do mundo, e como a escória de tudo. Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar, como a filhos meus amados.
Porque ainda que tenhais dez mil aios em Cristo, não tendes contudo muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus. Rogo-vos, portanto, que sejais meus imitadores. Por isso mesmo vos enviei Timóteo, que é meu filho amado, e fiel no Senhor; o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo, como por toda parte eu ensino em cada igreja. Mas alguns andam inchados, como se eu não houvesse de ir ter convosco. Em breve, porém, irei ter convosco, se o Senhor quiser, e então conhecerei, não as palavras dos que andam inchados, mas o poder. Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder. Que quereis? Irei a vós com vara, ou com amor e espírito de mansidão? (i Corintios 4) Paulo nos dá um modelo de ministério cristão. Este é um tema sobre o qual atualmente há muita confusão. O que é o clérigo ou o pastor ordenado? A que se assemelha, ao sacerdote católico ou ao presbítero da tradição reformada? É pastor, evangelista, profeta, pregador? É psicoterapeuta, administrador, trabalhador social? Esta indefinição do perfil do ministro cristão não é nova. Ao longo da sua história, a igreja tem oscilado entre os extremos do clericalismo e o anticlericalismo, às vezes exaltando aos ministros e outras os considerando imprescindíveis. Mark Twain inclui uma cena expressiva em sua conhecida novela, As aventuras de Huckleberry Fynn. Huck relata a uma jovem que, na igreja quefreqüenta seu tio, na Inglaterra, havia pelo menos 17 clérigos, ainda que nem todos pregavam no mesmo dia. Johanna pergunta a ela o que fazem os restantes clérigos, e Huck responde: “Não muito. Vão de um lado para outro, passam o prato para as ofertas, mas não muito mais”. “Então para que estão lá?”, pergunta sua amiga. E Huck responde: “Bem, é para manter o estilo. Acaso você não entende nada de estilo?”
A liderança cristã
Quando lemos a carta de Paulo ao Corintios, vemos que desde o começo houve percepções erradas sobre o lugar do ministro ordenado. As facções em Corinto brigavam entre si para apoiar um líder em particular, e Paulo reage horrorizado por este culto aos líderes. Para corrigir o conceito dos corintios, o apóstolo desenvolve quatro modelos do que é o ministério de um pastor ordenado. Ainda que descreva seu próprio ministério apostólico, as figuras também se aplicam ao ministério cristão atual. Cada modelo ou metáfora ilustra uma verdade essencial sobre a liderança cristã.
Servos de Cristo
Antes de ser ministro da Palavra ou da igreja, os líderes são ministros ou servos de Cristo. Sem dúvida, existem passagens da Bíblia que enfatizam a honra do ministério cristão e motivam à igreja a ter estima e amor pelos que desempenham essa função. Mas aqui, Paulo usa uma expressão de muita humildade; o termo grego que se traduz como “servo” é uperetes. É interessante a origem desta palavra. Os barcos do mundo antigo tinham três níveis de remadores. Osuperet es eram os que estavam no nível mais baixo do barco, figura de humildade e trabalho forçado. Paulo descreve ao ministro como subordinado a Cristo, alguém que ocupa um nível de humildade. O ministro cristão deve começar com uma atitude de submissão e amor ao Senhor, com o encontro diário com Deus em oração e uma vida de obediência.
Como subordinados de Cristo, somos responsáveis perante ele por nosso ministério. O fato de termos que dar conta a Deus do nosso trabalho nos consola ao mesmo tempo que nos desafia. Nos consola porque podemos dizer, como Paulo, que o Senhor é quem nos julga. Perante Ele ficaram à vista as intenções do coração.
Não há porque fazer comparação, diz o apóstolo. Se há diferença entre pessoas, por acaso não é Deus responsável por elas? Os dons que temos os temos recebido de Deus. Nossa responsabilidade final é ante Deus. Logicamente, devemos escutar a critica humana, ainda que em algumas ocasiões pode ser dolorosa. A crítica nem sempre é justa nem amável. Sem dúvida Jesus Cristo é mais misericordioso que qualquer juiz humano. As cartas anônimas, por exemplo, costumam ser muito agressivas, porque o autor não se identifica. Com o passar dos anos, aprendi a não levar a sério as cartas anônimas.
Ao final do século passado, um famoso pregador subia ao púlpito, quando uma senhora lhe atirou um papel. Ele o pegou e leu a única palavra que dizia: “tonto”. Começou seu sermão dizendo: “Tenho recebido durante minha vida muitas cartas anônimas, mas é a primeira vez que recebo a assinatura sem o texto.” Se o autor não está disposto a identificar- se, não podemos tomar sua crítica como algo sério. Uma vez que nos traz ânimo saber que nosso juiz final é o Senhor, ser responsáveis perante Deus é também um enorme desafio. Grande parte do trabalho de um ministro ou pastor não se conhece nem se supervisiona. No entanto, sempre estamos na presença de Deus e algum dia vamos ter que prestar contas a Ele.
Mordomos da revelação
Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel. Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo. Porque, embora em nada me sinta culpado, nem por isso sou justificado; pois quem me julga é o Senhor. Portanto nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não só trará à luz as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o seu louvor.(I Corintios 4:1-5)
Os ministérios de Deus não ficaram ocultos, reservados somente para pessoas elegidas. Seus ministérios são segredos proclamados à humanidade para que possamos conhecer a Deus e viver em relacionamento com Ele. Deus se deu a conhecer, acima de tudo, em Jesus Cristo. As verdades sobre Jesus Cristo, Sua pessoa e Sua obra, só podem ser conhecidas através da revelação do Espírito. Os apóstolos foram os primeiros mordomos da mensagem, por quanto receberam a revelação para que conhecessem os mistérios de Deus. Depois deles, também os pastores são mordomos da revelação, porque Deus lhes confiou o ensinamento das Escrituras.
De acordo com o Novo Testamento, a primeira responsabilidade do ministro é ensinar ao povo de Deus; quer dizer, alimentar ao rebanho. Em I Timóteo 3:2-3, o apóstolo Paulo dá uma lista de requisitos para o ministro. Enumera qualidades morais muito importantes e, na mesma lista, inclui o que poderíamos chamar de uma “aptidão profissional”: o pastor deve ser apto para ensinar, para nutrir as ovelhas.
É interessante observar, no campo, que os pastores não alimentam as ovelhas, salvo se estejam doentes. Sua tarefa, na realidade, é as conduzir até os pastos, onde as ovelhas se alimentam a si mesmas. Assim deve fazer o pastor na igreja: guiar aos crentes à Palavra, para que se alimentem dela. Os pastores ensinam o que lhes foi dado, quer dizer, a mensagem bíblica. Exige-se dos ministros que sejam mordomos ou administradores fieis daquilo que lhes foi confiado. É fácil se transformar em um mordomo infiel da mensagem, e é triste que existam muitos deles na igreja contemporânea. Alguns descuidam do estudo da Palavra de Deus ou a lêem de maneira ocasional e superficial. Outros não conseguem vincular o texto bíblico ao mundo atual, e outros manipulam o texto para que diga o que eles querem que diga. Há pastores que selecionam das Escrituras só o que eles gostam dela. Todos estes são exemplos de infidelidade. As congregações vivem, crescem e florescem pela Palavra de Deus. Sem ela, adoecem e morrem. Por isso é tão importante que o ministro ordenado tenha hábitos disciplinados de estudo e que investigue tanto o mundo antigo como o atual, para que seu ensinamento seja completo nutritivo. Imaginemos uma planície cortada por um abismo profundo. Um lado da planície representa o mundo bíblico e o outro o mundo contemporâneo. Entre o mundo bíblico e o mundo atual, temos um profundo “cânion de 2.000 anos”, dois milênios de mudanças culturais. Apliquemos este diagrama à tarefa de pregação. Nós os evangélicos vivemos do lado da planície que representa o mundo bíblico. Somos homens e mulheres que cremos ma Bíblia, a amamos e a lemos. Não nos sentimos muito a vontade no lado que representa o mundo atual e até nos sentimos ameaçados por ele. Nem nos ocorreria pregar outra coisa que não fosse o texto bíblico. Mas pode acontecer que a mensagem nunca “aterrisse” do outro lado do abismo. É bíblico, mas esta enraizada na realidade contemporânea. Esta é uma debilidade característica dos pregadores evangélicos. Os liberais cometem o erro oposto. Se sentem cômodos na cultura moderna, mas perderam a essência da revelação bíblica. Sua mensagem é aceita pelo mundo, mas não é bíblica. Esta é uma das tragédias da igreja hoje: os evangélicos são bíblicos mas não contemporâneos, e os liberais são contemporâneos mas não bíblicos. Poucos são os pregadores e mestres que constroem pontes para unir os dois mundos: o bíblico e o contemporâneo. Mas este é o desafio que temos. A única maneira de sermos bons mordomos da revelação de Deus é relacionar a Palavra com o mundo, e para isso devemos estudar e compreender os dois lados deste “abismo”.
Pessoalmente, estou muito agradecido a Marin Lloyd Jones, quem me apresentou fazem mais de trinta anos um pequeno calendário de leituras bíblicas, que havia preparado um clérigo em 1842, para sua consagração na Escócia, com o propósito de que lesse a Bíblia todo ano: o Antigo Testamento uma vez, e o Novo duas. Ainda que se requeira ler quatro capítulos por dia, o método é de muito benefício. Não se começa lendo Gênesis, para seguir em forma contínua, senão que se começa simultaneamente nos quatro grandes inícios da Bíblia: Gênesis 1, Esdras1, Mateus 1 e Atos 1. Estes são quatro grandes nascimentos: Gênesis relata o nascimento do universo e Esdras o renascimento da nação, depois do cativeiro babilônico. Mateus 1 o nascimento de Cristo; e Atos 1 é o nascimento da igreja. Minha própria prática é ler três capítulos cada manhã; dois deles corridos, e o terceiro para meditar e estudar. Reservo o quarto para a tarde. Este enfoque ajuda a integrar a mensagem global das Escrituras. Minha recomendação é que procuremos, com este ou qualquer sistema, ler a Bíblia completa todo ano.
Por sua vez, precisamos relacionar a Bíblia com a realidade atual. Fazem uns trinta anos, comecei um grupo de leitura em Londres, ao que convidei a uns quinze jovens profissionais, homens e mulheres, que estavam comprometidos com a Palavra e desejavam as aplicar em seu âmbito cultural. Este grupo de leitura tem se mantido; nos reunimos somente de quatro a seis vezes por ano, em cada reunião decidimos que livro vamos ler antes do próximo encontro. Escolhemos livros populares, que estão produzindo impacto no pensamento moderno; às vezes escolhemos um filme. Quando nos reunimos, cada membro do grupo dispõe só de um minuto para definir qual o principal assunto que, pelo seu entendimento, o autor está enfocando. Dedicamos umas duas horas para refletir e discutir sobre esses temas, e durante a última meia hora, nos fazemos a seguinte pergunta: O que diz o evangelho às pessoas que pensam desta forma e vive nesta realidade? Estes encontros me têm ajudado muitíssimo a entrar no mundo moderno e estender uma ponte a partir da Bíblia até os problemas atuais. Reuniões deste tipo, com profissionais ou estudantes, membros de nossa igreja ou amigos em geral, são um espaço fecundo e desafiante para construir pontes entre a revelação de Deus e o mundo contemporâneo.
Escória do Mundo
Já estais fartos! Já estais ricos! Sem nós já chegastes a reinar! E oxalá reinásseis de fato, para que também nós reinássemos convosco! Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, tanto a anjos como a homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres, e nós desprezíveis. Até a presente hora padecemos fome, e sede; estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e o suportamos; somos difamados, e exortamos; até o presente somos considerados como o refugo do mundo, e como a escória de tudo. (I Corintios 4:8-13) Esta descrição nos causa impacto: Paulo declara que os que servem a Cristo como mordomos da revelação de Deus chegaram a ser como escória, e refugo do mundo. Nos versículos anteriores, o apóstolo escreve com certo sarcasmo: os corintios crêem que já reinam, e bom seria reinar com eles. O apóstolo, no entanto, sabe que o caminho à glória é o sofrimento. O foi para Jesus e o é para nós. Paulo usa duas ilustrações muito vívidas, ambas tomadas do mundo romano. Com elas, Paulo opõe seus próprios sofrimentos à comodidade dos corintios, e contrasta seu sentimento de ser ridicularizado, com a pretendida superioridade deles. Menciona, no primeiro caso, o espetáculo dos gladiadores que se apresentava no anfiteatro nas grandes cidades.
Diante de uma multidão, se jogavam à arena alguns criminosos para que enfrentassem aos leões e aos gladiadores. Paulo afirma que os ministros são como espetáculo para todo mundo, até para os anjos, em uma espécie de teatro cósmico no qual são jogados como se fossem criminosos. O apóstolo faz outra comparação, esta vez com os sacrifícios humanos. Paulo alude a uma cidade grega imaginária, assolada por uma calamidade; para apaziguar a ira dos deuses, se costumava jogar alguns miseráveis ao mar. Às pessoas sacrificadas eram chamadas depericatar mata; o apóstolo se compara a eles. Somos isto para o mundo: escória, refugo, algo que não merece estar em nenhum lugar. Quiçá tudo isto nos parece alheio e pouco aplicável a nossa vida. Se é assim, poderia indicar quanto temos nos apartado do Novo Testamento. Hoje é respeitável ser pastor, mesmo em uma sociedade não cristã. Alguns países dão algumas honras e concessões aos clérigos, como os eximir de impostos ou os chamar de “reverendo”. Não era assim no princípio, e não deveríamos aceitar a situação tão comodamente. É um grande risco chegar a ser um pregador popular. É muito difícil ser popular e ao mesmo tempo ser fiel. A cruz de Cristo continua sendo loucura para alguns e pedra de tropeço para outros. Quando pregamos a cruz desafiamos o orgulho humano, porque o evangelho chega como um dom gratuito e imerecido.
O ser humano preferiria fazer algo para ganhar sua própria salvação ou, pelo menos, contribuir com ela. Pregar, como declara a Bíblia, que ninguém pode contribuir em nada, traz humildade e desperta hostilidade. O evangelho também produz recusa porque afirma que Jesus Cristo é o único Salvador. Essa mensagem ofende o mundo pluralista. Em uma cultura que sustenta a validade de todas as religiões, declarar que só o evangelho é a verdade de Deus, o torna antiquado e ofensivo. Por último, o evangelho exige que nos submetamos ao senhorio de Cristo e vivamos em santidade debaixo das suas normas morais. A maioria dos seres humanos preferem viver da sua maneira, com suas próprias leis. Para eles, o evangelho é pedra de tropeço. Sendo assim, os que pregam e ensinam a Palavra devem estar dispostos a ser tidos por loucos pela causa de Cristo. Estou convencido que se fossemos realmente fiéis a Jesus Cristo sofreríamos mais. O certo é que temos eliminado do evangelho os aspectos pouco populares e, dessa forma, evitamos oposição e perseguição. Dietrich Bonhoefeer, o pastor luterano que foi executado em um campo de concentração, em abril de 1945, escreveu O custo do discipulado enquanto definhava na prisão. Ali definiu o discipulado como uma “aliança com o Cristo sofredor”. O sofrimento é a marca, o selo do autentico cristianismo; é o que confirma nossa identidade como discípulo de Jesus Cristo.
Matinho Lutero, por sua vez, concebia o sofrimento como um dos sinais da igreja verdadeira, à qual descreve como “a comunhão daqueles que são perseguidos e martirizados pela causa do evangelho”. Se nossa vida se desenvolve com total comodidade, se ninguém se opõe a nosso testemunho, deveríamos perguntar se realmente somos fiéis discípulos de Jesus Cristo e servos de sua igreja ou estamos, mais bem, adaptados e cômodos no mundo.
Pais da família que é a igreja
Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar, como a filhos meus amados. Porque ainda que tenhais dez mil aios em Cristo, não tendes contudo muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus. Rogo-vos, portanto, que sejais meus imitadores. Por isso mesmo vos enviei Timóteo, que é meu filho amado, e fiel no Senhor; o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo, como por toda parte eu ensino em cada igreja. Mas alguns andam inchados, como se eu não houvesse de ir ter convosco. Em breve, porém, irei ter convosco, se o Senhor quiser, e então conhecerei, não as palavras dos que andam inchados, mas o poder. Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder. Que quereis? Irei a vós com vara, ou com amor e espírito de mansidão? (i Corintios 4:14-21)
A quarta metáfora ou modelo que Paulo apresenta, descreve aos pastores como pais da família da igreja. No parágrafo final, o apóstolo se refere aos corintios como “seus amados filhos”. Quiçá tenham dez mil mestres ou tutores que os disciplinem, mas não têm muitos pais que os amem. Ele foi seu “pai” no evangelho. Paulo inclusive insta aos corintios a o imitar. Em Mateus 23, Jesus disse que não deviam chamar ninguém de “pai” senão Deus. Está Paulo contradizendo os ensinamentos de Jesus? Quando o Senhor fez esta recomendação, o contexto se refere à autoridade ou a propriedade de uma pessoa a outra. Não devemos permitir que nenhum ser humano nos considere sua possessão. Só Deus é nossa autoridade absoluta. Ele é nosso Pai. Mas em sua carta, Paulo estava se referindo ao carinho, ao amor de um pai. Nesse sentido se considera a si mesmo como um pai dos crentes corintios. Quando escreve aos tessalonicenses, não somente se compara com um pai senão que lhes diz que se sente como uma mãe para aqueles a quem ajudou a nascer em Cristo.
Esta é uma bela imagem do apóstolo Paulo, um homem ao qual costumamos imaginar severo e ainda tosco. No entanto, quando fala de seu ministério pastoral, usa uma figura de tanta suavidade, afeto até sacrifício por seus filhos na fé. Sem dúvida, é legitima a disciplina na igreja, e sempre que se exerça em forma comunitária. Contudo, o apóstolo mostra que a característica principal dos pastores cristãos não é a severidade, senão mais bem a gentileza. Nos diferentes lugares nos quais tive o privilegio de estar, chego à mesma conclusão: na igreja necessitamos menos autoritarismo, menos liderança personalista, e mais afeto e bondade para com a congregação. Cremos realmente no sacerdócio de todos os crentes? As vezes o governo da igreja se parece mais ao “papado de todos os pastores”, e essa não é a doutrina evangélica. Nós que servimos a uma congregação podemos, como escrevia o ministro escocês sua própria experiência, “nos apaixonar pela congregação”. Este pastor comparava sua relação com o “florescer do coração que ocorre em qualquer outra paixão” e esta vivencia o motivava para fazer tudo para o bem daqueles a quem servia. Essa deveria ser a marca do pastor autêntico.
A humildade no serviço
Estas quatro imagens com as quais o apóstolo descreve seu ministério apostólico são aplicáveis aos ministros na igreja hoje, se bem que estes não são apóstolos. O denominador comum a estas quatro metáforas é uma atitude característica mesmo de Jesus Cristo: a humildade. O apóstolo expressa que, como líderes, necessitamos ser humildes ante o Senhor, de quem somos subordinados; humildes ante a Palavra de Deus, da qual somos mordomos; humildes ante o mundo, cuja oposição temos que enfrentar; e finalmente, humildes ante a congregação, ante os crentes aos quais amamos e servimos. Procuremos que nosso ministério se caracterize, acima de todas as coisas, pela gentileza e a humildade de Jesus Cristo. Ele é que nos chamou ao ministério e estabeleceu as normas para exerce-lo. Como líderes, estamos realmente subordinados a Cristo? Somos mordomos fiéis da sua revelação? Estamos dispostos a sofrer por Ele? Somos como um pai e uma mãe para Sua igreja? Damos graças a Deus pelo privilégio que temos: não só somos membros da Sua igreja, senão que fomos chamados a ser pastores e ministros nela. Peçamos-lhe perdão pela maneira com que não temos seguido as normas bíblicas para exercer o ministério. Procuremos ser mais fiéis no estudo e na exposição de Sua Palavra, mais dispostos a sofrer por causa do evangelho, e mais amáveis e gentis para com a congregação. Então seremos uma igreja verdadeiramente viva. O Espírito Santo se mostrará plenamente no louvor e na adoração, no amor entre os irmãos, na fidelidade à Palavra e na evangelização ao mundo necessitado.
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