quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
"Espírito e arte"
por Jaci Maraschin(in memoriam)
Quando se fala de espírito estamos em face de um termo altamente equívoco e, portanto, plurívoco. A mesma coisa acontece com o termo arte. Cada orientação filosófica, religiosa e artística entende esses termos de maneiras diferentes. Além disso, no interior de cada uma dessas condições os significados se fragmentam e “espírito e arte” passam a querer dizer qualquer coisa segundo preferências, interesses e posições. Entre os filósofos, teólogos e artistas do mundo antigo e os da pós-modernidade a gama de nuances é enorme. Os que se acostumaram com o pensamento antigo situam o espírito mais para o lado da essência e da abstração do que os pensadores atuais. Os que praticam métodos acadêmicos para a produção e, conseqüentemente, para a produção de obras de arte não consideram arte o que faz, por exemplo, Duchamp. No campo da música as repetições do minimalismo e as dissonâncias da “música nova”, por exemplo, parecem pertencer a outra categoria de criação estética se comparadas com a música harmoniosa e agradável de Bach e Mozart.
Os teólogos, entre outros metafísicos, já analisaram o significado do termo “espírito” à exaustão. Paul Tillich, por exemplo, fala até mesmo da igreja como “comunidade espiritual”. Alguns conferem-lhe certa substância e, outros, caráter divino. O deus da metafísica é um ser espiritual. Nas definições dogmáticas, essa incompreensível espiritualidade chega mesmo a se transformar na terceira pessoa da santíssima trindade com o nome de “Espírito Santo” muito embora pouco pessoal e nada concreta.
Aqui no Brasil, talvez por influência do espiritismo, de movimentos pentecostais e carismáticos e de certos tipos de protestantismo, “espírito” significa a parte assim chamada “nobre” do ser humano, capaz de agir sobre o corpo de maneira purificadora e salvadora.Nesse caso, o corpo representaria a parte baixa e vil da pessoa. Pressupõe a desencarnação até mesmo quando se afirma a encarnação. A dialética da encarnação, desencarnação e reencarnação povoa boa parte do imaginário religioso em nosso país. Nos meios teológicos o Espírito Santo pode ser identificado com o que a tradição bíblica chama de espírito de Deus, também relembrado nas aulas de nossos seminários teológicos pelo termo hebraico, ruah, ou pelo grego, pneuma. Assim o espírito é também sopro, vento, ar.
É na concepção de ar que desejo situar o conceito de espírito em relação não apenas com a religião mas principalmente com a arte. Ao proceder assim, estou dando um salto arriscado sobre o abismo que separa a metafísica e a estética do passado e a pós-modernidade. E o que estou querendo dizer também se relaciona com o conceito semelhante de “alma” tão em voga nos meios religiosos e artísticos. Boa parte da pregação evangelística concentra-se em esforços para salvar a “alma” dos pecadores. Da mesma forma, dize-se sem muita reflexão que este ou aquele artista interpreta a obra de arte a seus cuidados “com alma”. Eu costumo dizer que um bom pianista é o que toca seu teclado com as mãos e que melhor realiza o seu trabalho se possuir a necessária técnica para executar a obra que apresenta. Acho que, nesses casos, a palavra “alma” é utilizada de maneira equívoca. Talvez ajude o leitor relembrar que essa palavra, “alma”, vem do latim “anima”, raiz de nossos vocábulos, “ânimo, animação, animal, animalidade” e, conseqüentemente, com seus opostos, “desânimo, desanimação, e negação do animal e da animalidade”. Dizemos que os seres vivos são seres animados. A nossa animalidade expressa a energia vital sem a qual nos desanimamos e morremos. Quando Maria, no Magnificat, faz poesia ( isto é, anima-se a cantar a vida), declara que sua alma engrandece ao Senhor, e que seu espírito se alegra ... , está querendo dizer que seu corpo, agora cheio ( prenhe) de vida, animaliza-se e respira com o sêmen que agora começa a transformar o seu corpo no processo vital da maternidade. O Espírito é sopro, vento e ar. Que outra coisa poderiam ter sido as palavras do anjo Gabriel senão essa ventania? O ato da procriação é ato animal. Essa animalidade, sem a qual nada se cria, realiza-se por meio do vigor alimentado pelo ar. Espiritualidade significa respirar, isto é, estar vivo e viver na animação dessa vitalidade.
Lembremo-nos da lenda da criação de Adão. Sem o ar soprado por Deus ele jamais teria passado de mero pó da terra transformado em barro e moldado pelas mãos de Deus como se fosse uma escultura. Só se tornou vivo quando se encheu de ar. E só se tornou ser espiritual quando começou a respirar. Espiritualidade, então, quer dizer isto: capacidade de respirar – respiração. Na lista estabelecida por Hegel, na sua densa e extensa obra sobre o Espírito, não encontrei esse conceito. Para ele, o espírito é a mente humana em contraste com a natureza; pode ser até mesmo o elemento psicológico embutido em cada um de nós, incluindo aí a intuição, a consciência, a vontade, etc. Para alguns religiosos, espírito, como já disse seria a mesma coisa que alma. Mas todos se esquecem do ar, mesmo se o ar é tão evidente nos livros sagrados.
Em nossa época, foi Luce Irigaray, filósofa francesa, que a partir de Anaxímenes, retomou o tema do ar no pensamento contemporâneo capaz de superar até mesmo as considerações de Heidegger sobre o ser e o tempo e sobre as relações entre ser e nada. Ela chama a nossa atenção para certas qualidades do ar: está em toda parte ( não era assim que a gente aprendeu a definir Deus no catecismo e na escola dominical de nossas igrejas?, é invisível, envolve a terra, sacode as árvores, ao mesmo tempo em que se faz sentir em nossa pele. Por que será que as religiões antigas inventaram os anjos? Esses seres voadores sempre foram aéreos. Aéreos e rarefeitos. Aéreos e misteriosos como o ar. Tornaram-se, em diversas tradições, sinônimos de beleza. Foram mensageiros dessa beleza aérea. Não será aérea toda a beleza? Vocês já se deram conta de que nossas experiências com a beleza tem a ver com a respiração? Que quando ficamos ofegantes nossa respiração se modifica? Ou será que ficamos ofegantes porque a respiração se enche do novo ar emanado da beleza? Dessa beleza aérea? Em outras palavras, estou querendo dizer que a beleza é leve. Porque os anjos eram feitos de ar podiam atravessar paredes e subir e descer quando bem quisessem. Os santos antigos levitavam. Ficavam cheios de espírito, isto é, ficavam parecidos com o ar. Os anjos foram representados com asas. Botticelli até mesmo chegou a pintar anjos com asas de borboleta. As asas das borboletas são mais leves do que as dos pássaros. Não têm penas nem ossos. Essas representações da imaginação artísticas não significam exigências para a existência dos anjos. Eles nem mesmo precisariam de asas porque eram feitos de ar. Essas representações não são exigidas por eles, mas por nossa ignorância. As narrativas da descida do Espírito Santo para encontrar os apóstolos de Jesus mencionam, no dizer pictórico do livro sagrado, a experiência de um barulho “que parecia um vento soprando muito forte que encheu toda a casa onde estavam sentados” ( At 2.2). As línguas de fogo, que eles teriam visto, após, só se tornaram possíveis por causa desse vento que teria enchido a casa de ar. Não há fogo sem ar.
Embora Kant não se tenha demorado muito na consideração do conceito de espírito, afirmou que era um elemento “estimulante” da mente. Que mais pode estimular a mente do que o ar?
Leiamos o parágrafo 49 escrito por ele na Crítica da faculdade do juízo :
“Diz-se de certos produtos, dos quais se esperaria que devessem pelo menos em parte mostrar-se como arte bela, que eles são sem espírito, embora no que concerne ao gosto não se encontre neles nada censurável. Uma poesia pode ser verdadeiramente graciosa e elegante, mas é sem espírito. Uma história é precisa e ordenada, mas sem espírito. Um discurso festivo é profundo e requintado, mas sem espírito. Muita conversação que entretém, pode ser, contudo, sem espírito; até de uma mulher diz-se: ela é bonita, comunicável e correta, mas sem espírito. Que é, pois, que se entende aqui por espírito?” E responde: “Espírito, em sentido estético, significa o princípio vivificante no ânimo”. Kant, porém , não consegue fazer retroceder seu pensamento ao poder que vivifica, que é o ar.
Walter Benjamin dizia , sem entender muito bem o que estava dizendo, que a característica da verdadeira obra de arte era a aura. Que queria dizer com isso? Referia-se à sua singularidade irrepetível e irreprodutível. O grande engano de Benjamin situa-se precisamente nessa afirmação dogmática posto que não se trata de aura mas de ar. No seu conceito de obra de arte não cabem as grandes obras do cinema nem da gravura nem mesmo da escultura para não falarmos do teatro e da música sempre repetíveis e reproduzíveis. Diz-se de uma sinfonia bem tocada que se trata de uma obra de fôlego. Que quer dizer fôlego? O nosso bom Aurélio nos ajuda: 1. Respiração. 2. Ato de soprar (estou me lembrando dos músicos que tocam flauta, oboé, fagote e trompete). 3.. Capacidade de reter o ar nos pulmões (que tal Jessie Norman?). 4. Espaço de tempo para refazer as coisas perdidas. 5. Fig. Ânimo, coragem. Assim, qualquer obra de arte será sempre obra de fôlego e por causa disso nos leva a “folgar”. Em outras palavras, nos dá prazer. Acaba sendo um folguedo.
A respiração nos faz seres espirituais e animados ( isto é, cheios de alma). Somos seres que respiram e que, por isso, vivem. É na respiração e por meio dela que criamos. Assim, as obras de arte são obras do ar. Sem querer, também dizemos que elas criam certa atmosfera. Quem visita, por exemplo, em São Paulo, a Oca, no Parque do Ibirapuera, sente essa atmosfera que não está presente apenas nas obras de arte que são ali periodicamente mostradas, mas na própria arquitetura que as abriga. É do ar que vem o movimento. As partes de uma peça musical chamam-se de “movimentos” . E quando recitamos nossos poemas e dizemos nossas frases, mesmo as mais banais, só fazemos isso se abrirmos nossas bocas e se deixarmos passar por elas o ar que as alimenta.
A espiritualidade, assim concebida, relaciona-se de maneira privilegiada com as obras de arte porque nelas nada mais importa do que seu aparecimento. Entre elas e o ar não se interpõem os elementos asfixiantes que experimentamos na poluição do trânsito, no ruído das máquinas e na agitação da bolsa de valores. São como os anjos. Quanto menos pesadas mais cheias de espírito e mais condutoras da respiração. Quanto mais destituídas de sentido ( de lógica) mais espirituais. Menos carregadas de mensagens. Mais transparentes ao ar que as envolve e torna possíveis. Portanto, mais perto da vida.
É por isso, talvez, que depois da metafísica e da teologia que morreram ou que estão morrendo asfixiadas pela falta de ar sobra para a nossa alegria e fruição a arte. A metafísica e a teologia morreram ou estão morrendo porque foram encerradas em grandes caixas de metal cuidadosamente fechadas com ferrolhos e parafusos de dogmas racionais, de princípios e de fundamentos sólidos e irrefutáveis e de certezas feitas de chumbo. Foram, além disso, embaladas em sistemas feitos de tecidos infalíveis e eternos, e de postulados entrincheirados em silogismos e conceitos puros. A história da metafísica e da teologia conseguiu produzir dentro dessas caixas o vácuo da academia. São containers sem ar.
A arte é ainda o lugar que sobra em nosso mundo para a respiração. É a clareira de que fala Heidegger, possível de ser encontrada depois de se percorrer a floresta cheia das sombras do pensamento puramente racional.
O espírito e a arte relacionam-se com o rito porque nele, celebra-se gratuitamente, o estar-no-mundo. Nossos rituais estendem-se desde os religiosos até os sociais e comemorativos. São as liturgias quando libertadas dos livros de reza, os festejos populares quando desvencilhados das manipulações do comércio, e os atos de amor quando libertados das regras heterônomas impostas pelo moralismo e pelo puritanismo de igrejas e grupos sociais. A gratuidade dos ritos pode derrubar a tirania dos que querem submeter a vida humana a leis e a dogmas que contrariam a vida e o prazer de viver.
O rito é, pois, obra de arte.
Um aluno de filosofia me perguntou, à queima roupa, que era arte. Fiquei perturbado porque não queria cair na armadilha metafísica da estética e lhe dar uma definição. Escrevi-lhe, então, o seguinte:
arte é o que a gente faz quando não tem nada para fazer
e faz apenas porque sente vontade de fazer o que vai fazer
não importa o que se faz
se pego uma pedra e tenho vontade de tirar uma lasca dessa pedra
eu tiro essa lasca e isso é arte
mas se eu não pego essa pedra e não tiro essa lasca
então não fiz arte
a arte é pois inteiramente inútil
não serve para nada que seja necessário
muito embora esse fazer acabe sendo uma espécie de impulso
sem o qual eu não saberia viver
nesse caso a arte passa da inutilidade
para a realização do que em mim não tem nenhum sentido
é parecida com o brinquedo
a diferença é que o brinquedo não foi feito por mim
a arte é o que eu faço quando não tenho nada para fazer
nada que venha de fora por imposição ou dever
a arte não tem dever
não é ética
ir ao cinema, por exemplo, não é arte
é apenas fruição da arte que um outro que não eu fez
mas a fruição da arte é também inútil
a não ser se considerarmos útil a fruição
ela só serve para ser fruída
e termina aí
fazemos usos da arte
mas os usos da arte não são arte
são apenas seus usos
e o artista não tem controle sobre eles
O autor foi editor da revista Correlatio e professor de hermenêutica e estética no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UMESP. Foi Presbítero da IEAB.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
CARTA ABERTA DE DOM GLAUCO SOARES DE LIMA.
CARTA ABERTA DE DOM GLAUCO SOARES DE LIMA:
UM TESTEMUNHO
Este testemunho é dirigido às pessoas sadias, honestas e de boa vontade que ainda existem na IEAB e fora dela.
Antecedentes e Fatos
No dia 08/09/12 recebi a notícia que em Concílio da DASP o Rev. Flávio Irala havia sido eleito Bispo da mesma por 19 a 18 votos na ordem leiga e 15 a 13 votos na ordem clerical.
Diante da notícia a minha primeira atitude foi lhe telefonar e cumprimentá-lo desejando-lhe um bom episcopado.
No dia seguinte (09/09/12) soube que tal eleição havia sido maculada por inúmeras irregularidades tais como fraudes, coações, ameaças a alguns eleitores.
Acresça-se a isso a exígua maioria simples nas duas ordens, o que, convenhamos, embora canônica, não deveria existir na escolha de um bispo que é líder e pastor de toda uma Diocese, o que independentemente de nomes, deve supor um consenso que só uma maioria absoluta (montante de 2/3) deveria proporcionar.
O bispo diocesano (Roger Bird) resolveu anular a eleição, decisão com a qual eu concordei.
Depois disso, o que tem havido através da internet foram acusações e baixarias em linguagem sórdida e vil que eu não admitiria nem entre pessoas civilizadas, quanto mais entre cristãos. Diga-se, de passagem, que estas ofensas e insultos, em sua maioria, partiram de pessoas da igreja oficial, tanto da diocese, como de outras partes. A situação se agravou ao ponto de ir parar na justiça civil, o que é lamentável para uma entidade cristã.
Como consequência de tudo isso, decidi apoiar os dissidentes, visto que, acima de tudo, eu sou pastor e nesta hora difícil, fiquei ao lado daqueles para quem eu sou amigo e que estão sob os meus cuidados pastorais. Por conta os ódios se voltaram contra mim também. Fizeram-me acusações às quais não respondo, pois estou em paz com a minha consciência e com Deus.
Minha Interpretação
As pessoas atingidas, a partir do Rev. Aldo Quintão, são pessoas que cumprem com fidelidade o seu ministério e com as quais partilho meu respeito e consideração.
O Rev. Aldo é um sacerdote que tem qualidades e defeitos como todos nós. Ele tem um grande dom que é o seu carisma de atrair pessoas e formar uma grande congregação (o que é bom para a evangelização). Por causa disso ele atraiu uma doentia inveja da parte de outros clérigos colegas seus, que não tendo esses dons se veem frustrados frente ao seu indiscutível sucesso.
Ora, tudo isso é doença. Doença existencial, o que tristemente me faz constatar que a minha querida IEAB está doente e decadente. Está doença atinge desde a cúpula (Câmara dos Bispos) até a sua base, ou seja, clérigos e leigos que, sem estarem bem informados, fizeram julgamento sobre seus irmãos a quem consideram cismáticos.
Tudo isso é triste e fez com que eu peça que o Senhor cure esta gente que tanto necessita de cura divina.
São Paulo, 06 de maio de 2013.
+ Glauco Soares de Lima
Bispo da Diocese Anglicana de São Paulo de 1990 - 2002; Bispo Primaz do Brasil de 1993 – 2003.
terça-feira, 30 de abril de 2013
Reflexões sobre o Pai-Nosso
Uma conversa com o Ex-Arcebispo de Cantuária, Sua Graça D. Rowan Williams.
“Se alguém me pedir para fazer um resumo da fé cristã nas costas de um envelope, o melhor que eu poderia fazer seria escrever o Pai-Nosso”. Rowan Williams
Uma visita monitorada pelo Pai-Nosso
“Pai Nosso”
Pertencer à família de Deus
Se você analisa o Pai-Nosso por partes você dificilmente vai achar alguma parte que não encontraria em algum lugar do Velho Testamento ou em orações judaicas.
O que é absolutamente único nele, na minha opinião, é essa introdução simples “Nosso Pai” e nada mais. Nada muito elaborado ou grandioso, apenas como que se dirigindo ao pai da família.
Desse modo, então, o ponto mais marcante é que todas as partes do Pai-Nosso são colocadas nesse contexto. Essa é a oração da família de Deus. Nessa oração você se dirige a Deus com toda a intimidade, não lhe dizendo quão maravilhoso ele é, nem se prostrando perante ele de algum modo, mas se chegando a ele com inteira confiança.
E eu penso que na época de Jesus isso deve ter soado um pouco estranho, talvez até chocante.
De fato, a única coisa que todos se lembravam das preces de Jesus é que ele chamava Deus de “Pai”, “Abba”, a palavra em sua língua tão conhecida e íntima.
Ele não começa chamando Deus de “Senhor” ou “Mestre” ou “Criador”; ele inicia chamando-o de Pai.
E no Evangelho de São João, quando Jesus encontra Maria Madalena após a Ressurreição, ele diz: “Eu estou ascendendo ao meu pai e ao seu pai”.
Relações de família
Quando Jesus fala de “pais” e filhos” no meu modo de ver ele nos dá exemplos desses relacionamentos.
Pense na estória do filho pródigo...O filho que fica na casa dos pais na realidade nunca se torna um adulto. O filho que sai e se aventura, comete erros, aprende, pede desculpas, volta: seja de um modo ou de outro, ele cresce. Ele é um filho adulto do pai.
E a mim me parece que os ensinamentos de Jesus e os ensinamentos de São Paulo nos dizem que depender de Deus completamente, como de um pai, não é ficar preso em uma dependência infantil. É sim, ser capaz de correr riscos, sabendo que o Pai sempre estará lá para perdoa-lo e para lhe oferecer um novo começo.
E é assim que a gente cresce. É como a gente se torna adulto de verdade. E eu não creio que nem Jesus, nem São Paulo, nem ninguém do Novo Testamento nos quer infantis no nosso relacionamento.
E a própria vida de Jesus é a referência para isso. Ele está completamente dependente de Deus, e ao mesmo tempo, é tão livre como alguém pode ser. Livre para correr riscos; livre para encarar o sofrimento e a morte porque o Pai está lá, “Pai” é o que ele diz na cruz. “Pai, em tuas mãos eu deposito o meu espírito”.
E quando dizemos as palavras “Pai Nosso” nós devemos talvez pensar naquele pequeno incidente da Ressurreição, onde Jesus diz para um amigo e seguidor, a relação que eu tenho com Deus pode do mesmo modo também ser a sua relação com Deus. Você e eu juntos formamos um Nós para Deus.
E assim, quando você diz as palavras iniciais “Pai Nosso”, você está dizendo: Eu recebi uma participação na relação de Jesus com Deus. Eu não tenho que entender a minha relação com Deus como partindo da estaca zero. Eu não tenho que subir uma longa escada para o céu, eu fui convidado para essa relação de família, e esse é o presente com o qual toda oração se inicia.
Deste modo, estas palavras com as quais começamos, nos dizem muito a respeito de quem nós somos como cristãos e sobre as nossas doutrina e fé cristãs.
“Que estás no céu”
Quando nós continuamos e dizemos “que estás no céu”, nós estamos dizendo Céu, o lugar de Deus, o lar de Deus também é o nosso lar.
Em uma de suas cartas São Paulo diz “a nossa nacionalidade é celestial”; ou seja, pertencemos ao céu.
E o tipo de relacionamento que acontece junto com Deus no céu é um relacionamento de amor e confiança e intimidade e louvor, que pode ser nosso aqui e agora.
Palavras curtas e simples mas suficientes para nos dizer que o céu está aqui na terra por causa de Jesus e que nós podemos entrar nele.
“Santificado seja o teu nome”
“Santificado seja o teu nome” é uma das frases que nos parecem um pouco estranhas, não é mesmo? Eu tento visualiza-la contra o pano de fundo da idéia existente no Velho Testamento de que o nome de Deus é, em si próprio, imensamente bonito e poderoso. O nome de Deus é a palavra de Deus, é a presença de Deus.
E quando pedimos para santificar-se o nome de Deus, que o nome de Deus seja visto como santo, estamos pedindo que as pessoas no mundo pensem na presença de Deus entre eles com assombro e reverência, e que não usem o nome ou a idéia de Deus como uma arma para criticar as outras pessoas, ou como um tipo de mágica para se sentirem seguros. Mas sim, se aproximar da idéia de Deus, do nome de Deus, com a veneração e a humildade exigida.
O mandamento de não tomar o nome de Deus em vão, dos Dez Mandamentos, nos textos judeus ao tempo de Jesus, é muitas vezes pensado juntando-se o nome de Deus com uma maldição = usando-se o nome de Deus como se fosse uma palavra mágica = ; isso é banalizar o nome de Deus, é rebaixa-lo ao nosso nível, é tentar transformar Deus em uma ferramenta para o nosso uso.
“Santificado seja o teu nome” então quer dizer: compreenda o que você está falando quando você está falando de Deus, isso é sério, essa é a realidade mais maravilhosa e assustadora que nós poderíamos imaginar, mais maravilhosa e assustadora que nós podemos imaginar.
E o mais extraordinário é que nós podemos nos dirigir a Deus como Pai.
“Venha a nós o teu reino”
A idéia da vinda do reino estava muito próxima da pregação central de Jesus.
O reino não é um lugar ou um sistema; é um estado de atuação quando Deus está no comando. É o ato de reinar de Deus, por assim dizer. É o estado no qual se reconhece Deus na direção e dando sentido a tudo.
Deste modo, nós oramos “Venha a nós o teu reino” querendo dizer que o mundo seja transparente para Deus, que a vontade e o propósito de Deus e a natureza de Deus se mostrem em todo o seu estado de atuação, porque isso é o que significa ser rei para Deus.
Não é Deus dando ordens à torto e à direita, mas Deus sendo visível em todos os lugares, Deus se mostrando através das coisas em sua glória.
“Venha a nós o teu reino” está dizendo que o mundo se abra à profundidade do amor de Deus, que é o que realmente está na raiz de tudo.
E é o próprio Jesus que nos conta que o reino chega de modos inesperados, ele não chega junto com um grande estalo de trovão no fim dos tempos, ele cresce secretamente no nosso interior. Ele aparece em momentos pequenos e peculiares, quando as pessoas fazem coisas extraordinárias, correm riscos extraordinários e aí você pensa, sim, esta é uma vida através da qual Deus está se revelando.
E novamente as parábolas de Jesus nos falam de pessoas que desistem de tudo após um vislumbre do Reino; eles vislumbram a beleza de Deus.
Então, é isso que estamos pedindo, que o mundo mostre Deus, que Deus se mostre.
“Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”
“Seja feita a tua vontade” é muito parecido com “Venha a nós o teu reino”, é um trecho típico de poesia hebraica, o paralelo entre as duas partes da frase.
Aí nós estamos pedindo que todo o universo reaja ao presente de Deus do mesmo modo.
Nós estamos orando na versão elaborada do antigo Livro de Oração Comum; o mesmo modo que os anjos de Deus agem no Céu, nós podemos espelhar essa ação aqui na terra.
E assim dizemos que, por todo o universo a glória de Deus e a beleza de Deus são refletidas de volta para ele através das estrelas e dos planetas, pelas plantas e pelos animais ao nosso redor. O fato das coisas serem como são refletem a glória de Deus e a vontade de deus.
Infelizmente nós, seres humanos, temos uma certa falta de sensibilidade à vontade de Deus; nós temos que aprender a cantar em conjunto sem desafinar.
Em algum lugar, em um outro nível de realidade, a vontade de Deus se faz. Não muito bem entre nós, seres humanos, aqui na terra, e então nós estamos pedindo para ficarmos afinados, que não sejamos só nós cantando desafinados no grande coro do universo.
“O pão nosso de cada dia nos dás hoje”
Rios de tinta já foram gastos a respeito do significado exato de “o pão nosso de cada dia nos dás hoje”, porque a palavra originalmente usada em grego é uma palavra muito, muito estranha, que raramente a gente vai achar em algum outro lugar.
Provavelmente significa de cada dia, provavelmente significa a matéria que nós precisamos para sobreviver, mas algumas pessoas na igreja primitiva entendiam como sendo o pão que queremos para amanhã ou mesmo o pão de amanhã, “dá-nos hoje o pão de amanhã.”
E eles pensavam que isso poderia significar nos proporcionar hoje o sabor do pão que iremos comer no Reino de Deus. Deixe-nos experimentar o gostinho do grande banquete e da celebração quando o universo converge por Cristo na presença de Deus, o Pai.
E para muitos cristãos isso tem a ver com a Santa Comunhão. Claro, de um certo modo a Santa Comunhão é pão para hoje, é sim o nosso pão de cada dia, é a comida que precisamos para ir em frente; mas é também a antecipação do sabor do pão do céu, uma antecipação do sabor do prazer da presença de Jesus no céu à sua mesa, em seu banquete, como está nos evangelhos.
Observam-se assim muitos significados, muitas camadas. Mas eu não acho que a gente precisa se ater a apenas um significado específico. Este significado simplificado vamos em frente, dá-nos o que precisamos é tudo o que precisamos para continuar indo em frente. E aí, quando continuamos a analisar, então nós nos perguntamos: e aí, o que é que nós realmente precisamos?
Nós não “vivemos apenas de pão”, disse Jesus, “mas de todas as palavras que vêm da boca de Deus”.
Nós não vivemos apenas no processo de satisfazer as nossas necessidades materiais; nós precisamos mais do que isso, e uma das coisas que mais precisamos é esperança, a esperança para o futuro.
E então aí de algum lugar começa a surgir a forma de uma idéia, a sombra da idéia de que isso também é pão para amanhã, o pão de amanhã.
“Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”
“Perdoa as nossas dívidas” de certo modo é a parte mais difícil do Pai-Nosso porque nos diz claramente que orar é também querer modificar-se.
E é preciso muita coragem para colocar-se frente a Deus e dizer perdoe-me porque eu perdoei alguém. E eu nem sempre me sinto na posição de fazer esse tipo de exigência para Deus. Eu acho que, na realidade, esta parte está nos dizendo que, pensando como Deus nos perdoa então nós aprendemos a perdoar.
Isso nos faz lembrar que a nossa capacidade de perdoar vem do fato de que nós estamos conscientes do perdão de Deus para conosco e que nós nunca conseguiremos perdoar ninguém enquanto isso não for totalmente compreendido. E não vale a pena nos dirigirmos a Deus falando me desculpe, eu ainda nem comecei a ouvir o que quer dizer perdão, eu não sei o que esta palavra significa.
Jesus nos conta aquela ótima estória do servo do rei, ao qual é perdoada a sua dívida e que, logo em seguida, esse mesmo servo coloca outro na prisão por uma dívida de pequeno valor. E ele sublinha o ponto de que você não pode receber perdão se você mesmo não perdoa; você se faz incapaz de receber perdão.
De um certo modo é um círculo vicioso de eu não perdôo eu não posso ser perdoado. Se eu não consigo escutar a palavra de perdão e deixa-la realmente me modificar, então eu não serei capaz, eu não serei livre para perdoar; essa é uma oração muito séria sobre o perdão.
Existe uma imagem maravilhosa sobre isso, de um dos primeiros pais da igreja. Ele nos diz que é como tentar ensinar a uma criança como fazer algo. O pai faz isso com cuidado várias vezes. Aí, ele pára e diz agora você faz sozinho. Deus nos perdoa e então pára e diz agora você me mostra como se perdoa.
“E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”
Em primeiro lugar eu acho que nós podemos ver isso no contexto do tempo de Jesus.
Os seus ensinamentos muitas vezes tocam nesse ponto, de que está chegando um grande tempo de julgamento. Um tempo no qual a gente vai descobrir do que a gente é realmente capaz, como muitas vezes se diz, de que você só sabe do que alguém é realmente capaz de fazer quando está sob pressão. Estamos indo em direção a um tempo no qual você vai ter que decidir o quanto Deus é importante para você; você vai ter que colocar a sua vida no jogo de verdade.
E Jesus como que nos diz não pense que você sabe a resposta para este tipo de questão. Não tenha tanta certeza de que você sabe o quanto você é realmente capaz. Peça para que você tenha os meios necessários para lidar com o julgamento que está vindo, que é quando as coisas vão ficar realmente difíceis.
As palavras “não nos deixe cair em tentação” parecem que não exprimem bem esse pensamento porque tentação, para nós, no geral significa apenas um tipo de impulso para fazer coisas pecaminosas ou indignas.
Mas a palavra tem um significado muito maior quando vista em seu contexto: ela se refere a esse enorme julgamento que está chegando, a essa enorme crise que está chegando. Não nos coloque na crise, Deus, por favor não nos empurre para o tempo da crise antes de nos deixar bem preparados para ela. Não nos leve para lá antes de nos dar o que necessitamos para encara-la.
E eu acho que é uma oração muito boa de ser feita, porque existem, para todos nós, tempos de crise nos quais a gente se vê como a gente realmente é, e isso nem sempre é agradável e nós nos damos conta de que não estamos à altura dela.
Deste modo, vale a pena pedir a Deus dê-nos o que nós precisamos para enfrentar a crise quando ela chegar, e Deus, por favor, não deixe que nós sejamos colocados nela muito cedo.
E então, novamente, está conectado com livra-nos do mal, liberte-nos. Livra-nos de todas estas coisas, os medos, os pecados, os hábitos egoístas que nos mantém prisioneiros e que nos tornam incapazes de enfrentar a crise.
Novamente, provavelmente o significado original era salve-nos do Maligno. Pois são nos tempos de crise que o Diabo, o inimigo da humanidade, aproveita para agir. Ele deve estar se divertindo agora, porque em tempos cheios de medos e de inseguranças o Diabo aproveita para nos manipular, intensificando e reforçando o que há de mais não-humano em nós.
E as pessoas de agora podem ou não acreditar no Diabo como um ser; mas eu acho que essa idéia faz sentido, o princípio ou o poder do mal vindo para se aproveitar da nossa fraqueza e do nosso medo. E eu posso muito bem pedir que me livrem disso.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
No princípio, Deus.
“No princípio Deus”. As três primeiras palavras da Bíblia são mais que uma introdução à história da criação ou ao livro de Gênesis. Elas fornecem a chave que abre a nossa compreensão da Bíblia como um todo, revelando-nos que na religião bíblica a iniciativa é de Deus.
Ninguém consegue surpreender Deus. Não podemos nos antecipar a ele. Ele sempre faz o primeiro movimento. Ele está sempre ali, “no princípio”. Antes que o homem existisse, Deus agiu. Antes que o homem se movesse para buscar a Deus, Deus buscou o homem. A Bíblia não mostra o homem tateando em busca de Deus; o que vemos é Deus alcançando o homem.
Muitas pessoas imaginam Deus como alguém assentado confortavelmente em um trono distante, remoto, isolado, desinteressado e indiferente às necessidades dos mortais, até que alguém consiga aborrecê-lo a ponto de fazê-lo agir em seu favor. Uma visão assim é totalmente falsa. O Deus revelado pela Bíblia é um Deus que saiu em busca do homem, muito antes que o homem pensasse em voltar-se para Deus. Enquanto o homem ainda estava perdido na escuridão e mergulhado no pecado, Deus tomou a iniciativa, ergueu-se de seu trono, deixou de lado a sua glória, e inclinou-se para procurá-lo, até encontrá-lo.
A iniciativa e a soberania de Deus podem ser vistas em várias situações. Ele tomou a iniciativa na criação, trazendo o universo e seus elementos à existência: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. Ele tomou a iniciativa na revelação, manifestando à humanidade sua natureza e sua vontade: “Havendo Deus outrora falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho”. Ele tomou a iniciativa na salvação, vindo em Jesus Cristo para libertar homens e mulheres de seus pecados: “[Deus]… visitou e redimiu o seu povo”.
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Rev. John Stott
– Trecho do capítulo 01 (“A abordagem correta”) de Cristianismo Básico, Editora Ultimato, março de 2007.
domingo, 28 de abril de 2013
Sob a Palavra, no mundo.
Começo com um comprometimento com a Bíblia como “Palavra escrita de Deus”, que é a sua descrição nos artigos anglicanos e como ela tem sido recebida por quase todas as igrejas até recentemente. Essa é a pressuposição básica deste livro; não faz parte do meu objetivo aqui argumentá-la. Mas nós, cristãos, temos um segundo comprometimento, com o mundo no qual Deus nos colocou. E nossos dois compromissos muitas vezes parecem conflitantes. Por ser uma coleção de documentos que se relacionam a eventos distantes e particulares, a Bíblia dá uma impressão arcaica. Parece incompatível com nossa cultura ocidental, com suas sondas espaciais e microprocessadores. Como qualquer outro cristão, me sinto preso na dolorosa tensão entre esses dois mundos. Eles estão há séculos de distância. Todavia, tenho procurado resistir à tentação de me afastar de qualquer um deles em sujeição ao outro.
Alguns cristãos, ansiosos, sobretudo por serem fiéis à revelação de Deus sem concessões, ignoram os desafios do mundo moderno e vivem no passado. Outros, ansiosos por reagir ao mundo ao seu redor, podam e torcem a revelação de Deus em sua procura por pertinência. Tenho lutado para evitar ambas as armadilhas. Pois o cristão tem uma condição livre, que lhe permite não se render à antiguidade nem à modernidade. Pelo contrário, tenho procurado com integridade submeter tudo à revelação de ontem, dentro das realidades de hoje. Não é fácil aliar lealdade ao passado com sensibilidade ao presente. Porém, esse é o nosso chamado cristão: viver, sob a Palavra, no mundo.
John Stott – Trecho do Prefácio da primeira edição de “Issues Facing Christians Today”.
sábado, 27 de abril de 2013
Salve John Stott!
Rev. John Robert Walmsley Stott, (27 de abril de 1921 – 27 de julho de 2011 ) foi um líder anglicano britânico, conhecido como uma das grandes lideranças mundiais. Foi um dos principais autores do pacto de Lausane, em 1974. Em 2005, a revista Time classificou Stott entre as 100 pessoas mais influentes do mundo. Obra: Serviu como Presidente da All Souls Church em Londres desde 1950. Estudou na Trinity College Cambrigde, onde se formou em primeiro lugar da classe tanto em francês como em teologia, e é Doutor honorário por varias universidades, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá. Uma de suas maiores contribuições internacionais são seus livros. John Stott começou sua carreira de escritor em 1954, publicando mais de 40 livros e centenas de artigos, além de outras contribuições à literatura cristã.
sexta-feira, 12 de abril de 2013
A Presença Anglicana em Franca SP, vinculada pastoralmente e espiritualmente à Paróquia de Todos os Santos(All Saints´Church), à Catedral Anglicana de São Paulo e aos Bispos Anglicanos Dom Roger Douglas Bird e Dom Glauco Soares de Lima, referenda o comunicado emitido pela Junta paroquial da Catedral no dia 17 de março de 2013. Reafirmamos a nossa pertença à Comunhão Anglicana, através dos laços fraternais que unem a Comunidade Anglicana de Franca com a Catedral Anglicana de São Paulo.
nEle,
Tiago Bastos, OSB. Ministro associado da Paróquia Anglicana de Santos-SP.
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