quinta-feira, 2 de junho de 2011
A Piedade Anglicana
Dom Luiz O. P. Prado, sub-prior da Congregação de Oblatos Anglicanos de São Bento -OASB e membro da Câmara dos Bispos da IEAB.
"Portanto, santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus. Guardai os meus mandamentos, e cumpri-os: Eu sou o Senhor que vos santifico". Levítico 20:7-8
A piedade Anglicana é uma das marcas que herdamos da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica. É um carisma derivado da Encarnação de Deus em nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, sendo Católica, a piedade Anglicana é uma espiritualidade encarnada. Vivemos como povo do Sacramento dos santos mistérios do Corpo e Sangue do Senhor. Igreja Eucarística, ela nutre e desenvolve em seus filhos um viver atento - de escuta, obediência e resposta. Reconstituímos em nós o ideal anglicano do "viver e morrer santamente", em meio ao que há de mais crucial neste mundo humano, individualista, injusto e violento.
A Igreja não resulta de "atividades". Sua motivação primeira não a de ser "humanitária". Ela é anunciadora e a guardadora da revelação de Deus. Mãe e Mestra, vive e trabalha com os santos mistérios de Deus. Não somos "imago Dei" porque temos carne e sangue! Antes, recebemos em nós a "faísca" divina, o poder do uso da razão, a capacidade de escolha e o dom do amor. Todos, de uma ou de outra forma, refletimos algo de Deus. Por Ele fomos criados para uma vida de comunhão, com Ele mesmo e uns com os outros.
Pelos olhos da fé, olhamos para o Senhor e antevemos o que o ser humano pode ser - o que Deus espera sempre de nós. Ao mesmo tempo contemplando o Cristo, discernirmos os traços do rosto do Pai. É aí que a Fé Cristã fica sozinha. Central é, para nós, a certeza de que Deus se fez homem. Em Cristo vemos o que Deus oferece à humanidade - e o que a humanidade pode esperar de Deus.
Sem uma firme convicção na santa Encarnação de Deus, e na consequente vida sacramental da Igreja, não pode haver verdadeira paz, justiça, saúde, integridade da Criação, esperança e boa vontade entre os seres humanos. Não temos, como cristãos, andado o caminho todo. Não temos pronunciado "Creio" com total convicção. O ato da fé é dom de Deus, pelo qual precisamos rezar e pedir. O "ethos" litúrgico anglicano, nutrido e discipulado pelo Livro de Oração Comum, é nossa fonte mais eficaz para uma fé adulta, santa e contemporânea.
"Nada há que santifique tanto o coração, que nos guarde em amor, oração e alegria habitual em Deus; nada que seja capaz de aniquilar as raízes do mal em nossa natureza, que renove e aperfeiçoe tanto as nossas virtudes, que nos encha de tanto amor, bondade e caridade para com todas as criaturas - como esta fé de que Deus está sempre presente em nós, com Sua luz e seu Santo Espírito". William Law, teólogo ascético anglicano (1686-1761)
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